NOTA 1,5 Longa é um vexame para o cinema nacional do início ao fim apoiando-se em piadas sem pé nem cabeça |
Quantas pessoas você já viu
na fila do cinema ou em uma locadora apontando um ou mais títulos e dizendo que
eles devem ser bons porque suas propagandas passam toda hora na TV ou em
praticamente todos os sites existem banners divulgando-os? É se aproveitando dessa
inocência do público que muitas empresas tentam lucrar. O artifício da
publicidade é usado a exaustão desde os primórdios da televisão para vender
margarina, sabonetes e coisas do tipo. Na realidade querem te iludir com a
idéia de que o produto que estão oferecendo é ótimo e essencial. Da mesma forma
que um bebê aprende a falar e certos gestos na base da repetição, o mesmo
impulso as empresas querem despertar em pessoas com a mentalidade já
desenvolvida reforçando cada vez mais uma marca ou produto. A Globo Filmes faz
praticamente a divulgação de oito a cada dez lançamentos nacionais e desde a
campanha de sucesso de Se Eu Fosse Você
no final de 2005 adotou a estratégia de inserir anúncios dos filmes em seus
intervalos comerciais cerca de dois meses antes da data de estréia, assim
conseguindo criar o efeito desejado: cativar o seu espectador para ir ao
cinema. Por um bom tempo isso funcionou e os lançamentos de verão brazucas
fizeram fortuna, mas quando uma produção é ruim não há santo que ajude. Por
alguns dias até pode ser que o público se sinta instigado a assisti-las, mas
logo o boca-a-boca negativo mostra seus efeitos. Pior ainda quando um elenco
capenga é a bola da vez. Com um enredo sofrível e interpretações de doer de
atores misturados a modelos, peças de museu e profissionais do tipo topo tudo, Muita Calma Nessa Hora até fez seu pé de
meia, por exemplo, mas os espectadores não caíram na mesma armadilha com As
Aventuras de Agamenon – O Repórter e deram às costas à produção. Embora
a campanha publicitária fosse muito eficiente, também colocada no ar com
antecedência e com direito a um funk tipo chiclete, o elenco reunido já trazia
desconfianças. O que dizer de um personagem que é dividido por Hubert,um membro
do grupo Casseta e Planeta, diga-se de passagem, em franca decadência, e o
onipresente Marcelo Adnet? Besteirol na certa. Idolatrados por destilarem um
humor ácido e crítico, os atores falharam ao tentar fazer no cinema o que fazem
há anos na TV.
Inexplicavelmente narrado
por Fernanda Montenegro, o longa é um falso documentário sobre a vida do
lendário jornalista Agamenon Mendes Pedreira (Adnet e Hubert), um personagem
fictício que assina a coluna publicada nas edições de domingo do jornal
impresso “O Globo”. Ele teria nascido no final do século 19 e estaria vivo até
hoje refugiado em algum lugar em qualquer canto do mundo, sempre morando dentro
de seu velho e inconfundível carro que costumava ficar estacionado na porta do
prédio onde funciona a redação do jornal. Assim, ele é a testemunha ocular dos
principais fatos que transformaram a História mundial durante todo um século e
mais um pouco. O roteiro então se resume a uma coletânea de esquetes que
colocam o protagonista em contato com figuras históricas, como Albert Einstein,
através de uma tecnologia que insere o personagem em imagens de arquivo,
recurso que rendeu o Oscar de efeitos especiais à Forrest Gump, e faz sátira também com situações que sofrem uma
releitura total, como Pedro Bial rindo de si mesmo relembrando sua cobertura
jornalística e séria sobre a queda do muro de Berlim. Além do jornalista que
ultimamente se dedica muito mais a narrar as peripécias sem graça dos
habitantes de um zoológico humano na TV, também temos as participações rápidas
de Jô Soares, Paulo Coelho, Suzana Vieira entre outros famosos tentando dar
alguma dignidade a essa xaropada com depoimentos no melhor estilo “Arquivo
Confidencial” do Faustão. Essa pérola do início ao fim nos remete a idéia de
que estamos vendo uma retrospectiva dos melhores (ou na maior parte do tempo
piores) momentos do programa “Casseta e Planeta”. Tal sensação faz sentido.
Vivendo um período de descanso da televisão, os cassetas Hubert e Marcelo
Madureira resolveram escrever este roteiro estapafúrdio e rasteiro, mesmo com
as péssimas experiências que tiveram com os outros colegas do grupo quando
tentaram importar o humor que faziam na telinha para a telona com os
vergonhosos Seus Problemas Acabaram e
A Taça do Mundo é Nossa. Sem tratar
de forma linear os fatos, os roteiristas atiram para tudo que é lado e fazem
uma salada um tanto indigesta que, felizmente, rapidamente termina. Ou não.
Embora não chegue a ter uma hora e vinte minutos de duração, provando a
preguiça ou a falta de assunto dos criadores, o filme cansa rapidamente. Se a
especialidade deles era brincar com o calor dos fatos em um encontro semanal e
esquecível com os fãs, para um produto único e de vida longa eles decepcionam e
investem em piadas manjadas e sem graças, com apenas um ou outro momento
realmente divertido. Pela proposta do longa, o escracho em cima dos fatos
verídicos é tolerável, mas é constrangedor requentar, por exemplo, o deslize do
jogador Ronaldinho no caso polêmico de sua ida a um motel com travestis.
Dirigido pelo documentarista
Victor Lopes, percebe-se ele teve todo um cuidado para se adequar ao que os
humoristas propunham, mas sem ridicularizar sua própria trajetória até então.
Ele começa bem a narrativa, mas se perde no excesso de piadas, muitas de duplo sentido
ou escatológicas. Para não dizer que o filme todo é ruim, o que se salva é a
participação de Adnet fazendo aquilo que o consagrou: humor cínico, caras e
bocas e paródias musicais. Porém, ele está em todas e sempre se vangloriando de
seu talento para criar piadas e situações cômicas num estalar de dedos, assim
não vemos um ator em cena e sim o cara descolado que anda fazendo a cabeça da
geração MTV, além de vender refrigerante e planos de celular em propagandas e
arranjar tempo para ciscar nos programas de outras emissoras. Todavia, seu
poder de persuasão e talento para o humor já demonstram desgastes. Precisa se
reciclar. Tá cheio de ex-profissionais da emissora teen sumidos do mapa ou
enfiados em programas meia-boca simplesmente para tirar o dinheiro das contas
mensais e não morrerem de fome. A transformação do personagem para que Hubert
entre em cena é explicada pela exposição de Agamenon a altas doses de
radioatividade. Seu ato já é bem mais cansativo. Está explicado o porquê de
tantos atores fugirem da idéia de atuarem em seriados. Nove meses vivendo um
mesmo tipo em uma novela de depois um novo papel em outro folhetim não causa
reação negativa no público, mas quando o intérprete passa anos fazendo a mesma
coisa pode estar cavando a própria cova. Por pior que estivesse o programa dos
cassetas, é impossível enxergá-los fazendo outras coisas, mesmo que seja no
campo da interpretação. Completando o elenco principal temos Luana Piovani no
papel da esposa gostosona do anti-herói. A personagem seria ideal para Maria
Paula, mas a própria parece não querer mais se envolver com nada que lembra o
seu tempo de casseta. O jeito foi chamar sua substituta oficial. Luana ocupou a
vaga da humorista no programa durante sua licença maternidade e acabou sendo,
em termos, adotada pela trupe.
Curiosamente, a atriz diz não fazer muitas participações na TV para
fugir dos papéis idiotas, então por que aceitou interpretar tal tipo no cinema?
Se pegarmos cada detalhe de As Aventuras Agamenon – O Repórter
para falarmos alguma coisa com certeza teremos um trabalho gigantesco e
perfeito para mostrar como levar o cinema nacional de volta aos tempos em que
ele era sinônimo de vergonha. Só não chega ao fundo do poço definitivamente por
causa de seu visual e edição ligeiramente inovadores. E só.
Comédia - 74 min - 2011
Um comentário:
Esse filme foi muito criticado, apesar de ter feito algum sucesso entre o público. Vou assistir neste final de semana e ver se as críticas foram merecidas. Abraços
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