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NOTA 6,0 Drama explora a intimidade de casal que vive de aparências, mas o destino trata de desmascará-lo |
Existem alguns filmes que não tem defeitos a primeira vista
e talvez assistidos pela segunda ou terceira vez também não revelem nenhum
detalhe que os desqualifiquem, mas ainda assim não são obras memoráveis,
todavia, não temos coragem de desmerecê-las. Mentiras Sinceras é um produto
desse tipo. Não fez barulho em sua rápida passagem pelos cinemas e hoje é um
título mais conhecido por um seleto grupo de espectadores que não o elevam a
potência máxima de obra de arte, mas sabem reconhecer as suas qualidades e
apontar como o principal defeito do longa a falta de ousadia e ambição do
diretor inglês Julian Fellowes. Estreando no cargo de direção, mas experiente
na área de roteiros, tendo ganhado um Oscar pelo texto de Assassinato em Gosford
Park, este profissional também é ator, o que explica a sua predileção em
realizar um filme para atores brilharem e as situações servirem como meras
desculpas para os personagens extravasarem suas emoções contidas em nome de
valores sociais, morais ou até mesmo por medo de seus próprios sentimentos.
James Manning (Tom Wilkinson) e sua esposa Anne (Emily Watson), bem mais jovem
que ele, formam o típico casal de fachada. Para amigos, vizinhos e parentes
parecem muito felizes no casamento, mas na intimidade eles mal se falam e
parecem guardar segredos e ressentimentos um do outro. Contudo, ele vê esta
relação com bons olhos e acredita que vive um casamento feliz. Já ela tem
certeza do contrário, mas parecer ter se acostumado a viver na rotina e
relativamente distante do companheiro. Vez ou outra o casal deixa o melancólico
cotidiano londrino para aproveitar algum tempo no campo e James tem a
possibilidade de se divertir com os jogos de críquete, mas certo dia sua esposa
acaba aproveitando essa distração do marido e arruma uma nova companhia. Bill
Bule (Rupert Everett) é herdeiro de uma rica família inglesa, mas acaba de
voltar dos EUA com novos hábitos e modos de pensar. É justamente o modo
desencanado de ver a vida que chama a atenção de Anne, um comportamento
totalmente oposto a seriedade de seu marido.

A fita ganha um ritmo melhor quando são inseridos os
momentos que revelam detalhes das investigações do tal atropelamento e das
complicações que por ele foram desencadeadas, ainda que o espectador a essa
altura já conheça o culpado. Devido a curta duração da produção, pouco menos de
uma hora e meia de projeção, logo o grande mote do enredo é desfeito e Fellowes
precisa se virar para preencher os minutos da parte final, o que implica em um
ritmo narrativo arrastado com cenas pouco interessantes para chegarmos a uma
conclusão nada empolgante. Mentiras Sinceras no final das contas não se define
como um drama envolvendo um triângulo amoroso e tampouco se assume como um
filme policial por causa das limitações explícitas deste entrecho, assim a obra
fica em cima do muro o que acaba sendo prejudicial. Por outro lado, torna-se
uma produção um tanto realista propondo ao espectador refletir sobre assuntos
cotidianos e que mexem com os brios da sociedade, principalmente para aquelas
pessoas que se auto-intitulam representantes da alta classe social e que não
querem ver seus nomes envolvidos em escândalos. Tirando todo o verniz de obra
cult, embora apresente seu conflito de forma clara, direta e bem antes dos
créditos finais subirem, esta produção no fundo trabalha com um tema
corriqueiro já apresentado em tantos outros filmes. É melhor falar a verdade, ter
a consciência tranquila e arcar com as consequências ou simplesmente tentar
abafar um crime para dar continuidade a uma farsa para manter as aparências? Aqui
tal dilema é vivido no âmbito do matrimônio, mas certamente todos já vivemos
momentos de dúvidas nos quais estavam em jogo a felicidade parcial, porém, real
e a felicidade total, ainda que só de fachada. Esta é uma dica para ver com
calma e para refletir e de forma alguma revela-se uma perda total de tempo como
alguns dizem.
Drama - 84 min - 2005
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