NOTA 7,0 Apesar do excesso de personagens e revelações que complicam a narrativa, longa é uma aula sobre os jogos de interesses por trás das epidemias |
Filmes baseados em argumentos de
ficção científica geralmente estão fadados ao fracasso quando ainda estão sendo
esboçados. Isso acontece por causa do preconceito que assola o gênero devido
aos seus próprios excessos. Com o surgimento do mercado de locação, fitas do
tipo começaram a se proliferar desenfreadamente, porém, com qualidade
decrescente. Quem nunca se deparou com algum título bizarro envolvendo híbridos
de humanos e animais ou com aquelas produções que querem falar sobre o pânico
da ameaça de um vírus mortal quando na verdade só querem divertir com efeitos
especiais de quinta categoria? Isso é coisa do passado? Bem, realmente estes
são filmes característicos de certo período, mas vez ou outra ainda surge um
exemplar do tipo, pena que simplesmente para mofar nas prateleiras das
locadoras. Hoje em dia, infelizmente, nem com esse luxo podem contar. Se você
já torce o nariz ao saber que algum filme fala sobre epidemias, qual reação ao
saber que ele beira as três horas de duração? Por conta destes dois fatores,
além da falta de publicidade e lançamento direto em DVD, O Fator Hades passou em
brancas nuvens, mas merece uma chance, principalmente em tempos de alerta
mundial sobre uma possível epidemia de Ebola. O vírus do título é fictício, mas
faz alusão ao citado agente real que está devastando a população de países
africanos. Sim, mais uma vez o continente que já sofre tudo quanto é
preconceito está dentro do olho do furacão, mas alguém já pensou que o Ebola
pode ter sido disseminado por lá propositalmente? Não se pode afirmar isso, mas
o filme do diretor Mick Jackson pode levar a essa reflexão, basta ter
inteligência para mudar uma coisinha aqui e outra ali e a produção datada de
2006 pode revelar-se um filme interessante com temática atemporal e universal.
Baseado no romance de Robert Ludlum e Gayle Lynds, o longa, na realidade uma
bem feita compilação de seriado de TV, começa apresentando três casos de mortes
isolados, mas a coincidência de sintomas com os apresentados por outras pessoas
adoentadas repentinamente chamam a atenção. Em um primeiro momento o problema
parece restrito aos EUA, mas não tarda para que em outros países surjam alertas
de mortos e novos casos de uma doença atípica que em cerca de 24 horas provoca
intensas hemorragias levando o paciente ao óbito com a mesma rapidez. Quando
acolhidos para tratamento, os medicamentos são apenas paliativos. Rapidamente é
descoberto que o vírus Hades é uma variação rara do Ebola, mas seu ciclo de
desenvolvimento ainda é uma incógnita assim como sua cura.
Por aproximadamente dez dias
muitos cientistas, autoridades médicas, laboratórios farmacêuticos e
representantes políticos se esforçaram ao máximo para controlar a situação e
evitar o pânico na população, mas a cada dia os números de mortos e novos casos
só aumentam. O pior é que há suspeitas de que o vírus caiu nas mãos de
terroristas, assim os agentes da Covert One (na tradução “Oculto Um”), uma
agência secreta que trabalha combatendo o terrorismo e com ligação direta com o
governo, está no encalço de algumas pessoas, entre elas Rachel Russell (Mira
Sorvino), uma desertora da organização que está com uma amostra do vírus. Ela é
vista em atitudes suspeitas em Berlim e até mata dois agentes ligados à
agência. Com visual ligeiramente mudado, ela quer ir para Paris para entregar o
material ao Dr. Marcel Jolivet (Christian Laurin) que já conhecia o Hades. Dois
anos antes ele havia trabalhado no Afeganistão em nome da Organização Mundial
de Saúde e conheceu um médico local que lhe pediu para trazer uma amostra viral
para estudos alegando que os soldados americanos em serviço no país estavam
sendo mortos por causa de infecções misteriosas. Depois disso, a encomenda caiu
nas mãos de integrantes da Al-Qaeda chefiados por Ghalib Hassan (Conrad Dunn) que
em nome de um propósito maior convenceu alguns árabes a darem as suas vidas
para atacarem os EUA. Assim como os homens-bombas sabem que suas mortes
provocarão muitas outras, estes voluntários aceitam ter o vírus injetado no
corpo para depois suas amostras de sangue proliferar a contaminação que pode
acontecer pelo ar, mas o grupo tem um meio bem mais devastador de exterminar os
norte-americanos. Um dispositivo foi criado e seriam colocados nos sistemas de
ar-condicionado central de centros de bastante movimento como aeroportos e
prédios comerciais e, assim como uma bomba-relógio, quando o cronômetro zerasse
as ampolas contaminadas injetariam os vírus nas tubulações e os disseminariam
rapidamente e em quantidade suficiente para gerar uma guerra entre os próprios
ianques. Com o problema fora de controle das autoridades sanitárias, ficaria
difícil saber quem contraiu a doença, assim quem não morresse por motivos de
saúde correria o risco de ser morto por precaução. O estado de loucura
imperaria e a ameaça de um ataque terrorista com armas biológicas tira o sono
da presidente (Anjelica Huston), principalmente porque não pode vir à tona a
revelação de que o Hades foi criado a pedido do próprio governo americano em um
programa secreto chamado Cimitarra, uma precaução em caso de uma guerra de
“agentes invisíveis”, mas que acabou se tornando um problema real e
autodestrutivo.
Alguém do alto escalão do
governo, do grupo científico ou envolvido com investigações terroristas traiu
os demais e levou o vírus para o mercado negro. O agente Bill Griffin (Josh
Hopkins), da Covert One, por dois anos ajudou a esconder os podres de algumas
pessoas ligadas à pesquisa, mas quando se cansou foi vítima de um atentado no
qual todos acreditavam que ele havia morrido, no entanto, ele reaparece com o
visual um pouco diferente e procura Jonathan Smith (Stephen Dorff), um
especialista em doenças infecciosas e ex-agente da organização antiterrorismo.
Diante da ameaça de uma grande epidemia, o infectologista é recrutado pelos
chefões do grupo, Frank Klein (Danny Huston) e Palmer Addison (Blair Underwood),
para encontrar as raízes do problema e o rapaz com sua experiência e contatos
acredita que a chave de tudo está com Tom Fancher (Joris Jarsky), um médico
americano que há anos presta serviços no Afeganistão, local de onde voltaram
muitos soldados infectados. O problema é que Smith terá que tomar cuidado com
as investigações, pois sua namorada Sophie Amsden (Sophia Myles), embora também
especialista em casos de vírus e bactérias, desconhece o passado do rapaz com a
Covert One. A moça trabalha no Instituto de Pesquisas de Doenças Infecciosas do
Exército dos EUA, o USAMRIID, e cuidando das vítimas do Hades estará colocando
a própria vida em risco, mas seu superior, o General Keilburger (Keneth Welsh),
parece relutante quando o assunto é a busca por um antídoto rápido alegando que
uma falsa promessa de cura poderia deixar a população norte-americana ainda
mais exaltada e culminar em uma revolta em massa ao governo. Ufa! A história
basicamente é essa, ou melhor, o que é possível se compreender. O roteiro de Elwood
Reid tem uma proposta das mais interessantes, mas algumas passagens ficam difíceis
de entender devido ao excesso de personagens e situações, além das mudanças
constantes de cenários. Esse é o tipo de filme que é preciso assistir com um
caderno junto para anotar os detalhes. Tentar reorganizar as informações é
relativamente simples e o resultado pode ser satisfatório desde que você não se
apegue a dúvidas, elas serão mínimas diante das resoluções finais. De onde
surgem os vírus? Eles podem ser fabricados intencionalmente? Se for o caso, paralelamente
uma medicação é desenvolvida? E como funcionam os testes? E a segurança e o
sigilo quanto a essas operações? São muitos os temas para reflexão propostos
por O
Fator Hades, um intrigante filme que mesmo com suas falhas e longa
duração entretém e incomoda (no bom sentido), principalmente na reta final
quando vemos a relação de um laboratório farmacêutico com tudo isso. Analisando
todo o conjunto de relações, a conclusão é sinistra e mais uma vez reforça a
ganância do ser humano.
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