terça-feira, 24 de outubro de 2023

O CASAMENTO DO MEU EX


Nota 3 Premissa interessante é desperdiçada por roteiro pobre e interpretações pouco inspiradas


Este é mais um filme cujo título engana o espectador, embora ele se aplique muito bem a proposta do roteiro. Já tivemos tantas comédias românticas batizadas com frases e expressões que utilizavam as palavras ex e casamento, além do tradicional meu ou minha indicando possessão, que é óbvio que quem escolhe assistir O Casamento do Meu Ex espera ver aquela historinha manjada, com final anunciado logo na primeira cena e com aquelas piadinhas bobinhas ou de duplo sentido. Se você é esse tipo de espectador, provavelmente se decepcionará com a escolha. A trama tem uma veia dramática mais pungente e os personagens estão em cena para lavar a roupa suja ou desfazer mal entendidos, mas a escolha da diretora Galt Niederhoffer não foi muito feliz. O longa é baseado no livro homônimo da própria cineasta, mas fica a dúvida se o conteúdo contido na publicação é tão insosso quanto o visto na versão cinematográfica. 

Apostando em um enredo em que as vidas de diversas pessoas são entrelaçadas por acaso ou partilhadas intencionalmente, o longa tem um eixo principal: o casamento de Lila (Anna Paquin) com Tom (Josh Duhamel).  Eles estão a apenas um dia de trocarem alianças a beira-mar, mas até esse momento chegar muita coisa pode acontecer a partir da chegada de Laura (Katie Holmes). Ela é a dama de honra da noiva, mas já teve um relacionamento no passado com o noivo. Esse fato não é guardado a sete chaves. Lila sabe e se mostra incomodada com a possibilidade de Tom ter uma recaída poucas horas antes do casamento, mas não fica claro os motivos que levaram a noiva a querer estreitar laços com a ex do futuro marido. Política de boa vizinhança? Não é o que parece. Talvez ela buscasse justamente essa aproximação entre eles para submeter o noivo a uma espécie de teste de fidelidade. O triângulo amoroso poderia render uma trama bem interessante, mas o problema é que o roteiro é frouxo e os personagens apáticos, o que atrapalha o rendimento dos atores que já carregam a fama de não serem bons intérpretes e aqui ganham mais um estímulo para que público e crítica permaneçam com essa visão. 


Paquin conquistou um Oscar quando ainda era criança, mas hoje parece que ela foi favorecida por um golpe de sorte, pois seu currículo posterior ao prêmio não é muito relevante. Holmes também foi mais feliz na carreira quando era adolescente e parece não fazer boas escolhas para alavancar a carreira. Por fim, Duhamel é simpático, tem pinta de galã e talvez seja o único que convença com sua interpretação do noivo em dúvidas, mas não salva a lavoura. Simplesmente não parece haver ligação amorosa para tornar crível o drama vivido pelos três personagens centrais, mas não podemos culpar os atores. Realmente são os diálogos e as situações que não colaboram para criar clima e tampouco para inspirar os intérpretes. Nem mesmo as tramas paralelas salvam alguma coisa. O elenco coadjuvante tem bons atores como Malin Akerman, Adam Brody, Elijah Wood e Candice Bergen, mas nem eles são capazes de prender a atenção do espectador a um produto praticamente sem conteúdo. Resta a esses artistas apenas declamarem suas falas tolas e que em nada acrescentam ao argumento principal ou para dar toques românticos à narrativa. Só é possível dar uns sorrisinhos tímidos quando os amigos dos noivos fazem alguns discursos em homenagem a eles em meio a um jantar uma noite antes do casório. E só. Por vezes fica até difícil compreender como esse grupo de amigos foi formado. Química não existe entre os integrantes e os assuntos em comuns são tão desinteressantes quanto o próprio perfil de cada um deles.

Produções do tipo que misturam tramas paralelas, muitos artistas em cena e não possuem momentos arrebatadores não são estranhas no ninho cinematográfico. Muitos filmes estrangeiros ou representantes do cinema independente americano conseguem certo prestígio justamente utilizando tal fórmula, mas existe algo nelas que é difícil identificar que as tornam críveis e envolvem o espectador, as vezes até mesmo com pouquíssimos diálogos ou mudanças de cenários. Qual seria o segredo? A resposta mais óbvia seria o roteiro bem trabalhado ou aperfeiçoado baseando-se na teoria de que uma imagem vale mais que mil palavras. Quem curte cinema alternativo sabe o quanto um momento de silêncio pode transmitir de emoção ou conteúdo. Niederhoffer, tentando se equilibrar entre o estilo comercial e o autoral, não coloca nos diálogos e tampouco em imagens o fogo da paixão que ainda existe entre Laura e Tom. Também não imprime o romantismo necessário para tornar verossímil a ideia de que um casal às vésperas do casamento ainda possui dúvidas, embora paire no ar que o relacionamento é baseado em conveniências e interesses tanto dos noivos quanto de suas famílias. Na realidade eles parecem mais ex-namorados que são obrigados a conviver em uma mesma casa em um final de semana. 


É difícil até classificar a qual gênero esta produção pertence. Humor há bem pouco. Romance e drama se misturam em doses semelhantes, mas sem nunca atingirem a porcentagem ideal a ponto de cativar o espectador a torcer por uma ou outra mocinha. A torcida mais certa é para que o tempo passe rapidamente para chegarmos a um final romântico e feliz. Errado! A última cena deve fazer muita gente esbravejar sua indignação, mas ao menos um pouco antes somos contemplados com a cena mais forte, dramaticamente falando, de todo o longa. É quando as jovens rivais têm uma discussão e expõem os seus sentimentos. A cena é até clichê, mas é o que se salva no conjunto. Se a cineasta erra no roteiro que ela mesma assina, deixando de se aprofundar nas situações e no mundo dos personagens que criou, e também não inova nos planos de filmagem, ao menos ela merece elogios pelas escolhas das locações de paisagens naturais, os cenários internos da casa onde tudo acontece e pela bela fotografia que dá um ar de aconchego e realismo à trama. Todavia, O Casamento do Meu Ex só serve para passar o tempo e mais nada. Está anos-luz de ser considerada uma produção marcante ou que mexa com a emoção do público. Nem mesmo os mais românticos devem aprovar totalmente. Em resumo, é o típico filme bonitinho que não faz mal a ninguém, mas também não faz falta.

Romance - 95 min - 2010 
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Um comentário:

Luís disse...

Já tinha ouvido falar desse filme, mas não me interessei à époa em vê-lo bem como não me interesso hoje, apesar de acreditar que ele fuja mesmo às convencionalidades das comédias românticas.

Quem sabe mais pra frente.