NOTA 4,0 Tirando uma onda de James Bond, mescla de aventura e comédia não favorece Jackie Chan que não se joga literalmente neste trabalho |
Chan ganha até uma bela parceira
de aventuras tal qual o agente 007. Jennifer Love Hewitt interpreta Del Blaine,
uma agente que o ajudará no caso de um assassinato cujo principal suspeito é
Dietrich Banning (Ritchi e Coster), dono de uma grande distribuidora de água em
vasilhames que planeja envenenar as fontes naturais de todo o mundo e assim
dominar o mercado sendo o único a oferecer o insumo de forma potável, porém,
alterado por uma substância capa de aumentar a sede. Monopólio mais necessidade
é igual a lucro e sucesso, porém, Tong vai fazer jus a confiança que Devlin lhe
depositou. O agente sofreu um atentado, acabou gravemente ferido e ele próprio
incentivou o motorista a assumir seu lugar temporariamente. Só faltou lhe
avisar que vestindo o smoking especial ele passaria a ter todos os seus
movimentos controlados pelo traje, tudo ajustado as necessidades de cada
situação. De um simples saque de isqueiro quando alguém empunha um cigarro,
passando por passos de dança literalmente conforme a música até
complicadíssimos movimentos de luta, tudo é obra da tal roupa do título que
curiosamente em nenhum momento há a confirmação de que ela vale uma fortuna.
Aliás, nem é um terno de verdade, e sim um smoking. Fizeram um bem bolado de
palavras para criar um título nacional mais impactante, algo que ligasse a
ideia de filmes de espionagens. Dos males esses são os menores. O grande
problema da fita fica por conta das cenas de ação, justamente o que espera seu
público-alvo. Como já dito, Chan está em cena com seu carisma e entusiasmo, mas
ao mesmo tempo não está. A principal característica de sua carreira até então
era abrir mão de dublês e ele próprio encarar as cenas de luta e quebra-quebra.
O resultado eram dezenas de fraturas a cada novo filme, mas compensados pelo
orgulho de realizar cenas incríveis com o máximo de realismo, tanto que o
encerramento com a coletânea de erros de gravação eram marcas registradas de
suas produções.
Importado para os EUA a peso de ouro, Chan já não pode se dar ao
luxo de dispensar dublês. Um acidente grave que pudesse comprometer seu estado
físico poderia significar milhões de dólares em contratos perdidos. Conforme os
anos passam e o ator envelhece, cada vez menos poderá se expor ao perigo. Assim,
boa parte de seus filmes perdem a graça por apresentar o astro de forma um
tanto engessada, apenas um corpo servindo como referência para inserção dos
mais variados tipos de efeitos especiais. Dessa forma até os citados erros de
gravação no final perdem a graça e forçosamente são substituídos por falsos
deslizes, falas erradas e armações, bem ao estilo do que o nosso Renato Aragão
apresentava em seu programa solo. Aliás, o enredo desta comédia cairia como uma
luva para o eterno Didi Mocó interpretar. Se não era para colocar o chinesinho
para lutar de verdade, poderiam ter dado o papel para qualquer outro oriental
ou até mesmo ocidental, mas a marca Chan falou mais alto. Já famoso por A Hora do Rush e Bater ou Correr, o ator então já era um produto da indústria
cinematográfica e sabemos bem o que acontece quando se está no auge e também
quando o prazo de validade expira. Se para quem procura ação o longa
decepciona, quem busca gargalhadas também fica com um sorriso amarelo no rosto.
Infelizmente o roteiro não prende a atenção e por ser uma comédia fica a dever
e muito quanto a diversão. O momento mais inspirado tem como chamariz a rápida
participação do saudoso cantor James Brown interpretando a si mesmo. Antes de
uma apresentação, o artista acaba sendo nocauteado por Tong, ou melhor, por
mais um dos movimentos em falso de seu terno. Para tentar remediar a situação,
ele então assume o microfone e sobe ao palco para cantar o hit "Sex
Machine". Qual comédia sessão da tarde que se preze abre mão de uma
musiquinha chiclete, não é? Com direção de Kevin Donovan, cuja filmografia
inclui apenas este trabalho para cinema, O Terno de 2 Bilhões
de Dólares cumpre sua missão de ser apenas um passatempo ligeiro
e para quem não acompanha a carreira de Chan certamente irá se divertir, não
perceberá suas amarras. Se o longa investisse mais na sátira a James Bond e aos
clichês dos filmes de espionagem, certamente o resultado seria mais
interessante, mas escolheram o caminho mais fácil, as gags visuais. Para que
fazer algo complexo se podemos explorar ao máximo o jeito bobão (no bom
sentido) do astro principal?
Comédia - 95 min - 2002
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