Nota 4,0 Apesar do início estranho, romance entra nos eixos, mas é tocado em banho-maria
Os tempos mudaram, a instituição
do casamento já não tem mais o peso de antigamente e o cinema está sempre
tentando compreender as mentes e sentimentos das novas gerações repletas de
adeptos da solidão ou parceiros múltiplos. Se amarrar a alguém parece uma
alternativa apenas em último caso e geralmente colocando na balança outros
valores, sendo o amor talvez o requisito de menor valor nas relações modernas e
o respeito ao individualismo a prioridade. Baseado no livro de Carol Shields, República
do Amor conta uma história romântica que explora o fascínio, os dilemas
e as barreiras de uma relação a dois. Tom Avery (Bruce Greenwood) é um locutor
de rádio que tem um programa nas madrugadas destinado a ouvir lamentações e
questionamentos, principalmente de ordem sentimental, de ouvintes insones. Ele
teve uma infância pouco convencional com pais liberais e provavelmente isso
influenciou sua vida amorosa, visto que ele já foi casado três vezes e hoje
prefere encontros casuais apenas para satisfação sexual. Já Fay McLeot (Emilia
Fox) é uma pesquisadora que está mais focada em seu trabalho dedicando-se a
escrita a respeito de uma tese sobre o mito das sereias. Ela está entediada com
seu atual namorado, a relação caiu na rotina. Quando aceita o convite de um
amigo para uma festa, Tom conhece e se interessa por Fay e a recíproca é das
melhores. Após algum tempo longe por conta de uma viagem da moça, os dois se
reencontram e engatam um namoro que parece perfeito, porém, cada um tem seu
próprio espaço, sua maneira particular de ver o relacionamento. Já quarentão,
possivelmente Tom vê o casamento como uma necessidade, tanto para cessar
especulações sobre sua vida “desregrada” quanto para contar com o apoio de
alguém no futuro, tal qual seus pais vivem em harmônio auxiliando um ao outro
na velhice. Já Fay deseja o casamento perfeito assim como de seus pais que
mesmo após tantos anos de união aparentam manter o amor bem acima do simples
respeito e solidariedade. Todavia, essa utopia pode arruinar seu relacionamento
atual quando surge uma frustração em seu caminho.
Apesar do argumento atual e
interessante, o longa foi lançado no Brasil diretamente em DVD, o que é
justificável quando chegamos aos créditos finais. A diretora Deepa Mehta,
indiana radicada no Canadá, que também assina o roteiro em parceria com Esta
Spalding, realiza uma obra irregular e sem um propósito bem definido no final
das contas. A rigor ela queria falar sobre como a localização é um fator
importante para o sucesso de um relacionamento, enfatizando que os
protagonistas viviam em um mesmo edifício em Toronto, mas a correria do
dia-a-dia adiou tal encontro e os forçou a fazer escolhas erradas procurando
pessoas fora de seu ambiente de trânsito. Contudo, os primeiros minutos vendem
a ideia que a intenção seria apostar em um labirinto amoroso visto os vários
personagens e nomes que surgem deixando no ar que existem ligações entre eles,
mas conforme a narrativa avança as coisas vão se afunilando até que as atenções
recaiam somente sobre os protagonistas, assim a introdução resume-se a um erro
que só serve para confundir o espectador e até mesmo forçá-lo a desistir de
acompanhar a obra. Quando cai no romance convencional, a trama torna-se mais
envolvente, mas jamais chega a ser algo que empolgue pelo fato de que pouco
acontece até chegarmos ao real conflito da fita deflagrado já próximo da
conclusão. Nem mesmo a coincidência de Fay conhecer as três ex-mulheres do namorado
é explorado para injetar humor a trama. No conjunto, sem negar suas origens de
produção independente, República do Amor é uma opção para
os amantes de fitas românticas quando não há melhores opções, com o risco de
desagradar até mesmo tais fãs já que a o curso da trama parece fazer questão de
distanciar quem assiste de seus personagens. De qualquer forma, o longa foi bom
para Greenwood, ator geralmente relegado a papéis coadjuvantes, que aqui
sustenta o filme com seu protagonista com comportamento e emoções genuínas, um
contraponto a sua parceira que, mesmo existindo química entre eles, oferece um
interpretação menos carismática e por vezes digna de mocinhas sonhadoras, o que
não condiz com seu estilo de vida.
Romance - 106 min - 2003
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