segunda-feira, 20 de setembro de 2021

PORQUE CHORAM OS HOMENS


Nota 7 Apresentando mais um recorte a respeito da Segunda Guerra, longa peca pela lentidão


O nome Johnny Depp liderando um elenco geralmente garante ao filme certa visibilidade, mas o drama Porque Choram os Homens não se beneficiou de sua fama, talvez porque sua alcunha geralmente esteja ligada a produções extravagantes e o próprio costume encarnar personagens bizarros. Aqui ele aparece de cara limpa, o que já não chama muito a atenção, mas também acaba ofuscado já que não é o protagonista. A estrela da fita é a talentosa Christina Ricci, com quem o ator já havia feito par no terror A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça um ano antes. As funções se inverteram e dessa vez ela tem o papel principal, mas infelizmente em um filme bonito visualmente, mas de narrativa lenta que injustamente não agradou nem mesmo a crítica. A história começa na Rússia em 1926, quando o pai da pequena Fegele (Ricci) vai para os EUA, então conhecido como América, em busca de trabalho e enriquecimento. Algumas noites após ficar aos cuidados da avó, a garotinha descobre a respeito de um ataque em solo americano em que todas as casas de um vilarejo foram incendiadas. 

Órfã de mãe e agora também de pai, a judiazinha é enviada com alguns poucos trocados junto a um grupo de camponeses que pretendiam entrar de forma ilegal na América, contudo, sem saber falar uma palavra sequer em inglês, ela acaba desembarcando na Inglaterra onde recebe o nome de Suzie por uma família adotiva. Aos poucos ela vai descobrindo seu talento para cantar e na juventude já esquecera seu idioma natal. Buscando desenvolver seu dom, ela se muda para Paris, entra para uma companhia de dança e conhece a desinibida Lola (Cate Blanchett), uma mulher mais velha e experiente que deseja subir na vida custe o que custar, de preferência com o apoio de um marido rico. A vida das amigas muda radicalmente quando Lola, confessa oportunista, começa a ter um caso com Dante (John Turturro), um arrogante e famoso cantor de ópera italiano, enquanto Suzie se aproxima de César (Depp), um cigano que conhece durante uma de suas apresentações. Com a invasão da Alemanha à Polônia, inicia-se a Segunda Guerra Mundial, conflito que irá interferir diretamente na vida destas quatro pessoas.


A diretora e roteirista Sally Potter, de Orlando - A Mulher Imortal, procurou fazer um romance épico com exaltação à arte, principalmente sobre mulheres que usaram seus talentos artísticos para escapar das rígidas regras impostas pela sociedade. Os dois casais então passam a vivenciar algumas situações peculiares da época como a perseguição aos judeus e ciganos e o declínio dos teatros e outros tipos de diversão diante dos horrores da guerra. O argumento é bom, mas seu desenvolvimento infelizmente deixa a desejar. Como já dito, a lentidão dá o tom da obra que busca um ar mais poético. Isso consegue, sem dúvidas, mas a sensação é que o filme poderia ser ainda mais curto do que de fato é. São muitas cenas de contemplação e outras nas quais os diálogos cedem espaço para a trilha sonora se destacar, diga-se de passagem, de excelente qualidade assim como toda parte técnica que reconstitui com perfeição e certa sobriedade a Rússia da infância da protagonista e a Inglaterra e a França de meados da década de 1940.

Para muitos a apatia da personagem de Ricci pode demonstrar certa insegurança da atriz para dar vida a uma protagonista, mas na verdade ela simplesmente expõe o estado de espírito de Suzie, melancólico no fundo. Mesmo se adaptando à vida em Paris e construindo uma carreira promissora, o que a motiva a viver é a esperança de que seu pai ainda está vivo e um dia poderá reencontrá-lo, sonho que alimenta revendo com frequencia uma fotografia dele, a única lembrança que restou de sua triste infância. Por outro lado, o amor entre a cantora e o cigano não cativa, falta emoção. Depp demora a entrar em cena e praticamente não fala, ressaltando a típica frieza dos ciganos em lidar com pessoas distantes de sua cultura, uma oportunidade do ator se comunicar através de gestos e olhares expressivos, porém, contidos. 


Turturro também se sai bem na pele do tenor que vê sua carreira minar aos poucos, mas quem rouba a cena, como de costume, é Blanchett, ainda em um de seus primeiros filmes e já demonstrando ser um tanto versátil, que interpreta com desenvoltura uma mulher interesseira e o faz com doçura, assim o espectador nunca a enxerga como alguém de má índole e torce por seu sucesso. Ainda que com pequenas falhas de ritmo, o conjunto de Porque Choram os Homens, nunca é comprometido drasticamente e o resultado final é um agradável e melancólico (no bom sentido) passatempo envolto em uma luxuosa aura de filme de arte.

Drama - 90 min - 2000

Leia também a crítica de:

BROOKLIN
O VIOLINISTA QUE VEIO DO MAR
A ESCOLHA DE SOFIA

Nenhum comentário: