Nota 3,0 Feito para atriz principal brilhar, comédia é rasteira e com argumento mal desenvolvido
Quem é Melissa McCarthy? Até o
sucesso de Missão Madrinha de Casamento,
que lhe rendeu uma inesperada indicação ao Oscar como coadjuvante, ela era
apenas uma ilustre desconhecida, aquela gordinha engraçada que você sabe que já
viu em algum filme ou série, mas cujo nome não sabia ou lembrava. Sua primeira
cena em A Chefa, coincidência ou não,
lembra bastante a postura da atriz em aparições públicas após as indicações a
prêmios: cheia de marra e vendendo a imagem de uma pessoa vitoriosa e amada por
todos. Michelle Darnell, sua personagem, faz a abertura do show de um rapper e
é ovacionada por milhares de pessoas inebriadas por sua aura de sucesso. Dona
de várias empresas e autora de um best-seller de auto-ajuda, ela faz questão de
destacar que se tem muito dinheiro e poder é graças a muita dedicação ao
trabalho, mas nos bastidores ela é odiada por aqueles que são obrigados a
conviver com sua tirania e futilidade. Claire (Kristen Bell), sua assistente há
anos, nunca reclamou dos mandos e desmandos, mas está aguardando uma promoção
faz tempo e quando decide colocar a empresária contra a parede é tarde demais.
Investigada em um caso de corrupção e espionagem empresarial, a magnata que até
então se considerava intocável e que tudo seu dinheiro poderia comprar acaba
indo parar atrás das grades. Meses depois lhe é concedida liberdade
condicional, mas agora todo seu patrimônio está confiscado e apenas Claire que
tanto humilhou e explorou é quem oferece ajuda, muito por insistência de Rachel
(Ella Anderson), a filha pequena de sua ex-colaboradora que é mãe solteira.
Michelle então vai morar por alguns dias no pequeno apartamento delas, mas
espaçosa como ela só a estadia acaba se estendendo a perder de vista e a
convivência inicialmente é bastante conturbada. Contudo, o roteiro simplifica
tal relação ao máximo e num passe de mágica a harmonia reina absoluta entre elas a ponto
de firmarem uma sociedade para venderem brownies, a especialidade de Claire na
cozinha.
Tentando transmitir edificantes
mensagens a respeito de valorização das amizades, humildade, solidariedade e
outras coisas positivas, o roteiro de Steve Mallory com pitacos de McCarthy e
de seu marido Ben Falcone, também diretor da fita, acaba se perdendo em meio a situações
previsíveis e gags visuais nem sempre funcionais. É nítido que o filme foi
feito para a protagonista brilhar, assim como Tammy, projeto anterior do casal, mas talvez ela tenha levado isso
ao pé da letra e exagerou no histrionismo. O enredo simplesmente joga na tela
uma personagem rechonchuda, com visual espalhafatoso e escandalosa. Não há
construção de um perfil bem delineado. Um prólogo mal ajambrado nos revela que
na infância Michelle vivia de idas e vindas para um orfanato, sempre rejeitada
pelas famílias que tentavam adotá-la, o que revela seu gênio forte e indomável.
Poderia ser uma história de superação, mas o comportamento da personagem adulta
deixa explícito que enriqueceu pisoteando em cima dos outros. Não é a toa que
recém-saída da cadeia passa a ser persenguida por Renault (Peter Dinklage), seu
antigo namorado que também foi prejudicado por ela, apesar de ele também não
ser nenhuma flor que se cheire. O longa também perde a chance de trabalhar
temas a respeito da ascensão da mulher no mercado de trabalho e sobre
empreendedorismo. Michelle por trás da imagem segura que vende esconde uma
romântica inveterada (ou seria uma tarada?) e Claire obviamente não deixa de
ter um interesse romântico para incentivá-la nos negócios, no caso Mike (Tyler
Labine). E parte do argumento apesar de lembrar o esquecido Presente de Grego, no qual a personagem
de Diane Keaton enxerga na necessidade de fazer papinhas de bebê a oportunidade
de um negócio, aqui é usado como uma mera desculpa para a união da empresária
falida e sua ex-funcionária em prol de sua reestruturação financeira e de
status. Mesmo com problemas, A Chefa passa
despercebido como um passatempo, mas é a prova de que McCarthy já não pode mais
bancar a citada pose de bambambã. Tal qual sua personagem, sua carreira de uma
hora para a outra pode ruir.
Comédia - 99 min - 2016
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