domingo, 6 de setembro de 2015

BELLA

Nota 7,0 Mesmo abusando do dramalhão, longa toca com trama de superação e de fácil identificação

Dramas feitos fora dos padrões hollywoodianos costumam decepcionar muita gente, mas esse é mais um problema de preconceito do que a respeito de qualidade. Muitas vezes eles são carregados de mensagens e histórias edificantes, mas em geral abusam de momentos contemplativos, idas e vindas no tempo e suas conclusões costumam deixar questões no ar para o espectador refletir ou simplesmente se encerram sem o tradicional felizes para sempre. Justamente pelo modo diferenciado de contar histórias produções do tipo tendem a agradar mais aos críticos que o grande público e acabam ficando restritos a nichos específicos, mas nem tudo que é feito fora do eixo de Hollywood necessariamente precisa ser esculpido para ganhar prêmios em festivais e tampouco pertencer ao estilo papo-cabeça. Isso é o que prova o agradável drama Bella. A história se passa em uma movimentada área de Nova York onde Manny (Manny Perez) é o bem-sucedido dono de um restaurante de comida típica latina. Ele tentou estender a chance que teve para subir na vida ao seu irmão caçula Jose (Eduardo Verástegui) e o nomeou chef de cozinha, mas o clima entre os dois não é dos melhores. A gota d'água acontece quando o empresário despede a garçonete Nina (Tammy Blanchard) por causa de seus constantes atrasos. Solidário, Jose a convida para acompanhá-lo em uma visita que deseja realizar a seus pais e no caminho conta um pouco de seu doloroso passado. Ele já foi um jogador de futebol de sucesso, disputado por clubes de diversos países, mas precisou interromper a carreira no ápice após causar a morte acidental de uma criança e ser condenado à prisão. A tristeza que Jose carrega consigo até hoje o toca profundamente ao passo que Nina também sofre com os erros que cometeu na sua vida como, por exemplo, uma gravidez indesejada justamente agora que foi demitida do emprego. Dividindo suas tristezas e frustrações, essas duas pessoas então se unem para constituírem novas possibilidades para suas vidas.

Trabalho de estreia do diretor Alejandro Gomez Monteverde, este drama foi considerado o Melhor Filme pelo júri popular no Festival de Toronto, no Canadá, em 2006 e custou uma ninharia que rendeu quase três vezes mais que o seu valor só em território norte-americano, muito provavelmente pela identificação da temática sobre imigrantes tentando vencer na vida em solo ianque. Já no Brasil, passou rapidamente pelos cinemas e ainda com dois anos de atraso, um descaso sem justificativa. Talvez, como já dito, seja a maneira diferenciada de contar uma história que prejudicou sua carreira, embora como o titulo induz o final feliz esteja garantido e não fiquem assuntos pendentes. O desenvolvimento do enredo, escrito pelo próprio diretor em parceria com Patrick Million e Leo Severino, é tocante, porém, deixa no ar uma sensação incômoda de que poderia ir além do oferecido. Talvez isso ocorra por causa da expectativa depositada por sua origem diferenciada, embora como uma co-produção do México com os EUA a obra  tenha mais diálogos em inglês do que em espanhol. De qualquer forma, o conteúdo é universal e faz uso de uma narrativa fragmentada na qual passado e presente se alternam de forma delicada. Para tanto, Verástegui aparece em cena com duas caracterizações diferenciadas para demarcar momentos distintos de seu personagem. Aparece jovem, bonito e vaidoso em seu auge profissional, mas depois surge com aparência cansada, mal cuidado e depressivo. O encontro de Jose e Nina serve para que os dois compartilhem seus anseios e culpas e de certa forma se completem vivenciando passagens de pura emoção. A grande lição é mostrar que para tudo existe uma saída, sempre há tempo para recomeçar e que é preciso prestar atenção nos pequenos detalhes do dia-a-dia, como um simples almoço em família, para percebermos que a vida vale a pena e que pequenas lembranças do tipo são muito maiores que qualquer problema. A Bella do título é o resultado final das lições que Jose e Nina conquistaram em um único e marcante dia. Sem muitas pretensões, é uma produção agradável e reflexiva, mesmo carregando um pouco no jeitinho de dramalhão novelesco.

Drama - 91 min - 2006

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2 comentários:

renatocinema disse...

Seu texto me instigou.

Sempre procuro filmes fora do "padrão".

Será uma ótima opção.

Luís disse...

Nunca vi o filme, mas concordo com o comentário acima: o seu texto é instigante e fez com que eu quisesse assistir a esse filme, o qual vou procurar.