domingo, 5 de julho de 2020

BROOKLIN


Nota 9,0 Drama retrata de forma leve o amadurecimento de uma jovem em meio a dúvidas e sonhos


A imigração é um tema bastante recorrente no cinema e se aparentemente ele pode parecer denso por nos fazer pensar nos problemas de adaptações dos corajosos que se aventuram a construir uma vida praticamente do zero em outro país, o drama Brooklin surge como um alento. Não que os percalços sejam abolidos do enredo, mas são abordados de forma mais amena e esperançosa para contar a história de Ellis Lacey (Saoirse Ronan), uma jovem irlandesa com poucas perspectivas em seu país-natal que conquista sua entrada para os EUA em meados da década de 1950 com a ajuda do padre Flood (Jim Broadbent) que mantém em sua paróquia um programa de ajuda para quem deseja melhores condições de vida em outros países. Todavia, tal decisão implica em deixar para trás a mãe viúva Mary (Jane Brennan) e a irmã mais velha Rose (Fiona Glascott), esta a quem é muito apegada. Na América, ela se estabelece no bairro que intitula o longa, em Nova York a terra das oportunidades, e aluga um cômodo na pensão da senhora Kehoe (Julie Walters) onde faz amizade com outras conterrâneas em mesma situação. Elis também consegue um emprego como vendedora em uma loja de departamentos, começa a estudar e, como uma boa moça de família, inicia um namoro à moda antiga com o ítalo-americano Tony Fiorello (Emory Cohen). 

O envolvimento do jovem casal é conduzido com extrema delicadeza pelo diretor John Crowley tornando-se um dos pontos altos da produção, um romance digno dos filmes clássicos hollywoodianos. Há tanto respeito da parte do rapaz em seguir as convenções que certamente deve causar certo estranhamento ao público jovem, mas por outro lado fazer espectadores mais saudosos suspirarem e até se verem representados no longa. Toda a apreensão sobre o que poderia acontecer no novo endereço se esvai tão rapidamente com tantas coisas boas acontecendo na vida da protagonista que é de se esperar uma reviravolta. Após assumir compromisso de noivado, Ellis é obrigada a voltar para a Irlanda, ainda que temporariamente, mas muita coisa pode mudar em questão de poucos dias. A trama acompanha de perto o amadurecimento da protagonista perante as mudanças que a vida lhe oferece, assim como a tentação que lhe surge como obstáculos perante as saudades de casa e de sua antiga rotina. O retorno ao seu país de origem inclusive coloca em seu caminho um novo interesse romântico, Jim Farrell (Domhnall Gleeson), pelo qual fica balançada. Ellis se afeiçoa ao rapaz, inclusive lhe despertando muitas esperanças quanto a uma união estável, e esta seria a chance de unir o útil ao agradável, ser feliz no amor e ao mesmo tempo voltar ao convívio da família. 


A condução do roteiro tem o cuidado de não tomar partido da situação, não há certo ou errado, apenas possibilidades, tanto para o incerto quanto para o seguro assim como para a volta ao passado ou a continuidade na trilha do futuro experimentado. Promessas, certezas, comodismo e a sedução das novidades e dos riscos. São muito fatores para Ellis refletir e tomar sua decisão e o espectador fica em constante suspense a respeito da conclusão da história que não tem um vilão de carne e osso, mas o própria vida se encarrega de tomar tal papel para si. Felizmente o filme foge do tradicional triângulo amoroso adolescente e nenhum dos rapazes revela-se uma ameaça. Aliás, eles nem ficam sabendo da existência um do outro e ambos tratam a mocinha com cavalheirismo e pompas semelhantes. Qualquer que seja sua escolha, Ellis tem a certeza de que seria feliz, mas viveria acompanhada para sempre da culpa de ter magoado alguém que não merecia. Soma-se à questão a dúvida entre voltar ao conforto do lar e da família ou continuar se arriscando em uma vida independente em um país que, embora a tenha acolhido, ainda assim poderia lhe oferecer desafios e surpresas futuramente. 

O que tinha tudo para ser um tremendo dramalhão ganha contornos leves e o resultado é uma obra delicada, sensível e que passa longe do tom meloso ou melancólico. Baseado no livro homônimo do escritor Colm Tóibín, a adaptação ficou sob responsabilidade de Nick Hornby, autor dos romances que deram origem a outros sucessos do cinema como Alta Fidelidade e Um Grande Garoto, e que nos últimos anos tem se especializado na escrita de roteiros. Coincidentemente, a essência das obras de Tóinbín rende comparações ao universo abordado pela romancista inglesa Jane Austen. É dela o romance que deu origem ao longa Desejo e Reparação que rendeu a primeira indicação de Ronan ao Oscar quando era uma pré-adolescente. Quase dez anos depois, ela voltou a ser indicada à premiação revisitando a temática do registro entre a inocência e a sagacidade em uma performance brilhante, mas sem histrionismos. O filme se sustenta com a simpatia da atriz cujos pequenos detalhes nos olhares e gestuais e leves mudanças de tom ao longo da trama se encarregam de revelar dúvidas, angústias e alegrias da personagem sem precisar do auxílio de diálogos expositivos. O restante do elenco, mesmo a maioria com pouco tempo em cena, também cativa construindo tipos interessantes e variados e todos com algo a acrescentar ou intervir na vida de Ellis.


Com uma reconstituição de época impecável, dos cenários à caracterização dos personagens e seus comportamentos, Brooklin resgata a aura de um legítimo filme clássico, mas com ares de novidade contanto com uma forte protagonista, apesar do aspecto frágil. Seguindo convenções sociais, ela deseja se casar e ter uma família e um lar para cuidar, mas ao mesmo tempo nutre ambições individuais beirando a emancipação. Seu conflito pessoal conecta-se facilmente com história de qualquer jovem contemporânea que esteja prestes a assumir as rédeas da própria vida. O próprio nome da personagem principal não é mero caso. Ellis é o nome da ilha em que se encontra a Estátua da Liberdade e era por lá que desembarcavam os imigrantes europeus. Quem teve a oportunidade de ler o livro perceberá algumas adaptações para a versão cinematográfica, mas nada que diminua o valor de nenhuma das duas obras que não contam uma história glamorosa, mas conquistam a empatia com sua simplicidade e autenticidade, reiterando que o filme não seria o mesmo sem a presença de Ronan. Desde o início ela era a primeira opção, embora jovens demais. Como há males que vem para o bem, alguns percalços atrasaram a produção e assim deu tempo para ela atingir a idade necessária para assumir o papel. 

Drama - 112 min - 2015

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Um comentário:

GustavoPeres99 disse...

Eu sou apaixonado por esse filme, a história me encanta, os atores são bons, a trama agrada muito e o final foi bom 🥰