quinta-feira, 22 de julho de 2021

FALANDO DE SEXO


Nota 7 De maneira descontraída, longa questiona as dificuldades amorosas e o poder da mentira


Lançado primeiramente e colhendo boas críticas em festivais, Falando de Sexo acabou ganhando status de raridade cult. Como produção independente, a espera por distribuidoras interessadas adiou a estreia do longa por vários anos em diversos países que o receberam de forma modesta ou diretamente para consumo doméstico, uma injustiça cometida com um divertido filme que fala de sexo de uma maneira bem humorada e sem cair nos escrachos comuns das produções destinadas aos adolescentes, até porque seu público-alvo é mais maduro. Com um delicioso clima de erotismo sem precisar exibir cenas constrangedoras, a trama nos apresenta Melinda (Melora Walters) e Dan (Jay Mohr), um casal com sérios problemas de relacionamento. Eles não brigam o tempo todo, pelo contrário, até se dão muito bem no dia-a-dia, mas o caldo entorna mesmo é na cama, pois ele não consegue sentir desejo por ela e o seu Sr. Feliz (o apelido de seu pênis) não dá sinais de vida, o que não acontece quando está com outras mulheres. Quando o marido confessa que transou acidentalmente com uma garçonete dentro do próprio carro, sua esposa entra em profunda depressão. 

Então é hora de procurar ajuda profissional e entra em cena a consultora matrimonial Emily Page (Lara Flynn Boyle), esta que os encaminha para um especialista em depressão, o Dr. Roger Klink (James Spader). Dan não acredita no tratamento, mas Melinda insiste e acaba sofrendo um abuso sexual por parte do médico. Apesar de tudo acontecer com seu consentimento, a jovem aceita a sugestão de Emily de levar o caso aos tribunais para tentar uma indenização, mas na realidade a doutora usa a situação para fazer justiça. Ela precisou pagar uma bela multa simplesmente por ter anunciado seus serviços em um banco de espaço público e não acha justo que um profissional se relacione sexualmente com uma paciente e não seja punido. Começa então uma batalha judicial onde, além dos egos dos doutores falarem mais alto e a imaginação de Melinda voar longe, para desespero do marido, ainda há conchavos e intrigas entre os advogados Ezri Stovall (Bill Murray), que representa o acusado, e Connie Barker (Catherine O´Haara), que defende o lado da vítima. Ambos buscam uma resolução que beneficie suas vidas, e não propriamente a dos seus clientes, e para tanto contam com a ajuda dos investigadores Felix (Hart Bochner) e Helen (Kathryn Erbl), cada um particularmente averiguando os detalhes das rotinas das partes envolvidas no processo. 


Por trás de todo esse julgamento existe a ganância e o amor regendo a vida de todos os envolvidos. A vítima, que não é vítima, busca proveitos financeiros e seu marido está de acordo, mesmo levando a fama de traído, mas eles realmente são apaixonados. Os seus advogados também querem se dar bem, mas acabam atraídos um pelo outro em meio ao processo e um resultado favorável a apenas um deles não seria muito bom para o relacionamento. Os investigadores que a dupla contrata também formam um casal, mas suas vidas profissionais são independentes, ainda que estejam trabalhando em um mesmo caso. O acusado quer evitar ter que pagar uma indenização a sua cliente e descobre realmente estar apaixonado por ela. Por fim, a doutora Emily ama sua conta bancária e depende do resultado deste emaranhado de armações para sentir-se parcialmente ressarcida da injustiça que acredita ter sofrido, todavia, ela reprime sentimentos amorosos por Klink e não suportou a ideia dele estar se envolvendo com outra. Todos os personagens têm suas características e conflitos bem delineados e seus momentos estratégicos para brilhar e arrancar risos do espectador, com destaque para Murray e O´Haara impagáveis como os advogados rivais, mas que não resistem e acabam cedendo as tentações. 

O roteirista Gary Tieche formatou uma narrativa bem intencionada, porém, em certos momentos apela para o humor caricatural, principalmente na introdução e na conclusão que são intimamente ligadas. Entretanto, ele consegue abordar a temática sexual de forma descontraída flertando com a inocência. As cenas de julgamento em que Melinda relata sobre o assédio que sofreu parece como o de uma adolescente descrevendo sua primeira relação sexual. Já os advogados e doutores tentam tratar o tema sem constrangimentos como adultos, mas não escapam de sentir os hormônios fervendo enquanto escutam a tal descrição. Nem a escrivã grávida consegue ficar passiva na situação e também esboça inquietação. O que uma boa dramatização não faz. Contado em flashback contínuo e longuíssimo, o roteiro amarra bem as situações de humor e a câmera flagra cada reação dos personagens de forma excepcional e é impossível não ficar com um sorriso no rosto boa parte do tempo, ainda que a narrativa se prolongue um pouco além do necessário. Não é fácil fazer humor com tantas tramas paralelas, mas o resultado é bastante satisfatório. 


O diretor John McNaughton adotou uma linha narrativa que lembra o estilo de comédias antigas em que uma história principal prepara o terreno para várias tramas paralelas serem desenvolvidas e no final convergidas em uma só e de forma que todos os personagens tenham algum tipo de ligação, mas o modelo parece ter realmente ficado como lembrança do passado, o que explica as dificuldades de lançamento da obra em questão. Apesar de muitos não gostarem desse tipo de narrativa, é preciso ressaltar que elas são trabalhosas e dificilmente escapam de ter furos, mas eles são mínimos nesta produção que infelizmente não recebeu a atenção devida por parte do público e crítica. Para muitos, Falando de Sexo é puro clichê e repleto de piadas escrachadas e passagens constrangedoras. Quem pensa assim é porque nunca assistiu a uma comédia adolescente como American Pie e similares. Esta é uma dica para quem busca diversão ligeiramente inteligente, mas sem ser radicalmente cult.

Comédia - 96 min - 2001 

FALANDO DE SEXO - Deixe sua opinião ou expectativa sobre o filme
1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
5 – 6 Bom, cumpre o que promete
7 – 8 Ótimo, tem mais pontos positivos que negativos
9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
Votar
resultado parcial...

Nenhum comentário: