quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

COINCIDÊNCIAS DO AMOR

NOTA 7,0

Enfocando mais o protagonista
masculino e dando ênfase ao seu
amadurecimento forçado, longa
oferece certo conteúdo reflexivo
É possível um intérprete levar adiante sua carreira basicamente reciclando um mesmo personagem? A trajetória de Jennifer Aniston prova que sim, basta saber incorporar ao perfil das criações características compatíveis a sua faixa etária. Ela já viveu a sua fase de sonhar com príncipe encantado, curtir a vida trocando de namorado como quem troca de roupas, mas chegou a hora do estereótipo da quarentona que se preocupou mais com a vida profissional que com a pessoal estampar seu currículo (coincidindo com os rumos de sua vida pessoal). Em Coincidências do Amor ela dá vida à Kassie Larson, uma mulher que sempre sonhou em ser mãe, mas as preocupações para conseguir sua independência financeira e o perfil de homem ideal (entenda-se bonito, rico, culto e tudo o mais que possa elevar a moral do pretendente) acabaram a cegando a ponto de não ver que o tempo passa rápido. Quando se deu conta já estava próxima de uma idade limite para engravidar e decidiu partir para uma produção independente. Recorrendo a um banco de esperma, ela teve a oportunidade de selecionar um doador levando em consideração o que ela esperava do futuro do filho, mas por tabela baseou-se em características que formariam o perfil do parceiro ideal. Assim, cerca de sete anos mais tarde ela resolve voltar para sua antiga cidade, a agitava Nova York, e aproximar o pequeno Sebastian (Thomas Robinson) de seu pai biológico, Roland (Patrick Wilson). A intenção era evitar que o garoto se tornasse um adulto complexado, algo que já se manifestava na infância, e de antemão ter a resposta para uma inevitável pergunta a respeito de quem seria seu pai. É claro que tentando fazer essa aproximação ela acaba também tendo contato com o homem dos seus sonhos e o interesse é correspondido, tudo para atacar o ciúmes de Wally Mars (Jason Bateman), um dos melhores amigos desta mulher, mas que não concordava com a ideia dela ser mãe solteira, uma decisão que mudaria a vida dela irremediavelmente. A surpresa é que para este tímido apaixonado, que desperdiçou algum tempo antes a chance de assumir o papel de marido dela, a existência de Sebastian também mudaria seus planos para o futuro. Quando estava tudo certo para a inseminação, Kassie fez uma festa para comemorar e Mars, já demonstrando um interesse além da simples amizade por ela, bebeu todas para suportar a decepção e acabou aprontando no banheiro.

Devido a uma confusão, Mars acaba desperdiçando o sêmen original e fora de si tem a brilhante ideia de se divertir com certa revistinha para repor o conteúdo do vasilhame de doação. Sem querer, o fruto desta gravidez induzida carregará os genes de um cara bem apessoado e inteligente, mas cheio de manias e hipocondríaco. Contudo, Kassie ficou anos sem saber desta troca, embora sinais de alerta não faltassem para ela ver que seu filhinho tinha muitos pontos em comum com seu grande amigo, tanto que o próprio logo ficou com a pulga atrás da orelha quando o conheceu. Enquanto Mars especula a possibilidade de ser o pai, a amiga só tem olhos para o atlético e bonitão Roland que se esforça para criar laços afetivos com Sebastian apoiando-se em truques manjados para tentar transformar o filho em sua imagem. Bem colocada, por exemplo, a frustração do garoto ao ter sua festa de aniversário decorada e animada por temática esportiva parecendo mais que o pai estava tentando matar uma vontade de sua própria infância tamanha sua alegria no evento. Se tem mãe que é cega, Kassie é um ótimo exemplo disso. Enquanto não fica sabendo da verdade com todas as letras e em alto e bom som, ela simplesmente vê com bons olhos a aproximação do filho com Mars, afinal o menino sempre foi de poucos amigos. A confiança é tanta, e a alienação para não perceber a paixão latente do rapaz idem, que ela chega a deixar Sebastian uns dias com seu amigo enquanto vai fazer uma viagem romântica com o pai/marido escolhido a dedo. Apesar de sabermos como tudo vai acabar, só pela cena de abertura já podemos dar um crédito de confiança ao longa por conta do ritmo acelerado em que é apresentada a correria da rotina nova-iorquina, o que já faz um link com o mote principal do roteiro, a opção cada vez mais comum das pessoas constituírem família em uma fase de mais maturidade impulsionadas pela certeza de um padrão financeiro mais estável conquistado com muito trabalho. Baseado em uma crônica do escritor Jeffrey Eugenides, autor do livro que originou o filme As Virgens Suicidas, o roteiro de Allan Loeb, de Coisas que Perdemos Pelo Caminho, alinhava de forma acima da média situações comuns ao gênero das comédias românticas com conflitos atuais e típicos das grandes metrópoles, principalmente a discussão sobre as famílias disfuncionais, no caso, Kassie que as vezes parece ostentar o filho como um troféu que coroa sua condição de mulher bem sucedida e o próprio garoto cheio de problemas típicos de quem cresceu cheio de mimos e sem uma figura paterna para se inspirar. Nessas e outras, Roland, apesar do entusiasmo em ter um filho para sanar possíveis frustrações e tentando reconstruir sua vida após um divórcio, acaba sendo o tipo mais estereotipado da trama (não levando em consideração os coadjuvantes vividos por Jeff Goldblum e Juliette Lewis que em nada agregam à proposta) e fica sem função quando a questão do romance perde fôlego para o drama familiar.

É justamente a busca por um modelo a se espelhar que rende uma avaliação mais generosa a esta produção. Graças a ajuda para ensinar Sebastian a enfrentar os garotos que o provocam, embora com desfecho frustrante para o menino, ou a hilariante sequência para livrá-lo da praga dos piolhos, Bateman acaba invertendo o jogo e tornando-se o protagonista do filme no papel de um homem totalmente convencido de que é o pai biológico, mas prefere manter isso em segredo para não azedar sua relação com a mulher que ama e tampouco confundir ainda mais a cabeça do filho que para todos os efeitos já tem alguém oficialmente para chamar de pai. O ator, geralmente associado a comédias, tem o perfil exato para viver um homem comum e, mais ainda, um ar inocente que acaba imprimindo uma coincidência entre seus personagens: o cara de meia idade que ainda guarda muitos resquícios da infância e carece de amadurecimento que obviamente é adquirido na marra. Da comédia inicial ao perfil ligeiramente mais dramático da reta final, Bateman rouba a cena e Aniston sábia e generosamente se contenta e dá o melhor de si para uma personagem que acaba ficando em segundo plano, embora sua reação ao saber de toda presepada da troca de sêmen contrarie as expectativas de quem esperava um salseiro típico de humor pastelão. A dupla brilha nesta cena-clímax e reforça a ideia que Coincidências do Amor tem um quê a mais e merece ser lembrada em meio a tantas comédias românticas semelhantes. Os diretores Will Speck e Josh Gordon, do anárquico Escorregando Para a Glória, surpreendem ao equilibrarem humor popular e drama leve, além de provarem eficiência na direção de atores. É perceptível a transformação de Mars do marmanjo imaturo ao homem disposto a assumir responsabilidades e conta muito para tanto os chavões de aproximação com seu filho, incluindo a sempre emotiva cena da hora de dormir quando as crianças costumam revelar sentimentos melancólicos e fazer os adultos ficarem com olhos marejados. Não há como não se afeiçoar ao protagonista, mesmo neurótico um tanto carismático, diga-se de passagem, Sebastian é sua cópia cuspida e escarrada o que justifica a relação pai e filho tomar o lugar de importância do enredo. A obra, em suma, é mais uma a ser somada na lista de recentes produções que focam as famílias modernas, como Plano B e Minhas Mães e Meu Pai, porém, é outra a não aprofundar questões sobre a validade de literalmente programar o nascimento de uma criança, incluindo definições de tipo físico e até projeções quanto ao seu intelecto. Ficamos a espera de um bom filme a respeito.

Comédia romântica - 101 min - 2009 

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2 comentários:

Tsu disse...

Oi Guilherme!
Primeiramente quero agradecer á sua visita em meu bog, espero contar com ela mais vezes

Sobre o filme mencionado aí em cima o que me interessou foi a resença de Jeff Godblum..há muito tempo que nãoo via o eterno "Ian Malcom" no cinema =)

www.empadinhafrta.blogspot.com

Marcos Rosa disse...

E aí Guilherme,
Realmente gostaria de ver a Jennifer fazer outros tipos de filme mais vezes, um drama ou uma aventura, sei lá. Ela tá ficando com a cara desse tipo de comédia, assim como Deborah Secco deveria parar um pouco de fazer papel tipo "Bruna Surfistinha".

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http://algunsfilmes.blogspot.com