sexta-feira, 11 de março de 2022

A HORA DO ESPANTO (1985)


Nota 9 Obra deu sobrevida aos vampiros e o passar dos anos ajudou a acentuar o clima irresistível


O gênero de terror raramente é visto com bons olhos pelos críticos, mas alguns filmes acabam alcançando certo respeito com o passar dos anos e para o público que curte permanecem na memória como uma agradável lembrança de uma época. Quem já era uma criança crescidinha ou adolescente na década de 1980 certamente se divertiu a beça com as produções de arrepiar que fizeram fama e fortuna. O boom desse tipo de produção outrora se deve muito a rápida aceitação que as fitas VHS tiveram no mundo todo. Se nos cinemas apenas os maiores de idade podiam curtir um terrorzinho, com as videolocadoras as coisas ficaram mais fáceis. Antigamente esse comércio era basicamente composto por lojas pequenas de bairro, o que facilitava a relação entre cliente e atendente e o que antes era proibido em tela grande tinha boas chances de qualquer guri levar para casa. Entre os filmes que bombaram na época está A Hora do Espanto, longa que redefiniu a imagem do vampiro que já estava um tanto desgastada. A obra escrita e dirigida por Tom Holland conseguiu se destacar por impactar muito mais por sugestionar o medo do que escancará-lo por completo. Ok, a conclusão já investe mais em sangue e sustos previsíveis, mas de qualquer forma tornou-se o primeiro produto de terror diferenciado a peitar a concorrência dos seriais killers Freddy Krueger, Michael Myers, Jason Voorhees e companhia.

Naqueles tempos, os medos, sonhos, alegrias e tristezas dos adolescentes foram personificados no cinema sempre colocando jovens no centro de histórias que geralmente mesclavam realidade e fantasia. O cotidiano dos teens estava sempre presente adornado por referências da época, como neste caso em que Charley Webster (William Ragsdale) tem como programa predileto aquele que também era a primeira opção de nove a cada dez adolescentes: assistir um bom filme de terror tarde da noite. O rapaz se divertia na companhia da namorada Amy (Amanda Bearse) com os filmes de horror apresentados na TV por Peter Vicent (Roddy McDowall), mas não esperava que sua própria vida se transformasse em um conto de arrepiar. Quando novos e estranhos vizinhos ocupam a casa ao lado ele passa a vigiá-los, pois desconfia de certas atitudes e tem certeza de que eles são vampiros. Ninguém acredita nessa história, mas o rapaz insiste e pede ajuda para Vicent, que na realidade engana seu público, pois é covarde, não acredita em monstros e só faz seu trabalho por causa do dinheiro. Sabendo que está sendo perseguido, o vampiro sedutor Jerry Dandrige (Chris Sarandon) começa a cercar a vida do garoto de todas as maneiras. Como uma crença popular diz que essas criaturas só podem entrar em uma casa quando são convidados, Webster acha que está seguro, até que Judy (Dorothy Fielding), sua mãe, é seduzida e acaba permitindo a entrada do galanteador vizinho. 


Holland então estreava na direção de forma surpreendente transformando uma ideia simplória e até certo ponto batida investindo na sonorização e ambientação da produção desde a abertura quando o uivo de um lobo faz qualquer um estremecer e automaticamente entrar no clima nostálgico e de arrepiar. As casas no melhor estilo tradicional americano de classe média, os interiores das residências repletos de detalhes e móveis datados, as referências culturais da época, enfim todas as características do período estão presentes, inclusive uma dose de apelo erótico tão comum nos filmes, mesmo aqueles destinados aos adolescentes. Completando o visual, as equipes de fotografia e iluminação capricharam nos takes noturnos e nas cenas em que o protagonista vigia o vampirão. Vivemos junto com o garoto a sensação de medo e curiosidade que se misturam nesse ato. O roteiro também acerta ao não enrolar o espectador. Desde a primeira cena já é possível se embriagar da atmosfera de mistério e o principal conflito da narrativa não demora a ser revelado. Ainda bem. Se o melhor da festa é esperar por ela, Holland mostra-se habilidoso servindo pequenos aperitivos. O final é um pouco fantasioso, mas o clima de tensão e sedução da história compensa, inclusive por resgatar as superstições clássicas que envolvem o vampirismo tais como o mito de água benta e crucifixos para espantar as temidas criaturas da noite, além do fato que somente os golpes com estacas de madeiras podem exterminá-las. O poder de atração dos vampiros também é bem apresentado e nem o detalhe de que eles não têm reflexo no espelho passa batido. 

A construção de um terror quase artesanal, abrindo praticamente mão de efeitos especiais e investindo em uma maquiagem de primeira na reta final, ajudaram na construção da aura de um filme impressionantemente assustador e muita gente passou mal nos cinemas e até em casa quando viram na época. Hoje tais reações soam exageradas já que o tempo passou e outras coisas bem mais impactantes surgiram, mas mesmo assim essa publicidade extra colabora para que o título continue em evidência e aguçando novas plateias curiosas e até mesmo saudosistas. Produção minimalista e caprichada,  o enredo mistura também humor, algo muito característico do gênero no período, o que traz certo ar de ingenuidade. Por exemplo, em meio a caça aos vampiros, Webster também está as voltas com a sua primeira vez e para que a mãe não descubra seus avanços com a namorada, algo totalmente banalizado hoje em dia. A Hora do Espanto também marcou época por trazer inovações a um gênero então já saturado e, como já dito, colaborou para a propagação do mercado de vídeo doméstico. Em uma época em que para os adolescentes parece não haver limites, nada mais espanta e o amadurecimento é precoce, vale a pena resgatar a memória de um tempo em que um jovem tinha conflitos a serem resolvidos a respeito de crenças, credibilidades, responsabilidades, anseios e desejavam ser ouvidos por adultos. 


No elenco, vale destacar a presença do saudoso McDowall que fez com perfeição a transição do covarde oportunista para a figura do herói. O personagem foi batizado de forma a homenagear dois grandes astros que se destacaram fazendo fitas de terror, Peter Cushing e Vicent Price. Também merece destaque Ragsdale, que certamente protagonizou muitos sonhos românticos de fãs e mexeu com o imaginário dos meninos que se imaginavam em seu lugar vivendo esta aventura vampiresca. Já Sarandon também fez um excelente trabalho e conquistou as plateias femininas, mas não conseguiu levar a carreira adiante nas décadas seguintes, principalmente por ter assumido a homossexualidade após terminar um casamento de fachada com Susan Sarandon (ele é o detentor do sobrenome famoso e, dizem as más línguas, que o interesse na relação era da atriz que almejava se tornar conhecida). Sem dúvidas, eis uma excelente opção para reviver as deliciosas sessões noturnas em casa com os amigos ou até mesmo sozinho com luzes apagadas e muita pipoca e refrigerante... E de preferência longe do computador ou celular para manter o gostinho nostálgico. Uma última curiosidade: é citado pelo personagem Vicent, em outras palavras, que os filmes com monstros clássicos já não faziam sucesso porque as plateias estavam preferindo os assassinos mascarados. Olha quanto tempo isso faz e a moda continua rendendo.

Terror - 102 min - 1985 

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3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Guilherme :)
Qdo li a parte do post que diz que a mãe do menino deixa o vizinho entrar em casa, lembrei de um filme que assisti, e que acontecia exatamente isso. A mãe do garoto era seduzida e tudo.
Só não sei se é o mesmo filme.
O que eu vi passou na "Sessão da Tarde".
Tem até uma cena com a família na mesa... e o garoto solta uma "indireta" pro vizinho... E a mãe briga com o filho por causa disso.
É esse filme?? *.*
Bjs ;)

Rodrigo Mendes disse...

Oi Guilherme! Sou apaixonado por este filme. O segundo não fez jus, mas o primeiro é um clássico delicioso e sabe assustar. É um espanto!
Ainda não acredito que terá um remake com Colin Farrell, ainda não sei porque fundamento.

Abs. E fique ligado na próxima sessão do CR. Mais um capítulo da série mosntros da Universal. :D

Rodrigo
http://cinemarodrigo.blogspot.com/

Guilherme Z. disse...

Então Ana (e a quem interessar), eu duvido que este filme teha sido exibido na "Sessão da Tarde" porque ele é muito forte para o horário. Existem outros títulos que usaram essa história de convite para o vampiro entrar em casa, mas realmente não sei te dizer especificamente o nome do qual você se refere. "A Hora do Espanto" só deve ter sido exibido a noite. A última vez que vi na TV foi de madrugada na Globo em 2010, mas não cheguei a ver inteiro por causa do horário e aluguei o DVD para fazer este texto. Recomendadíssimo, até para podermos comparar com o remake que vem por ai.