domingo, 15 de março de 2015

EU, MEU AMIGO E O ARMÁRIO!

Nota 7,5 Comédia romântica baseada em longa francês é uma excelente pedida desconhecida

Apesar de muitos decretarem a morte do mercado de vídeo doméstico há anos, as vezes acontecem coisas que nos fazem crer que ele ainda tem muito a nos oferecer apesar das dificuldades. Entre 2006 e 2008, diversas distribuidoras novas surgiram, claro que oferecendo produções mais modestas, desconhecidas e sobrevivendo apenas com a venda de produtos lançados diretamente em DVD sem passagem pelos cinemas. Algumas delas seguiram adiante com o mesmo modelo de negócio e outras infelizmente não ficaram nem um ano em atividade. Apesar de muitos títulos de gosto duvidosos que as empresas precocemente falidas trouxeram para o Brasil, há também algumas pequenas surpresas que passaram despercebidas e que merecem serem descobertas. Este é o caso de Eu, Meu Amigo e o Armário!, escrita e dirigida por Dave Diamond que se inspirou em O Closet, produção francesa que fez muito sucesso nos circuitos alternativos de cinema. Tão eficiente quanto uma comédia romântica protagonizada por Julia Roberts ou Jennifer Lopez, o título em questão é uma divertida opção que, como o próprio título denuncia, trata sobre o homossexualismo, mas de uma forma leve e respeitável. O enredo nos apresenta a Dave (Jay Harrington), um advogado na casa dos trinta anos que divide um apartamento com o amigo Christopher (Michael Ian Black), um gay assumido. Devido ao fato de morarem juntos, surgem rumores de que eles formam um casal de verdade. Inicialmente, o rapaz, hétero convicto, tenta desfazer o mal entendido, mas logo muda de opinião visando lucrar com os boatos. Sua empresa está trabalhando em um caso de discriminação no ambiente de trabalho por causa de orientação sexual e uma pessoa considerada muito sensível seria perfeita para ajudar a ganhar a causa. Quem conseguisse esse feito iria firmar sociedade com Matthew (Sal Rubinek), o chefe do escritório. Já que está com a fama, por que não aproveitá-la? Fingindo realmente ter um caso com Christopher e conquistando a confiança do chefão, tudo parecia caminhar bem para o rapaz, isso se não fosse pela impertinência de Katherine (Julie Bowen), uma mulher sem escrúpulos que também está de olho na possibilidade de ser sócia do escritório e fará de tudo para impedir que seu rival leve sua mentira adiante. As coisas complicam quando a filha de Matthew, Lucy (Brooke Langton), balança o coração do advogado. Mesmo com um histórico de conquistador de belas mulheres, ele precisa levar adiante a farsa de que antes vivia confuso quanto aos seus sentimentos e que agora realmente é feliz assumindo sua homossexualidade. Pode se dar bem profissionalmente, mas assim ele estaria abrindo mão daquela que poderia realmente ser a mulher de sua vida.

Esta é mais uma daquelas agradáveis surpresas que somente temos acesso se caso a curiosidade falar mais alto ou através de indicações. Muita coisa lançada diretamente para locação ou venda direta ao consumidor revela-se bem melhor que badaladas produções do cinema, mas o preconceito que ainda impera acerca de filmes desconhecidos e cujo elenco também não seja famoso nos impede de curtir muita coisa que vale a pena. Seguindo uma linha narrativa parecida com a de Imagine Eu e Você, que aborda o lesbianismo, este filme também adota um tom romântico, mas investe mais no humor, porém, muito sutil, inteligente e sem piadas escatológicas ou apelativas. Todo o elenco tem o seu momento de brincar de fazer rir, mas quem tem as melhores tiradas são Tom (Josh Cooke) e John (Jay Paulson), dois funcionários também da empresa de advocacia. Vira e mexe eles entram em cena comentando as atitudes do colega Dave, mas não de forma pejorativa, pelo contrário, eles tentam compreender o universo gay e acabam caindo em contradição passando a duvidar da própria sexualidade. A mentira está sendo desenvolvida com tanto perfeccionismo que até mesmo o protagonista também passa a questionar se não seria mesmo homossexual devido as suas condições e hábitos de vida, desconstruindo um pouco o estereótipo negativo que muitos têm destas pessoas e até mesmo dos homens que são mais vaidosos ou estão solteiros mesmo passando da casa dos trinta anos. Apresentando uma visão muito mais verossímil e aceitável da vida dos gays, mas com um humor que certamente conquista qualquer espectador adepto do gênero independente da orientação sexual, o longa prova que não é preciso ter um elenco repleto de astros para realizar um bom trabalho, mas sim pessoas talentosas e um roteiro caprichado. Eu, Meu Amigo e o Armário! é uma produção que certamente não é revolucionária tampouco excepcional, mas é uma pequena e desconhecida jóia em meio a tantas comédias de mau gosto lançadas todos os anos e que usam e abusam da discriminação para gerar risadas fáceis de plateias desatentas ou declaradamente descerebradas. Infelizmente, a distribuidora do longa no Brasil parece que fechou as portas após um curto período de vida, mas ele ainda deve ser encontrado em boas lojas ou locadoras que dão o devido valor a um bom filme. Achá-lo é um trabalho de garimpo, mas vale muito a pena. Quem sabe alguma outra empresa se interesse em breve trazer de volta ao mercado esta pérola, no bom sentido.

Comédia - 91 min - 2005

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