sábado, 21 de março de 2015

CÃO DE GUARDA

Nota 4,0 Produção modesta envelheceu e nem mesmo o protagonista lhe dá muito valor

Suspense, ameaças, intrigas e até um sequestro. Esses são elementos bastante típicos de tramas policiais, mas em Cão de Guarda são diluídos em um roteiro que pretende mais fazer humor do que deixar o espectador roendo unhas ou brincando de detetive. Pretende é a palavra certa. Esta comédia até que funciona na telinha (bem hoje em dia pode ser no telão de casa também), mas na época do lançamento não rendeu nas bilheterias e foi um tremendo fiasco também de críticas. É um trabalho pouco lembrado do grande Jack Nicholson, o próprio não exalta essa obra em sua filmografia, todavia um filme que merece uma revisão por parte do público. Realmente o ator neste caso não faz um trabalho excepcional e ocupa um papel que poderia ser entregue a qualquer um com fama de coadjuvante, todavia, não é nada mal ver o veterano em sua época áurea, mesmo que em uma produção menor, ainda mais em tempos em que o ator praticamente se aposentou. O enredo de Carole Eastman nos apresenta à soprano Joan Spruance (Ellen Barkin) que tem motivos de sobra para temer seu futuro, pois está se separando do marido e precisa aprender a lidar com sua nova vida de solteira. Para piorar, o seu apartamento é invadido e totalmente destruído. O episódio não parece ser apenas uma coincidência que ocorreu em um momento ruim de sua vida e está convencida de que alguém que ela conhece provocou isso, só não sabe quem. Ela acredita se dar bem com todo mundo, mas, por via das dúvidas, resolve deixar sua casa e vai morar com a irmã, Andy Ellerman (Beverly D´Angelo), uma mulher um tanto atrapalhada que também não está se sentindo segura, pois foi ameaçada pelo ex-marido Redmond Layls (Harry Dean Stanton), um dos homens mais ricos do território norte-americano. Ela não precisaria nem se lembrar dele, exceto por um detalhe: ela escreveu um livro sobra a intimidade e os negócios escusos do ex-marido e ameaçou publicar tudo na íntegra. Assim, para não ser perseguida, ela prefere sair de casa e a residência agora fica na responsabilidade da irmã, esta que passa a receber telefonemas e notícias informando sobre um serial killer que está assassinando mulheres na região de Los Angeles.

Para se proteger, Joan procura a ajuda de Harry Bliss (Jack Nicholson), dono de uma loja que adestra cães para o trabalho de vigia. Com a desculpa que precisa treinar e acompanhar a adaptação do cão de guarda que aluga para ela, cada vez mais o dono da loja se aproxima desta mulher e se envolve em uma rocambolesca trama policial sem perceber já que Layls arma o rapto de Andy para evitar o lançamento do livro que poderia destruir sua boa reputação perante a sociedade. Nicholson aceitou participar desta modesta produção por gratidão, política da boa vizinhança. A direção ficou a cargo de Bob Rafelson, cineasta com o qual trabalhou diversas vezes e que o ajudou a galgar os primeiros degraus da fama quando indicou o astro ao diretor Dennis Hopper para o elenco de Sem Destino, que então era a grande chance do veterano intérprete no cinema. A história conta realmente com um cão treinado para o serviço de guarda-costas, o pastor alemão Duke. Porém, o roteiro passa longe de ser infantilizado e repleto de animais fofinhos para emocionar o público. O humor ácido é um convite aos adultos para uma divertida sessão, desde que você preste atenção nos diálogos e não se importe com o visual datado. A história que aparentemente pode parecer simplória acaba se transformando em um roteiro bem interessante, embora mal conduzido pela direção, caracterizando-se assim um trabalho que não é surpreendente e nem está a altura do elenco, porém, hoje em dia as opções de comédias para um público mais seleto e adulto são tão escassas que voltar a atenção para os títulos do passado como Cão de Guarda pode ser uma boa alternativa, ainda mais quando eles são pouco conhecidos e não passam à exaustão na televisão. Pelo menos, aos nostálgicos, o aspecto envelhecido da produção pode prender a atenção e ainda esta é a chance de matar as saudades das atrizes com quem ele divide as cenas, Ellen Barkin e Beverly D´Angelo, figuras raras no cinema ultimamente. Opção para ser revista pelo público e de preferência sem pensar que o protagonista é um dos intérpretes mais aclamados de todos os tempos. Isso deve ajudar o espectador a ver o filme com um olhar mais brando, sem ser muito crítico e perdoando a perda de ritmo da narrativa que precisa alinhavar muitas tramas e por vezes perde o fio da meada tornando-se enfadonho.

Comédia - 100 min - 1992

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