domingo, 22 de dezembro de 2019

TAL MÃE, TAL FILHA

Nota 7,0 Juliette Binoche se destaca em em comédia em que mãe e filha se descobrem grávidas

Uma cinquentona que leva a vida sem responsabilidades tal qual uma adolescente se vê inesperadamente grávida de seu ex-marido ao mesmo tempo que sua filha um tanto mais ajuizada também anuncia que está esperando um bebê. O argumento de Tal Mãe, Tal Filha é típico de historinhas água-com-açúcar americanas e até poderia cair como uma luva a uma comédia popular brasileira daquelas que levam multidões aos cinemas, no entanto, é o ponto de partida de uma simples e divertida produção francesa. Para dar visibilidade ao filme, não por acaso a versátil e mundialmente conhecida Juliette Binoche, prata da casa, assume o papel de Mado, uma mulher de meia-idade que não tem trabalho fixo, tampouco objetivos de vida, e que se comporta como uma jovem rebelde desde que foi abandonada pelo marido Marc (Lambert Wilson). Perambulando pelas ruas de Paris montada em uma chamativa moto cor-de-rosa, a espevitada senhora dificilmente perde o bom humor e suas atitudes infantis chegam a ser confundidas até com mal de Alzheimer, mas nada que a faça perder o rebolado. Já sua filha Avril (Camille Cottin) está na casa dos trinta anos, é bem-sucedida profissionalmente e apaixonada por Louis (Michaël Dichter), seu marido que não trabalha, apenas estuda. Pouco vaidosa, por vezes bronca e bastante metódica, a jovem vive trocando farpas com a mãe que vive de favor em seu apartamento. Cada um pode e deve viver como bem entender, isso desde que seja respeitada a individualidade e privacidade dos demais e é nesse ponto que a relação delas estremece. A princípio a diretora e roteirista Noémie Saglio parece se ater ao clichê do choque entre gerações reciclando piadas previsíveis e impregnadas de vícios ianques, contudo, quando mãe e filha se descobrem grávidas praticamente simultaneamente a trama ganha outros rumos. Abobalhada com a ideia de ser mãe e avó e coagida por Avril, Mado aceita a ideia de fazer um aborto, mas atrapalhada como sempre se esquece de tomar no tempo certo o medicamento (fique claro prescrito por um obstetra, diga-se de passagem, um tanto estranho) e decide levar a gravidez adiante em segredo até onde puder, ou seja, a omissão não vai muito longe.

A inspiração para o roteiro, escrito em parceria com Agathe Pastorino, veio de revistas femininas que destacavam a coincidência de mães e filhas engravidarem ao mesmo tempo, situações que estão  se tornando comuns, efeitos de gestações precoces. Há certamente quem deva condenar o fato de Saglio não se aprofundar na temática, mas a proposta é justamente fugir do estereótipo de que cinema francês é extremamente dramático. Tudo aqui é mostrado de forma superficial e leve propositalmente e o texto, embora longe de ser revolucionário, realmente coloca a produção em um patamar mais favorável que outras tantas comédias açucaradas. Binoche sem dúvidas engrandece a produção, não necessariamente por ser uma estrela renomada, mas por conseguir se destacar em meio a uma narrativa convencional com um personagem cativante, embora inicialmente pareça não encontrar o tom ideal. Sensível e talentosa, pouco a pouco ela se conecta ao universo da futura mãe-avó e o espectador passa a torcer para que ela acerte as pontas com a filha e por que não até com o ex. Quem também se destaca é Catherine Jacob como Irène, a sogra de Avril, que demonstra perfeito timing cômico e sobressai ao trabalho do parceiro Philippe Vieux que vive Michel, perfil tão apagado quanto do filho Louis. As cenas do jantar de Natal na casa dos pais do rapaz é um dos pontos altos aproveitando-se do contraste do conservadorismo deles em choque com a forma mais libertária dos pais de Avril encararem a vida. Contudo, a sequência poderia render bem mais. A diretora parece insegura, com medo de ousar. A produção perde força quando as protagonistas rompem relações definitivamente e o roteiro se biparte a fim de mostrar a rotina de gravidez de cada uma de forma isolada com as visitas periódicas ao ginecologista devidamente identificadas com anotações na tela denotando a passagem de tempo, mas obviamente chegará o momento em que os caminhos de mãe e filha voltarão a se cruzar. Embora não muito longo, Tal Mãe, Tal Filha  tem seus momentos de dispersão do foco principal, como se precisasse ganhar tempo até o clímax, mas de qualquer forma o saldo é positivo e o sorriso no rosto está garantido quase que ininterrupto.

Comédia - 94 min - 2017

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