Nota 5 Repleto de clichês, longa entrega fácil sua grande revelação oferecendo pistas constantes
Susan Sarandon tem um nome a zelar, um currículo respeitável, mas talvez na sua fase madura tenha sofrido com a falta de bons convites de trabalho, assim se sentindo na obrigação de topar qualquer papel para sobreviver e não ganhar um aposentadoria à força. A atriz de grandes obras como O Óleo de Lorenzo, Os Últimos Passos de Um Homem e Lado a Lado, está cada vez mais apagadinha aos olhos do público e crítica e sua presença em um longa já não justifica nem mesmo arriscar um lançamento nos cinemas quando a história não é das melhores. Mesmo contando no elenco com Emily Blunt, que na época desfrutava do sucesso que fez com O Diabo Veste Prada, o suspense Identidade Roubada não escapou do ostracismo. Com seu estilo de telefilme, a produção nem mesmo chamou a atenção quando lançada para locação e se hoje estiver disponível em algum serviço de streaming é somente para preencher catálogo. Não é de todo ruim, mas um tanto genérica e previsível.
A trama gira em torno de Sophie Hartley (Sarandon), uma premiada ilustradora de livros infantis que está passando por um momento delicado perturbada com a recente morte de sua mãe. Com duas filhas pequenas, aparentemente convivendo muito bem com o marido Craig Singleton (Sam Neill) e vivendo em uma bela e confortável casa, a desenhista tinha tudo para ser feliz, mas também pressionada para cumprir o prazo de entrega de um trabalho ela acaba desenvolvendo um tipo de fobia. Ela cisma que alguém estranho frequentemente está entrando em sua casa sumindo com coisas, mudando objetos de lugares e pregando peças. A situação só piora quando ela conhece Mara Toufiey (Blunt), a assistente de seu marido em um escritório de decoração. O jeitinho prestativo e amigável da moça entrega o ouro: é óbvio que ela quer a vida de Sophie. Sua atenção exagerada para com o chefe, a aproximação repentina junto a sua família e a obsessão em ter até os horrendos enfeites de coruja da ilustradora mostram que ela está cheia de segundas intenções.
Mara é casada com Jimmy (William McInnes) e também é mãe, mas nada cessa as desconfianças de Sophie de que ela quer o seu marido, suas filhas, sua casa, enfim sua vida. A paranoia começa a se tornar um problema sério a partir do momento em que ela passa a ter o seu cotidiano regido basicamente por planos para buscar provas que comprovem sua sanidade mental e confirmem suas suspeitas, mas fica difícil com todos a rotulando de doente. Com direção e roteiro de Anne Turner, é inegável que o filme não tem uma premissa original, pelo contrário, trabalha em cima de um clichezão clássico de tramas a respeito de transtornos psicológicos. Resta ao espectador apenas descobrir quem é a doente da história, Sophie com sua mania de perseguição ou Mara com sua obsessão guiada pela inveja? Ou seria pela vingança? Não é muito difícil descobrir os rumos da história, basta prestar atenção sobre detalhes do passado destas personagens que serão a chave de tudo.
Qualquer pessoa com um mínimo de cultura de cinema ou dramaturgia de TV consegue juntar os pontos e até antever situações. Não falta nem mesmo o velho truque folhetinesco das mulheres que se encontram em uma festa trajando o mesmo vestido, sinal de picuinha à vista. A previsibilidade acaba prejudicando o ritmo da obra que se torna bastante monótona ao passo que não temos sustos ou surpresas, sendo até ridículo em alguns momentos, como a cena em que Sophie é atacada por um enxame de abelhas ou o fato dela sonhar constantemente com corujas e até colecionar bibelôs destes animais, uma maneira forçada de incutir algumas dúvidas a respeito do caráter da personagem. Ataques de insetos são comuns a filmes que falam sobre possessões e as corujas, embora símbolos de inteligência, também são conhecidas como sinal de mau agouro. No final das contas a inserção de tais cenas não agregam nada à trama, apenas enchem linguiça.
A sustentação do conflito ainda sofre um abalo com as revelações de que as filhas da protagonista também sentem a presença de alguém misterioso na casa e tem até aquela vizinha bisbilhoteira que confirma ter visto movimento estranho por lá, embora afirme não enxergar muito bem para distinguir detalhes de fisionomia. Para compensar tanta previsibilidade, a diretora até prepara um final que tenta ser impactante em sua justificativa e ainda uma nova reviravolta na última cena que pode passar despercebida aos mais desatentos, mas nada que salve Identidade Roubada de ser apenas um passatempo descartável.
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