Nota 3 Argumento original é desperdiçado em obra confusa, salvando-se apenas a parte técnica
Hollywood está sempre em busca de alguma história fantástica que possa se tornar uma franquia de sucesso e talvez foi nessa onda que o diretor Jon Fraveau embarcou quando decidiu conduzir Cowboys e Aliens, um longa que no mínimo podemos rotular como criativo e que poderia render diversas continuações. Todavia, ficamos com tal impressão até os primeiros minutos do filme, mas dificilmente não nos decepcionamos quando acompanhamos o desenrolar do enredo. Após o estrondoso sucesso de Homem de Ferro, o diretor procurou inovar e gerar ramificações para o gênero de aventura, assim teve a ideia de unir passado e futuro em um mesmo longa, uma mistura inusitada de dois gêneros ficcionais totalmente opostos. A ficção faz parte do cinema há muitos anos, mas ainda soa como algo futurista e as pessoas sonham com o dia em que poderão ver de perto naves espaciais e os enigmáticos extraterrestres. Por outro lado, o western marcou o cinema entre as décadas de 1940 e 1960 e hoje em dia é raro surgir um bom filme de homens com hábitos rudimentares, montados em seus cavalos e empunhando suas armas intimando seus inimigos para um duelo.
A ideia de alienígenas em meio a um cenário de bang-bang é até interessante, mas na prática não funciona. Ao menos neste caso não rolou. Baseada em uma série de quadrinhos homônima ao filme, a narrativa mantém um ritmo irregular e arrastado, além de que o enredo não é lá muito cativante. A história é desenvolvida em Absolution, uma pequena cidade do Oeste americano, que recebe a visita de um desmemoriado que acorda ferido em meio ao deserto e que nem ao menos lembra seu próprio nome. Ele é Jake Lonergan (Daniel Craig), um temido bandido que possui um estranho bracelete que tem a ver com algo que está para acontecer. Após a chegada deste criminoso, o vilarejo passa a ser alvo de ataques alienígenas, incluindo abduções. Lonergan então mostra sua faceta de herói e decide resgatar as pessoas que foram sequestradas e para isso conta com a ajuda de moradores da região, como a misteriosa Ella (Olivia Wilde) e Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford), um rico fazendeiro local que leva a fama de mandão e malvado. Além destes personagens ainda existem um punhado de coadjuvantes, mas o roteiro não dá conta de apresentar cada um deles de forma adequada.
A julgar pelo início, esperava-se um duelo dos bons entre o mocinho e o bandido do conto, digamos assim. Mas o que fazer quando o bonzinho na verdade aparenta ter um passado duvidoso e o homem com cara de poucos amigos demonstra não ser tão mal como todos pensavam? Tentando inovar quebrando estereótipos, Favreau acabou quebrando a própria cara. Todos reclamam que é preciso inovar, mas em alguns casos seguir as linhas tradicionais e clichês é o mais indicado. Craig e Ford foram sabotados por um roteiro confuso que atira para tudo quanto é lado. Não poderia ser diferente, afinal o longa teve nada menos que seis roteiristas (!!!). Roberto Orci, Alex Kurtzman, Damon Lindelof, Mark Fergus, Hawk Ostby e Steve Oedekerk não pareciam estar em sintonia e era preciso ter um outro autor fora do grupo para fazer a limpeza do material, ou seja, cortar excessos, fazer reparos e adicionar elementos que julgasse necessários para deixar a obra o mais redondinha possível. Parece que neste caso não houve esse cuidado, ainda mais levando em consideração que o longa deveria chegar aos cinemas a tempo de aproveitar o verão americano, considerado o período mais rentável do ano para os blockbusters. Correram, correram e tropeçaram feio.
Para não dizer que nada funciona nesta produção, podemos salvar a introdução, digamos os primeiros vinte minutos quando o roteiro explora as características e personagens clássicos do gênero western como forma de captar a atenção do público que pode se divertir tentando reconhecer os elementos que já viram em outros filmes e até mesmo em desenhos animados. Pena que depois o caldo entorne, o surgimento dos efeitos especiais passe a ser a única coisa a gerar certa expectativa e nem mesmo os flashbacks que tentam dar algum sustento ao personagem principal consigam ser inseridos na narrativa de forma eficiente e a agregar algo. Se o texto deixa a desejar, ao menos a produção se salva em seus aspectos técnicos. Os figurinos e cenários são perfeitos, os efeitos sonoros são caprichados e a fotografia também acerta com belíssimos takes de paisagens áridas, mas derrapa feio ao mostrar por várias vezes os personagens em angulações que privilegiam a penumbra, mais uma bola fora que contribui para evitar o envolvimento do espectador. Quanto aos efeitos especiais, bem eles não envergonham a produção, mas também estão longe de surpreender, ao passo que o visual dos alienígenas é uma reciclagem de tantas outras que já foram mostradas no cinema.
Cowboys e Aliens poderia ser um passatempo acima da média se não se levasse a sério demais e assumisse a porção pastiche que a ideia renderia. Muitas piadas, tanto no texto quanto no visual, poderiam ser feitas para tirar um sarro e ao mesmo tempo homenagear grandes produtos do western e da ficção científica e isso sem cair na linha do escracho total. Muitos culpam Favreau pelo resultado final, mas um filme não se faz simplesmente ligando a câmera. Se o roteiro já não é dos melhores não há muito que fazer, ainda mais quando até o elenco parece deslocado. A situação piora com a pressão de produtores que só visam lucros. Como já dito, a corrida para pegar a fase quente nos cinemas e a preocupação com os efeitos tridimensionais, em muitos casos um câncer para o cinema, fizeram com que o diretor e roteiristas acelerassem os trabalhos e mandassem às favas a preocupação com detalhes do desenvolvimento. E com isso, ao término do filme, provavelmente o espectador deva se sentir da mesma forma que o personagem Lonergan no início: desmemoriado, sem lembrar muita coisa do que acompanhou por cerca de duas horas longas e chatas.
Aventura - 118 min - 2011
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