O nome Sally Field hoje pode passar batido para muitos, mas na década de 1980 ela era uma das principais estrelas do cinema norte-americano. Duas vezes ganhadora do Oscar de melhor atriz, é curioso os rumos que sua vida profissional tomou após as premiações. Fez algumas participações como coadjuvante nas telonas, mas foi na TV que acabou se fixando atuando em seriados e telefilmes, aliás, o drama Duas Semanas parece talhado para ser apreciado no aconchego do lar com o controle remoto na mão. Quem torceria pela morte de um personagem que não tem um pingo de maldade na alma? Pois é, nesta produção escrita e dirigida por Steve Stockman o público fica na expectativa de que Anita Bergman (Field) venha a falecer o quanto antes, tudo para apaziguar seu iminente sofrimento que parece se acentuar com o bando de urubus que a cercam, ironicamente seus próprios filhos. Emily (Julianne Nicholson) foi a única dos quatro herdeiros que acompanharam de perto todos os sacrifícios da mãe para sobreviver a um severo câncer, mas não perderá a chance de usar isso contra os irmãos Keith (Ben Chaplin), Barry (Thomas Cavanagh) e Matthew (Glenn Howerton) que somente há poucos dias da provável morte dela decidiram aparecer.
Como se estivessem viajando a negócios com data e hora para ir e voltar, friamente os herdeiros regressam preparados para passar uns dois ou três dias, já cogitando que participariam do velório da mãe, mas a visita da prole faz bem à Anita que acaba ganhando um tempo extra de vida. Contudo, o reencontro dos irmãos, forçosamente estendido aos poucos, os leva a se desentenderem, mas também a descobrirem sentimentos positivos em meio ao clima tristonho. Bem, a ideia era essa, todavia, a execução ficou bem aquém do esperado. A emoção prevista inicialmente acaba se tornando um verdadeiro martírio para quem assiste e não é pelo excesso de dramaticidade do argumento e sim pela falta de ingredientes para compô-lo. O passado e perfil da mãe vamos descobrindo aos poucos com relatos que a própria gravou em um vídeo caseiro para os filhos terem como lembrança, recurso já utilizado em Minha Vida no qual outro paciente terminal grava uma fita para seu bebê que não chegaria a ver nascer para que ele soubesse quem foi seu pai.
Na gravação, Anita comenta sobre a emoção do nascimento do primogênito, a surpresa da quarta e indesejada gravidez, do porquê de ter se separado do marido e até arrisca fazer algumas projeções para o futuro de sua prole, mas o problema é que esses trechos entrecortam a trama em momentos inoportunos e são longos demais, assim quando voltamos à ação principal estranhamos um pouco ao comparar a Anita de quando somente estava ciente de sua doença com a de agora em fase terminal. A coragem com que encarava o câncer deveria ser usada a favor de levar uma mensagem positiva ao público, mas em busca de lágrimas fácil Stockman preferiu deixar a personagem vegetando em uma cama boa parte do tempo. O conflito da falta de convivência com os filhos, gancho também já usado em outras produções como Um Amor Verdadeiro no qual Meryl Streep vive uma mãe doente com muito mais credibilidade que Field, acabou não sendo desenvolvido de forma satisfatória simplesmente porque o espectador não tem a simpatia cativada por nenhum dos quatro marmanjos.
Matthew é o único com um conflito mais delineado, pois seus irmãos não gostam de sua esposa, mas a todos eles faltou histórico de vida ou características marcantes para sustentar o quarteto em cena, o que certamente aumentaria a duração do filme e consequentemente seu orçamento. Na falta de ganchos a serem trabalhados, o diretor acabou lançando mão de piadas que não se encaixam com perfeição à proposta. Entre choros, gritos e gemidos de Anita, os filhos discutem sobre qual música tocar no velório, pechincham sobre o valor da cremação do corpo e se fartam da comida oferecida por vizinhos bondosos que lotaram a geladeira deles. Chaplin tem até a ingrata tarefa de brigar em um supermercado por conta de um desconto em um suco. Onde Stockman estava com a cabeça quando teve essas ideias?
Se
apostasse no chororô descaradamente, Duas Semanas poderia
no mínimo ser realista e levar algumas questões pertinentes para o espectador
refletir, contudo, o produto entregue busca certa identificação com o cinema
independente, entretanto, não emociona e tampouco diverte. A morbidez das ações
dos filhos causa uma sensação extremamente incômoda. Por mais que no caso a
morte fosse realmente apenas questão de tempo, não é nada agradável sentir que
os próprios filhos torcem pela partida da mãe para darem continuidade às suas
vidas sem peso algum na consciência. Infelizmente esta é uma realidade de
muitos pacientes em mesmas condições de Anita, assim o filme ao menos tem o
mérito de plantar uma sementinha de compaixão em quem assiste.
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