quinta-feira, 13 de maio de 2021

LEIS DA ATRAÇÃO


Nota 5 Reciclando clichês e forçando interações dos protagonistas, bom argumento é desperdiçado


Quem não conhece o clichê do casal que não se bica, mas que no fundo segura a tentação de revelar seus verdadeiros sentimentos? Uma hora a coisa explode, os dois se entendem e vivem felizes para sempre. Bem, a comédia romântica Leis da Atração buscava justamente desfazer a mágica do final feliz, mas por mais que dê voltas acaba sendo previsível do início ao fim. Aqui a intenção do diretor Peter Howitt, do bem mais divertido Johnny English, era mostrar como um casal poderia viver um amor sem dar o braço a torcer, principalmente quando há interesses profissionais em jogo. Os advogados Daniel Rafferty (Pierce Brosnan) e Audrey Woods (Julianne Moore) são especialistas em casos de divórcios e conhecem todas as artimanhas para saírem vitoriosos dos tribunais. O defensor é novo em Nova York, mas sua fama de vencedor já chegou aos ouvidos da advogada que apesar da imagem autoconfiante na verdade morre de medo de falhar, principalmente perder uma causa para um novato no pedaço. Quando surge a oportunidade de eles terem que defender pontos divergentes de uma mesma questão as coisas pegam fogo e as rusgas começam desde quando se apresentam. Ela, muito hipócrita, se gaba de praticar seu ofício seguindo rigorosamente os mandamentos da lei, mas não hesita em invadir o escritório do rival em busca de algum material comprometedor sobre os processos. Ele, por sua vez, sempre tem uma carta na manga e usa todo seu poder de persuasão para conquistar uma sentença vantajosa aos seus clientes, mesmo que para tanto precise ser desonesto. 

Logo na primeira audiência em que se cruzam, Rafferty mostra que é muito perspicaz e sabe até fazer sua publicidade junto a imprensa, vencendo o primeiro round de um caso em que Audrey foi trapaceada pela própria cliente que lhe omitiu certos segredos sobre sua vida particular. Com segundas intenções, a advogada até tenta fazer amizade com o rival com o objetivo de conhecer seu estilo de trabalho para estruturar melhor suas defesas, mas seu jeito explosivo acaba levando-os a um bate-boca que termina, ironicamente, na cama. Sim, depois de uma noitada daquelas logo pela manhã eles voltam a brigar nos tribunais e Rafferty discretamente se aproveita do segredinho sobre o que vivenciaram horas antes para acuar a rival que acaba perdendo a ação. Nova York é grande o suficiente para ter no mínimo dois excelentes advogados da área conjugal, mas Audrey não admite dividir a fama que cultivava. Os dois passam a se enfrentar regularmente nos tribunais conquistando vitórias e derrotas em proporções semelhantes, mas as farpas que trocam escondem que existe um sentimento muito mais nobre rolando entre eles. Todavia, ao mesmo tempo em que o destino parece querer aproximá-los também parece querer incendiar a relação. Por acaso Audrey conhece Serena (Parker Posey), uma jovem e famosa estilista que está decidida a se separar do marido roqueiro Thome Jamison (Michael Sheen), uma disputa que chamaria a atenção da mídia e que envolve a acirrada posse de um castelo na Irlanda. 


A advogada estava certa de que Serena iria contratar os seus serviços, mas quando iam fechar o acordo ela é surpreendida ao ver a moça de conversa com Rafferty, este que propõe que ambos tentem não se verem como rivais, mas sim como parceiros neste caso trocando informações sigilosas de seus clientes a fim de chegarem a um resultado satisfatório para ambas as partes. Eles bem que tentaram, mas seus contratantes são osso duro de roer, assim, separadamente, os advogados viajam até o tal castelo da discórdia para avaliar o valor do imóvel e buscarem informações sobre a vida particular do casal com seus empregados, porém, mais uma vez o destino aproximou os defensores e até colocou um providencial trailer velho e destrancado no caminho deles para passarem uma noite. Ambos relutando reconhecer que existe uma atração mútua, eles acabam literalmente embriagados pela atmosfera de um tradicional festival irlandês que exalta o amor e naturalmente terminam a noite juntos na cama, porém, com um diferencial: estão casados. Enchendo a cara como adolescentes, eles acabaram aceitando se casar durante a festa em uma cerimônia simbólica. Se o filme já estava meia boca até então, é justamente nesse ponto que perde o rumo de vez. Com uma aliança fajuta nas mãos, fica claro ao espectador que eles participaram de uma encenação, mas como duas pessoas teoricamente tão inteligentes iriam a aceitar a ideia de que se uniram da noite para o dia sem contestar ou ao menos procurar o padre para esclarecimentos? Simplesmente eles aceitam a situação, demonstrando pânico passageiro, e retornam aos EUA decididos até mesmo a morarem sob o mesmo teto, mas sem contato íntimo, tudo para evitar que suas imagens profissionais sejam abaladas.

É uma situação paradoxal. Ao mesmo tempo em que querem vender uma falsa imagem de casal feliz, também saem diariamente de casa juntos para nos tribunais se colocarem em lados opostos e defender a ruptura de relacionamentos. A velha história da faça o que eu digo, mas não o que eu faço poderia render momentos muito bons de diversão e até mesmo de reflexão, mas o roteiro de Aline Brosh McKenna e Robert Harling é extremamente frágil e isso não é só pelo fato de já sabermos que o final feliz está garantido. O problema é que o enredo parece incorporar todos os clichês possíveis das comédias românticas e faz isso sem agregar ao menos algum charme próprio. Apesar da apresentação dos personagens principais e a exposição do conflito que norteará a trama serem bem feitinhos e promissores, o longa não demora a derrapar. Talvez tentando adicionar um mínimo de novidade à trama, Howitt erra ao antecipar demasiadamente o envolvimento concreto dos protagonistas, uma forma de evidenciar que eles não são mais adolescentes e tem livre arbítrio e maturidade para passarem a noite juntos e no dia seguinte partirem para suas rotinas como se nada tivesse acontecido. Por outro lado, a citada reação à estranha cerimônia de casamento nos remete a crianças assustadas em serem os noivos da festa junina com medo de virarem alvo de chacota. 


Brosnan e Julianne se esforçaram para provocar faíscas, mas o passar dos anos prova que o casal não é nada memorável. Então recém-destituído do posto de James Bond, o ator na época estava reaprendendo a viver tipos comuns, mas sua atuação neste caso é semelhante a que teve em Uma Babá Quase Perfeita quando ainda era apenas chamado para papéis secundários. Tem mais falas e cenas obviamente, mas a insegurança em pisar no terreno do humor é a mesma. Já sua parceira acumulava então quatro indicações ao Oscar e um currículo respeitável de filmes independentes, mas um papel fraquinho como o de Audrey soa como um regresso em sua carreira. Já habituados em produções do tipo, Hugh Grant e Drew Barrymore, por exemplo, certamente se sairiam melhor e a desenvoltura e carisma do casal elevariam a qualidade do texto. E aquele amigo gay, a mulher assanhada ou a secretária fofoqueira tão comuns em filmes assim? Leis da Atração consegue uma avaliação melhorzinha por dispensar tais tipos e apostar em uma divertida e elegante senhora a frente do seu tempo e obcecada por juventude e beleza. Sarah Miller (Francis Fischer), a mãe de Audrey, é detentora de algumas poucas piadas, mas que salvam a fita do fracasso.

Comédia romântica - 90 min - 2004


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Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Guilherme! :) Ah, eu até gostei do filme. Tem uns furos, mas conseguiu entreter.

Bjs ;)