quarta-feira, 10 de março de 2021

A CASA DOS SONHOS


Nota 3 Longa peca pela falta de ritmo e pretensão de surpreender mesmo com trama óbvia

Os títulos de filmes frequentemente enganam espectadores desavisados que iludidos muitas vezes acabam caindo em verdadeiras furadas, até porque alguns deles se aplicam aos mais diversos gêneros e temáticas. A Casa dos Sonhos é um exemplo claro. Cairia bem a um drama, uma comédia romântica, um romance ou um desenho animado, mas quem diria que seria escolhido para batismo de uma produção de suspense. O diretor irlandês Jim Sheridan não foi muito feliz na escolha. Responsável por obras marcantes e emotivas como Meu Pé Esquerdo Em Nome do Pai, geralmente filmes com melhor aceitação no circuito de arte ou alternativo, o cineasta tem surpreendido com seus trabalhos pós virada do século parecendo ter abraçado o estilo hollywoodiano e esquecendo suas raízes. A prova disso é seu aceite para realizar fitas populares como Fique Rico ou Morra Tentando estrelada por um cantor de rap, mas seu fraco desempenho comercial talvez o tenha levado a refletir e tomar mais cuidado para nos trabalhos seguintes não trair seu público fiel e apreciador de seu estilo mais intimista e de certa forma elitizado. Todavia, ele voltou a pisar na bola no longa em questão que flerta com temáticas sobrenaturais.

A trama escrita por David Loucka nos apresenta à Will Atenton (Daniel Craig), um executivo bem-sucedido que pede demissão do emprego para poder se mudar com a família para uma pequena cidade de interior onde teria paz e inspiração para se dedicar a carreira de escritor. Sua esposa Libby (Rachel Weisz) e as duas filhas do casal inicialmente gostam da nova casa, mas a alegria dura pouco. Não demora muito para fatos estranhos acontecerem e eles acabam descobrindo que naquela residência anos antes houve o assassinato de uma família e apenas o patriarca conseguiu se salvar, mas acabou sendo acusado pela população local de ser o executor do crime, porém, sem provas para condenação e muito transtornado, sua prisão acabou sendo a internação em um hospital psiquiátrico. Impressionado e curioso por mais detalhes sobre o caso, Atenton recorre à vizinha Ann Paterson (Naomi Watts) que era muito próxima aos antigos residentes, mas ela demonstra ter receio em manter contato, embora esteja sempre por perto e aparentemente de olho no que acontece naquela casa marcada por um passado sombrio.


Infelizmente há mais elementos contra do que a favor do longa. Apesar do bom elenco e do diretor competente, a produção não decola e nem mesmo a virada da trama a certa altura consegue captar a atenção dos espectadores. Desaponta o fato de no fundo pender mais para um drama com pitadas de suspense ao invés do contrário, além de tentar expressar mais conteúdo do que realmente pode, uma tentativa frustrada de surpreender com um viés psicológico. Seria melhor a opção pelos clichês, repetindo fórmulas básicas já testadas em outras produções que também abordavam casas mal assombradas, ao menos poderia agradar a plateia cativa de produções do tipo. Provavelmente, Sheridan aceitou o projeto justamente pela chance de dirigir algo novo em sua filmografia e de quebra fazer um suspense diferente, com sua assinatura. Contudo, por trás de sua boa vontade estavam no comando estúdios e produtoras associadas que visavam lucros, assim interferiram bastante no projeto a ponto de o próprio diretor tentar retirar seu nome dos créditos, mas teve o pedido negado pelo sindicato da categoria. De qualquer forma, uma das características do cineasta está muito presente aqui: o foco nos seres humanos. Ainda que a interpretação do elenco em geral soe extremamente dramática para um enredo tão raso, todo o tempo a câmera está focada na reação dos personagens e a narrativa é despreocupada em oferecer sustos gratuitos.

Um dos grandes desapontamentos para muitos pode ser o fato de que as cenas que deveriam assustar não causam impacto algum e a maioria são mostradas rapidamente. Sem intimidade com o gênero, Sheridan parece não saber o que fazer com o roteiro e se perde tentando levar a trama para um lado mais reflexivo e humano, bem ao contrário do que o público esperava e provavelmente os próprios produtores. O resultado não assusta como promete o material publicitário, mas também passa longe de ser envolvente como costumam ser as obras do diretor. Sem muito esforço, qualquer espectador mais atento e escolado no gênero irá desvendar tudo que o enredo dá voltas para esconder, mesmo que as evidências estejam óbvias. Apesar da falta de ritmo e da ausência de uma crescente tensão, é interessante observar que o filme pode ser dividido em dois atos distintos e notar a inspiração em outras produções, como o mistério envolvendo a casa. O assassinato de uma família creditado ao próprio patriarca é também a base da trama de Terror em Amityville e a reviravolta que ocorre na trama tenta em vão impactar ao estilo de O Sexto Sentido ou Os Outros, guardadas as devidas proporções. 

Dificilmente o cinema hollywoodiano arrisca antecipar o ápice, que tradicionalmente seria reservado à conclusão, pelas óbvias dificuldades para dar continuidade à narrativa. Todavia, Sheridan realiza tal manobra e até dá esperanças ao espectador de que A Casa dos Sonhos teria fôlego para surpreender, porém, o que vem a seguir parece criado apenas preencher o restante do tempo, com direito até mesmo ao surgimento de um inesperado vilão de carne e osso, quebrando totalmente as expectativas de quem esperava ver um filme de fantasmas. Os momentos finais então são destinados a explorar a mente confusa do protagonista, passando por lembranças que nos remetem, por exemplo, ao clássico O Iluminado, mas sem chegar a conclusões plausíveis. A produção prometia bem mais, seja seguindo o caminho mais comercial, entenda-se pela temática sobrenatural, ou do cinema alternativo, apostando no lado dramático do argumento, da família em desconfortável situação habitando uma casa que já fora palco de um massacre. Shreridan tentou se equilibrar entre os dois lados e esqueceu de mirar em um público específico e assim atender suas vontades. A visão artística e autoral do diretor entrou em conflito com os interesses reais da produção e o resultado foi um filme tão confuso e desinteressante quanto o próprio protagonista e de seu drama aos quais pouco dedicamos atenção. 

Suspense - 92 min - 2011


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Um comentário:

Rafael W. disse...

O elenco é mesmo muito foda, mas tem tanta gente dizendo que é ruim que tô até com medo de assistir.

http://cinelupinha.blogspot.com.br/