domingo, 20 de junho de 2021

A MÚMIA - TUMBA DO IMPERADOR DRAGÃO

 

Nota 4 Abusando de efeitos especiais, longa perde a essência da franquia e demonstra desgaste


O sucesso de A Múmia e O Retorno da Múmia dava a entender que uma nova franquia de aventura se estabelecia, mas como a maioria também estava fadada a ser encerrada em seu terceiro capítulo. A Múmia - Tumba do Imperador Dragão decepcionou em todos os quesitos e fez valer a máxima de que em time que está ganhando não se deve mexer. Os problemas começam pela direção. Stephen Sommers, diretor e roteirista dos primeiros filmes, decidiu assinar apenas como produtor e entregou o comando do projeto para Rob Cohen que não poderia entregar algo além do descartável levando em consideração seu currículo repleto de obras aceleradas e descerebradas como Triplo X, Stealth - Ameaça Invisível e Velozes Furiosos, este bem sucedido mais pelo montante de continuações que gerou do que pelo filme em si. Seu contato com mitologia antiga destoa completamente do que fora trabalhado por Sommers até então. Se já era um universo um tanto fantasioso, o substituto faz questão de elevá-lo a potência máxima do absurdo partindo da mistura de elementos da cultura do Egito com a China.

A trama se passa sete anos após o aventureiro Rick O’Connell  (Brendan Fraser) ter enfrentado o Escorpião Rei na segunda aventura da franquia. Agora ele e sua esposa Evelyn (Maria Bello, substituindo Rachel Weisz) estão aposentados e levando uma vida pacata no interior da Inglaterra. Lutando para sair da sombra dos pais, Alex (Luke Ford), o filho adolescente do casal, dá continuidade aos trabalhos dos arqueólogos sem que eles saibam. O rapaz participa de uma expedição na qual consegue encontrar a tumba do Imperador Dragão (Jet Li),  um ganancioso líder da antiga China que faz um acordo com uma feiticeira para torná-lo imortal e dominar o mundo. Quando ele não cumpre sua parte no pacto acaba sendo amaldiçoado tendo sua alma aprisionada em uma escultura de terracota e o mesmo castigo também é aplicado aos milhares de soldados que o serviam. Todo esse histórico do vilão é esmiuçado em um prólogo relativamente longo, mas ainda assim curto para o tanto de informações despejadas ao público.


Sem saber do envolvimento do filho, os O’Connell são recrutados para ir à China e resgatar um objeto que não pode em hipótese alguma cair em mãos erradas. Tal artefato é disputado por mafiosos chineses que desejam trazer o antigo imperador de volta à vida e é claro que tal objetivo será concretizado colocando a família aventureira de volta à ativa trazendo a tiracolo mais uma vez o atrapalhado Jonathan (John Hannah), irmão de Evelyn, para dificultar as coisas. O roteiro de Alfred Gough e Miles Millar, dupla criadora do seriado "Smallville", fica muito aquém do restante da franquia. Fica a impressão de que não faziam ideia em como desenvolver o enredo e acabaram criando uma narrativa cheia de furos e conveniências. A ideia de levar uma atmosfera arraigada à cultura egípicia para outro país poderia trazer certo frescor para a franquia e até abrir o leque para explorar a temática em outros territórios, como fica clara a deixa de que a próxima parada dos aventureiros poderia ser o Peru onde Jonathan acredita não existirem múmias. Devemos interpretar como um desfecho bem humorado à trilogia dando a entender que os O’Connell estariam fadados a esbarrar em seres putrefatos até o fim de seus dias, mas não duvide que se a bilheteria tivesse sido satisfatória de fato seriam produzidas novas aventuras.

Esteticamente o longa também incomoda, pois destoa do estilo adotados nos primeiros filmes. Em toda a franquia há o emprego da computação gráfica, mas nas mãos de Sommers havia certo quê de trucagens caseiras, o que acentuava a sensação de nostalgia das aventuras. Já no terceiro capítulo, Cohen carrega demais nos efeitos especiais mesclados a efeitos práticos já conhecidos, mas o resultado é estranho e artificial, desperdiçando assim o astro oriental Li que pouco aparece em carne e osso sendo a maior parte do tempo coberto por um pesado CGI. Esperamos ver a tal múmia cuspindo ou se transformando em areia, mas o que temos é um forçoso flerte com fogo, por exemplo, mas ainda assim não tão vexatório quanto ao visual dado aos yetis, espécie de monstros da neve que surgem a certa altura numa sequência desnecessária. Em razão das prolongadas cenas de ação, diga-se de passagem, muitas delas sem o menor valor narrativo, a atenção dispersa facilmente e o cansaço se impõe. Assim, o que era uma série descompromissada de aventura começa a chamar mais atenção para seus defeitos. 


Cohen apresenta uma direção insegura e convencional, algo tão pífio quanto seus trabalhos anteriores, sempre priorizando a adrenalina frente a qualquer resquício de inteligência. O diretor aplica tantos cortes bruscos em determinadas cenas de luta que fica praticamente impossível definir qual personagem está em vantagem, isso quando não aplica o recurso de câmera lenta em algumas cenas rápidas, para maximizar a tensão. A Múmia - Tumba do Imperador Dragão falha em captar a essência de seus antecessores. Os realizadores atiram para tudo quanto é lado na tentativa de oferecer algo grandioso e, nessa empreitada, esqueceram que elemento o mais importante franquia é a atmosfera de aventura e não o tom épico de grandes batalhas ou vilões superpoderosos. O que deveria ser o clímax da trama, o embate entre O’Connell e o Imperador, termina reduzido a um confronto de acrobacias super coreografadas desprovidas de emoção ou tensão. Quando nem mesmo o humor escapista consegue render bons momentos fica bem claro que a série esgotou suas possibilidades. 

Aventura - 112 min - 2008

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