Nota 4,0 Excesso de nomes e diálogos prolixos prejudicam obra tecnicamente perfeita
O cinema
francês costuma investir em vários gêneros, mas os dramas e os romances ainda
são o carro-chefe de sua cinematografia. Contudo, é preciso valorizar as
tentativas de surpreender com algo diferente. É uma pena que as vezes nem com
muita vontade isso seja possível como no caso de Brigadas do Tigre,
produção de época até difícil de classificar em uma categoria específica. Tem
drama, romance, toques de ação e de thriller policial e um visual caprichado
digno de épicos, porém, é enfadonho do início ao fim. A história roteirizada
por Xavier Dorison e Fabien Nury é baseada em um seriado de TV de Victor Vicas
que foi sucesso na França entre meados dos anos 70 e 80, mas inédita no Brasil.
A trama começa no ano de 1907 durante a chamada Belle Époque, período em que
uma onda de crimes sem precedentes estava aterrorizando o território francês.
Os anarquistas entram em ação promovendo atos criminosos como forma de
protestar contra a assinatura da Tríplice Aliança, um pacto entre a França, a
Inglaterra e a Rússia a fim de combater o perigo alemão, a gota d’água para o
início da Primeira Guerra Mundial. Para combater os vândalos, o Ministro do
Interior George Clemenceau, conhecido como Tigre, decide criar uma força
policial móvel. Brigadas do Tigre era um grupo formado por homens bem treinados
para usar a força e manusear armamentos que não mediam esforços para cumprir
seus objetivos de proteger a população. O príncipe russo Radetsky Bolkonski
(Aleksandr Medvedev) está prestes a chegar a Paris acompanhado de sua esposa
Constancia (Diane Kruger) para assinar o acordo político entre os países e
obviamente é um alvo potencial dos anarquistas liderados por Jules Bonnot
(Jacques Gamblin). A Brigadas do Tigre então é chamada para fazer a segurança
do nobre casal, mas conforme o comissário Valentin (Clovis Cornillac), o mais
destemido do grupo, começa a ficar mais próximo dos seus protegidos ele vai
descobrindo segredos que o envolvem em uma perigosa trama política e de
traição. Resumidinho assim o enredo é compreensível e poderia indicar um bom
filme, mas infelizmente o resultado final é confuso e desinteressante. Pelo
menos é uma ação que nos poupa de banhos de sangue, mas por outro lado a
pancadaria rola solta.
O diretor
Jérôme Cornuau certamente estava cheio de boas intenções e disposto a fazer uma
obra que marcasse época, tanto que se cercou de um elenco talentoso e não mediu
esforços para criar ambientações que conseguissem fazer o espectador
literalmente viajar no tempo. Além disso, o enredo traz todos os ingredientes
necessários para um longa de ação elegante e interessante, mas os problemas já
são notados desde os primeiros minutos. A formação da tal brigada móvel é
explicada através de um texto de introdução, já evitando um pleno envolvimento
do espectador. Em seguida muitos personagens começam a surgir, mas suas
caracterizações muito parecidas podem confundir. Um bando de homens vestindo
ternos praticamente idênticos e sem personalidades pré-definidas não ajudam em
nada a prender a atenção, até porque os diálogos que travam soam confusos. Até
mais da metade do filme muitos nomes surgem, alguns apenas citados sem os
personagens aparecerem, mais um ponto que dificulta o entendimento da narrativa.
O espectador fica sentindo-se passivo diante de uma trama aparentemente
complexa e é muito fácil desistir de acompanhar a obra pelos seus primeiros
vinte minutos, mas os interessados em história podem se animar e quem fizer pé
firme até os créditos finais certamente conseguirá observar a premissa como
exposta aqui. De um argumento muito simples tentaram criar um filme muito além
de suas possibilidades montando um ineficiente e entediante quebra-cabeças. São
muitos os excessos narrativos para no fundo contar uma história convencional
envolvendo amor e poder, todavia, vale uma ressalva a interessante sequência em
que Constancia narra a história de “Ivã, o Terrivel”, lenda russa que ela
estava ensaiando em formato de ópera e cujos acontecimentos seriam metáforas
aos acontecimentos daquele período. Baseado em fatos reais, Brigadas
do Tigre infelizmente é um daqueles filmes que ficamos com dó de tecer
críticas negativas, mas realmente é impossível chegar ao fim com a sensação de
plena satisfação. Economia de tempo e de blá-blá-blá seriam benéficos ao
conjunto.
Ação - 122 min - 2006
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