domingo, 5 de novembro de 2017

O CARA

Nota 5,5 Apostando numa parceria de trabalho improvável, comédia parece pinçada dos anos 80

É para dar vontade de matar quem ainda enche a boca para dizer que Samuel L. Jackson é “o cara”, aquele ator sinônimo de bons filmes. Está certo que ele já fez muita coisa boa, mas o que tem de abacaxi em seu currículo... Talvez para ironizar a sua fama é que ele tenha aceitado participar de uma comédia justamente chamada O Cara, mas cedendo o papel-título para o zero à esquerda Eugene Levy. Este ator não é ruim, mas fincou seu pé no campo do humor revezando-se no papel de bobalhão ou ranzinza, sendo sua atuação mais conhecida a de pai do protagonista dos três primeiros filmes da série American Pie. Nesta comédia mesclada com ação ele dá vida a Andy Fidler, um representante de produtos de higiene bucal e afins que está se preparando para realizar uma palestra para investidores em Detroit, cidade que está em meio a um alvoroço por conta do assassinato de um policial, o fiel parceiro de trabalho do agente federal Derrick Vann (Jackson). Conhecido por seu estilo marrento e desencanado, este tira também é um tanto durão. Agindo sempre disfarçado, ele passa seu dia-a-dia convivendo com as violentas gangues do subúrbio e no momento está tentando recuperar algumas armas que foram roubadas de um arsenal federal e estão prestes a serem vendidas, um crime que pode ter ligação com a morte de seu colega. Vann marca um encontro com um bandido fingindo estar interessado na mercadoria, mas na realidade quer fazer uma prisão em flagrante. Ele seria reconhecido em uma lanchonete por estar sentado à bancada e lendo um determinado jornal, mas os planos não saem como o esperado porque justamente o azarado Fidler estava no lugar e na hora errados. Confundido com o comprador, Joey (Luke Goss), um rapaz com cara de poucos amigos, lhe dá um saco de papel e parte rapidamente. Curioso, o vendedor acaba tirando do pacote um celular e uma arma assustando os frequentadores do local e chamando a atenção de Vann que logo percebe a confusão que aconteceu.

Envolvido no caso por engano, Fidler acaba sendo levado junto com Vann para colaborar com as investigações servindo como agente infiltrado. Com seu perfil que não levantaria suspeitas, o vendedor seria ideal para atuar como os olhos da polícia na máfia e assim revelar o destino dos armamentos roubados e a identidade do assassino do parceiro de Vann. Quase que imediatamente após Fidler ser salvo da confusão na lanchonete, o tal celular toca e Joey pede uma grande quantia que deve ser depositada em uma lata de lixo. É óbvio que o vendedor, agora atendendo pelo pseudônimo Turco, vai se atrapalhar e a partir de então uma sucessão de equívocos vão cada vez mais o prendendo a investigação policial, ainda mais quando em seus registros é encontrada uma pendência criminal devido a compra de um tapete original e milenar turco cuja procedência ilegal ele desconhecia. Para se livrar do xadrez só mesmo colaborando com a polícia. Com roteiro de Jim Piddock, Margaret Obermann e Stephen Carpenter, não precisaria de tantas cabeças pensantes, apenas uma bem treinada com produções estilo sessão da tarde dos anos 80 bastaria. Tentando resgatar a fórmula do tira durão e do parceiro atrapalhado, arquétipos acentuados pela escolha de um negro com porte atlético e um caucasiano franzino e maduro, tecnicamente a produção e os protagonistas não são necessariamente ruins, o problema é que o roteiro parece costurar piadas contadas e recontadas inúmeras vezes sem inovação alguma. A única diferença é que com o advento do celular a brincadeira de mocinhos e bandidos ficou mais acirrada, visto que basta um toque inesperado para a posição de alguém ser denunciada. Com direção de Les Mayfield, do chatinho Flubber – Uma Invenção Desmiolada, a comédia-retrô O Cara garante um passatempo razoável desligando o senso crítico, assim fica mais fácil tolerar o tagarela Levy e a previsibilidade do conjunto. Poderia ter se tornado uma franquia de sucesso uns 15 ou 20 anos antes, mas em pleno século 21 a receita não vingou e a ideia rendeu um único filme. Melhor assim.

Comédia - 83 min - 2005 

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