segunda-feira, 30 de novembro de 2020

A ÁRVORE DA VIDA


Nota 9,0 Obra super original e inteligente infelizmente talvez só seja apreciada por plateia restrita


Filmes que participam ou vencem festivais já chegam aos cinemas com uma bela propaganda e com um público cheio de expectativas. Quando há um elenco e diretor de peso e o apoio da mídia, principalmente da internet, a ansiedade pelo que está por vir é ainda maior. Contudo, ter bastante publicidade de forma alguma serve como termômetro para avaliar se um filme é bom ou ruim e nessas muita gente acaba se decepcionando com o que assiste impulsionadas pelo pensamento de que precisa estar por dentro do que está sendo comentado. É ótimo que exista essa vontade de participar de alguma discussão, mas é preciso estar preparado para saber separar o gosto pessoal do coletivo. No caso de A Árvore da Vida também é preciso saber distinguir o que é um cinema de puro entretenimento e o que é uma produção voltada ao conceito de arte. O longa ganhou projeção pelas indicações e prêmios que conquistou e logo virou objeto de análises de blogs e sites que fomentaram sua publicidade, mas só pelo seu poético título já era de se esperar que é uma obra que prioriza sentimentos e contemplação, ainda mais quando descobrimos que leva a assinatura do diretor e roteirista Terrence Malick. Na época completando 38 anos de carreira, ele contabilizada apenas cinco longas em seu currículo, mas a pouca produtividade em nada arranha a fama do cineasta, pelo contrário, curiosamente só soma, sendo que seus filmes surgem com uma aura diferenciada. 

A volta aos holofotes foi para tratar da relação entre pai e filho de uma família comum propondo uma interessante analogia com o surgimento do universo até o fim dos tempos. Dessa forma, o diretor narra uma grande viagem pela evolução da vida e tenta desvendar seus mistérios ao mesmo tempo em que liga esses temas ao viés familiar mostrando os efeitos da natureza e da fé sobre um grupo de pessoas. Chegaram a tentar rotular o filme como produção de cunho religioso, mas na verdade não existe defesa de dogmas de qualquer tipo de crença. O objetivo é levar à reflexão sobre os caminhos da vida que é feita de momentos de alegria e tristeza em proporções semelhantes, além de ser influenciada pelos rumos da natureza e do próprio ser humano. A princípio o filme tem uma estrutura narrativa linear e acompanhamos paralelamente o cotidiano de uma família no interior do Texas em meados da década de 1950, o casal O’Brien (vividos por Brad Pitt e Jessica Chastain) e seus três filhos, e na cidade de Houston contemporânea e frenética somos apresentados a rotina melancólica do primogênito do clã, Jack (Sean Penn). Este homem cresceu traumatizado com a morte de um de seus irmãos e a dor da perda ainda não foi superada. 


Para explicar o atual estado de espírito de Jack entram em cena flashbacks e o menino Hunter McCracken o interpreta na infância. Sua relação com o pai é marcada por atritos, mas no fundo o patriarca tem uma maneira particular de demonstrar afeto pelos filhos. Enquanto ele quer o melhor para a prole educando-os com rigidez para que se tornem pessoas de bem e responsáveis, a mãe demonstra carinho incondicional pelos garotos e sua natureza a impede de entrar em conflito com o marido. Certamente a produção não teria a mesma repercussão se não ostentasse os nomes de Pitt e Penn nos créditos, porém, eles não apresentam a melhor interpretação de suas carreiras. Eles fazem um trabalho muito correto, mas acabam ofuscados por Chastain e McCracken. Ela representa perfeitamente o amor maternal e ele, mesmo com pouca idade, surpreende ao mostrar de forma velada a crueldade infantil, fruto da relação que vive com seu pai. Mesmo com boas interpretações, o que impressiona é a quantidade de assuntos abordados e os diversos momentos marcantes, tudo isso tendo como fio condutor a tentativa de explicar a dor da perda, mas a ideia não é falar da morte e sim da vida. Em momento algum o foco do texto é alguma pessoa falecida, mas as atenções são voltadas aos efeitos que uma perda irreversível pode ocasionar em um núcleo, no caso, familiar. 

Para alcançar seus objetivos, Malick cria uma interessante mistura de drama, ficção científica e conceitos religiosos, o que deve exigir certa concentração extra por parte do espectador e talvez até que ele tenha paciência para assistir mais uma, duas, três ou quantas vezes for necessário para ter total compreensão do enredo. O problema é ter essa vontade, algo que até muitos adeptos de um cinema mais intelectual não conseguiram. Em pouco mais de duas horas, são muitos os detalhes para serem absorvidos em apenas uma exibição, até porque não é seguida uma ordem linear para os fatos, o que pode comprometer o entendimento instantâneo e até o impacto das imagens podem fazer a atenção dispensar. A obra poderia ter ficado restrita a festivais, mas felizmente entre as premiações mais comerciais ainda existem votantes conscientes do que é a arte de fazer cinema e assim o longa conseguiu chegar até na festa do Oscar, embora como coadjuvante de luxo para nos fazer acreditar que a Academia de Cinema ainda é uma instituição séria. Sem dúvidas este é um produto para poucos e muita gente deverá dizer que o filme é genial apenas para não se sentir diminuído, pois não entendeu praticamente nada. Para estas pessoas resta a contemplação de belíssimas cenas, com direito a suntuosos cenários e efeitos especiais, acompanhadas de uma eficiente e tocante trilha sonora, mas isso não impedirá que elas sintam esta produção como pretensiosa, arrastada e talvez até sem sentido. Para alguns, esta narrativa é uma chatice só ou uma criação de algum maluco. Para outros, um verdadeiro espetáculo. Há aqueles que devem esbravejar que odiaram, assim como outros vão encher a boca para dizer que é o melhor filme que já assistiram. 


O estilo de Malick é cheio de mensagens subliminares, cenas longas e não raramente desprovidas de diálogos, além de um apuro técnico e visual invejáveis. Seu estilo sazonal de trabalho pode ser visto como uma forma de respeito ao mundo cinematográfico. Com tempo de sobra para se dedicar ao longa da vez, o diretor consegue criar uma aura ímpar em volta de seu nome e assim cada nova obra sua é um verdadeiro evento que atrai a atenção de cinéfilos que têm a certeza de que irão acompanhar um trabalho único. Sendo tão metódico e detalhista, não é de se admirar que A Árvore da Vida quase que imediatamente ao lançamento já foi rotulado como obra-prima e o grande trabalho do diretor até então justamente por sua ousadia e ambição. Praticamente conduzindo uma sinfonia, ele teve a preocupação para que cada elemento técnico ou visual acompanhasse seu belo roteiro que é excêntrico e curioso e difícil de ser resumido em uma breve sinopse. O surgimento dos elementos naturais e da vida, as suas transformações, o respeito à religião, a formação de uma família de caráter e a perda de um ente querido. É muito complicado escrever em poucas palavras tudo que esta produção tem a nos oferecer e, como já dito, cada um terá uma interpretação diferente e mesmo tocando em assuntos tristes, não deixa de ser uma exaltação à vida e ao seu ciclo sem fim. Seja para falar bem ou mal, esta é uma obra única e que todos deveriam ao menos uma vez na vida assistir.

Drama - 138 min - 2011

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Um comentário:

Marcelo Keiser disse...

Esse é um bom filme, embora do trabalho de Terence Malick, o longa-metragem de guerra chamado "Além da Linha Vermelha" seja o filme que mais me agrada, justamente por ser mais acessível.

abraço