Nota 2,0 Com piadas velhas e humor pastelão, Brendar Fraser leva comédia nas costas
Se autoridades que deveriam zelar pela justiça não fazem sua
parte o jeito é buscar soluções com as próprias mãos. Se tal regra popular
criou raízes entre os humanos por que não também entre os animais? Esse é o
mote da comédia infantil Deu a Louca nos Bichos que pode ser vista como um
retrocesso na carreira de Brendan Fraser, alçado a posição de astro com a ação A
Múmia e tendo seu talento reconhecido em produções mais sérias como Crash – No
Limite. Demonstrando ser espirituoso, aqui ele vive Dan Sanders, um empreiteiro
que se muda com a família para uma região campestre com a desculpa de que
teriam uma qualidade de vida melhor em meio a natureza, mas na verdade ele só
queria ficar próximo de seu novo trabalho: a construção de um grande complexo
imobiliário. Mais cedo ou mais tarde o projeto iria acabar com a vegetação e
consequentemente desabrigar os animais, embora ironicamente a ideia seria
vender casas ecologicamente corretas. Antes que grupos pró-ambientalistas se
mobilizassem contra, a própria bicharada se organiza. Ao primeiro sinal de que
seriam expulsos do local guaxinins, esquilos, coelhos, pássaros e companhia
bela passaram a arquitetar um contra-ataque e o pobre Sanders acaba sendo usado
como bode expiatório. E o enredo se concentra nisso. O rapaz sendo sucessivamente
achincalhado pelas “ferinhas”. Ele perde suas roupas, cai e escorrega a torto e
a direito, perde o controle do carro várias vezes, vai parar dentro de uma
latrina e até chega a ocupar o divã de um psicólogo, embora no fundo tenha certeza
de que está sendo perseguido pelos bichanos. A trama é tão inocente que até as
criancinhas devem prever tudo o que vai acontecer, menos o protagonista
bobalhão. Não há uma única piada original, ainda que mereça destaque o fato de
que os animais fofinhos neste caso não falam, apenas emitem seus
característicos sons o que injeta uma bem-vinda dose de realismo ao circo
anunciado, mas não a ponto de evitar que o diretor Roger Kumble caia em clichês
como colocar a bicharada para dançar famosos hits ou enternecerem com carinha
de inocentes quando na verdade estão planejando algum golpe.
O roteiro de Michael Carnes e Josh Gilbert (duas cabeças
para pensar em algo tão simplório?) aposta na mesma linha do trabalho anterior
da dupla, a comédia Em Pé de Guerra. Humor pastelão e com piadas com cheiro de
naftalina marcam a trama que desperdiça o talento de Fraser. Seu porte físico
protuberante, ainda que não em forma como nos tempos que caçava múmias,
claramente foi o fator principal para sua escolha. Um cara boa pinta,
grandalhão e com pose de bem-sucedido de uma hora para a outra levando rasteira
atrás de rasteira de criaturinhas fofinhas, um papel que qualquer iniciante bem
apessoado poderia interpretar. A presença de Brooke Shields, eternamente
lembrada pelo clássico A Lagoa Azul, após anos de hiato do cinema também não
acrescenta nada a não ser a curiosidade em ver se o tempo foi generoso com a
moça. Ela interpreta Tammy, a esposa de Sanders, mas assim como Tyler (Matt
Prokop), o filho “aborrecente” do casal, tem sua participação creditada apenas
para encher linguiça, ou melhor, no caso para colorir pinhas ao lado de uma
velha esclerosada, enfeites que decorariam um evento ambiental que é marca
registrada da cidade e claro que também servirá como palco do clímax do filme.
Já é de se esperar aquela lambança com muita sujeira, correria e piadas visuais
manjadas entrecortadas por falas estúpidas, tudo muito centrado no verdadeiro
vilão da história, Neal Lyman, um oriental atrapalhado e cabeça-de-vento cujo
intérprete Ken Jeong, de Se Beber Não Case, tenta forçosamente arrancar risadas
do espectador, mas bastava sua cara de paspalho sem dizer uma palavra sequer.
Se não bastassem os clichês, Deu a Louca nos Bichos ainda repete exaustivamente
as piadas, como gambás lançando gases mau cheirosos a todo momento, e escancara
sua mensagem de que aqueles que só visam lucros e não pensam nos outros (no
caso a natureza) devem ser punidos. Mais simples impossível, porém, talvez
subestimando até mesmo a inteligência de seu público-alvo. E olha que Kumble é
o diretor do polêmico Segundas Intenções. Retrocesso na carreira! Brendan e o
diretor podem se dar as mãos.
Comédia - 92 min - 2010
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