terça-feira, 11 de setembro de 2018

A VOLTA DOS BRAVOS

NOTA 7,0

Através de quatro personagens
fictícios, longa tenta expor os danos
emocionais e psicológicos causados
aos soldados da guerra ao terror
Como era de se esperar, muitos filmes foram realizados abordando os atentados de 11 de setembro de 2001 e o medo e o preconceito que passou a assombrar o cotidiano dos americanos. Paralelo a isso, um outro momento histórico, político e social estava sendo desenvolvido: os plano de ofensiva dos EUA ao Iraque. Obviamente, produtores de Hollywood estavam atentos e não deixaram os fatos esfriarem antes de os usarem como matéria-prima para novos filmes, mesmo sem saberem qual seria o final deste conflito. Muitas produções surgiram abordando principalmente o drama dos soldados americanos que participaram das várias invasões, alguns inclusive sem ao menos saberem o porquê de realmente se alistarem ao exército ou terem sido convocados, mas é uma pena que boa parte destes títulos ficou restrito ao mercado doméstico, assim bons produtos acabaram passando em brancas nuvens pelos olhos do público. Esse é o caso do drama A Volta dos Bravos que apesar do título não faz exaltação à carreira militar, tampouco a denigre, apenas mostra a dura realidade daqueles que são obrigados a assistirem diariamente atrocidades, conviverem com o medo de talvez não voltarem para casa ou ainda sofrerem com a readaptação às suas vidas normais caso tenham sorte de sobreviverem às inúmeras situações de perigo a que são expostos. Com direção de Irwin Winkler, especialista na condução de obras de cunho dramático, a trama co-escrita por Mark Friedman mostra as consquências deste conflito contra o terrorismo para um grupo de soldados americanos e consequentemente para seus familiares e amigos. Will Marsh (Samuel L. Jackson), Vanessa Price (Jessica Biel), Tommy Yates (Brian Presley) e Jamal Aiken (Curtis Jackson) foram informados que no prazo de duas semanas poderiam finalmente deixar o Iraque após meses de dedicação e abdicação de suas vidas pessoais. Logo eles começam a fazer planos para o regresso, mas a alegria não demora muito a cessar. Durante uma ronda por uma cidade devastada pela guerra, o grupo é interceptado por tropas inimigas que os atacam fervorosamente e neste episódio todos sofrem com ferimentos, não só físicos como também emocionais, males de gravidade que talvez até então não os tivessem atingido. É interessante observar que a fotografia utilizada reforça o contraste da situação que será deflagrada. O Iraque é retratado com cores quentes enquanto as ações em solo americano são captadas em tons frios e acinzentados como se fosse uma analogia visual ao fato de que em combate eles se sentiam como heróis e a volta para casa vivos, porém, combalidos de certa forma, representaria uma espécie de fracasso.

Apesar do abalo surpresa, os quatro conseguem regressar para suas casas, mas se acostumar a antiga rotina não será nada fácil. O médico Will reencontrou a esposa Penélope (Victoria Rowell) e os filhos, mas sua melancolia e os constantes pesadelos, mesmo acordado, o impedem de viver plenamente a alegria do momento. Vanessa, professora de educação física, precisa ser internada em um hospital imediatamente após seu regresso para se recuperar do súbito amputamento da mão direita que precisou sofrer, além de se submeter a sessões de terapia para tentar aliviar traumas e encarar a realidade que de agora em diante dependerá de uma prótese. Jamal, fisicamente bastante debilitado e com comportamento agressivo aflorado, está frequentando um grupo de autoajuda, mas parece não acreditar que expor seus problemas em público possa ao menos atenuá-los, até porque acha que por ser negro ninguém o apontará nas ruas como um herói, mas sempre o observarão com insegurança pensando em se tratar de um mau elemento. Por fim, Tommy teve seu namoro terminado via carta, perdeu o emprego e sofre com a perda dos companheiros de batalha e vendo suas famílias chorarem ao receberem medalhas e bandeiras como lembranças de seus esforços. Com suas vidas completamente mudadas, e para pior, como seguir em frente? Com uma narrativa que intercala os dramas destes quatro personagens centrais, Winkler procurou montar um pequeno mosaico dos fatores negativos que envolvem a guerra ao terror, problemas que certamente não eram levados em consideração pelo então presidente americano George W. Bush. Para ele pouco importava se os soldados recrutados tinham famílias, empregos a manter, se eram pobres e outros tantos pormenores. O importante era ter um número de soldados exagerado como forma de intimidar os inimigos e mais uma vez reforçar o poder de dominação dos EUA. Contudo, o longa não é panfletário. O que fica mais latente é a indignação de vários personagens quanto a postura americana, afinal seus superiores os incentivaram a ver povos de origem árabe como vilões, mesmo crianças ou mulheres, mas ao vivenciarem a realidade no Iraque puderam perceber que inocentes estavam pagando o pato por algo que sequer tinham alguma noção. Alçados ao posto de heróis em solo americano, como os soldados ianques estariam sendo vistos ou viriam a ser lembrados futuramente pelos iraquianos?

É importante frisar que este não é um longa de guerra clássico, os conflitos só entram em cena nos primeiros minutos e depois em forma de flashback, aliás, tal recurso é até utilizado em demasia já que a sinopse deixa claro que o foco são as consequências emocionais e psicológicas dos conflitos, assim não precisando serem justificadas as várias sequências de choro, melancolia ou estopim de raiva dos protagonistas apelando para imagens dos soldados em campo de batalha. Os desdobramentos de suas histórias são realistas e evitam a manipulação, embora todas sejam dotadas de forte carga dramática, mas sempre deixam latente o desejo de cada um destes ex-combatentes encontrarem seu lugar na sociedade novamente. Will, pouco a pouco se entregando ao alcoolismo, procura aceitar o jeito rebelde de seu filho mais velho, o adolescente Billy (Sam Jones III), que não tem vínculos afetivos com seu pai por conta dos anos de afastamento que a carreira militar o impôs. Para provocá-lo, o jovem se mostra contrário aos ideais da escola que preza o nacionalismo, mas o médico o repreende dizendo que ele não sabe o que é a guerra de verdade para fazer qualquer tipo de julgamento quando na verdade ele mesmo parece estar em dúvida se as ações americanas são eficazes. Vanessa, dependente de remédios para se tranquilizar, tem a chance de recomeçar sua vida ao lado de Cary (Jeff Nordling), professor na escola de seu filho pequeno, mas parece fechada para se relacionar, talvez pelo medo de se ligar a alguém e não saber o que vai acontecer futuramente. Jamal, por não ver perspectivas de conseguir emprego digno, entra para o mundo do crime, porém, demonstra cada vez mais inquietação por não ser de má índole e saber que está se metendo com coisas erradas traindo seus ideais, apenas por puro instinto de sobrevivência. Tommy é quem tem a trama mais interessante. Ele passou a trabalhar como bilheteiro de cinema, mas não gosta do que faz por saber que as pessoas preferem dar mais atenção à fantasia que a realidade. Sofrendo com insônia persistente, ele mata o tempo assistindo documentários para tentar entender melhor o que o levou a se engajar a guerra ao terror. Seu pai Hank (Vyto Rugins) o incentiva a tentar fazer carreira na polícia, mas deixa subentendido que o filho é homossexual e que só se alistou no exército para ficar próximo de um grande amigo que acabou falecendo em combate. Cabe a esse jovem as últimas falas, uma narração em off emocionante e que tenta explicar o que leva tantas pessoas a se unirem ao exército, principalmente justificar o que motivaria alguém a voltar para o inferno. A Volta dos Bravos do início ao fim deixa em evidência seu estilo de produção independente, sendo desprovida de glamour visual ou da ingrata tarefa de ostentar a aura de poder dos EUA e tampouco procurar “humanizar” o Iraque. A grande mensagem é que todos têm o poder de escolher os caminhos que querem seguir, só não podemos ter certeza se eles são as melhores opções. Como diz a mensagem do pensador Maquiavel que fecha o longa, “guerras começam onde você quiser, mas não acabam onde deseja”.

Drama - 105 min - 2007

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