sábado, 22 de janeiro de 2022

STUDIO 54


Nota 5 Abordando a efervescente rotina de famosa boate, longa é mais festa e pouco conteúdo


Entre o final da década de 1970 até pouco mais da metade dos anos 1980, uma discoteca de Nova York era um dos pontos mais badalados de todo o mundo e chamava a atenção de celebridades e personalidades da época. Studio 54 tenta resgatar um pouco do que foi o efervescente lugar homônimo ao filme, considerado a mãe de todas as futuras baladas e que conquistou fama internacional. Idealizado por Steve Rubell (Mike Meyers), um ex-dono de restaurantes, o local era a realização do sonho de todos aqueles que buscavam fama, glamour e diversão sem restrições. Ou melhor, desde que você pudesse pagar sua entrada e consumo ou estivesse na lista vip do dono que muitas vezes preferia ter um pequeno e seleto grupo dentro de seu clube e uma multidão alvoroçada do lado de fora. Frequentada pelos grandes nomes do entretenimento, das artes e do esporte da época, nem todas as celebridades tinham passe livre e as que conseguiam tinham que dividir o espaço com pessoas mais simples.

Classificado a rigor como um drama por recontar uma história real com final melancólico, o longa não emociona e tampouco provoca risos. A inserção de vários hits da disco music também não o rotulam como um típico musical. Ainda assim, é uma produção que prende a atenção revelando um pouco do que acontecia naquele inferninho em embalagem luxuosa, ainda que de forma bastante superficial. Para tanto, o roteiro de Mark Christopher, que também assina a direção, lança mão de alguns personagens ficcionais com perfis e características comuns aos frequentadores da boate. Anônimos que agraciados por beleza ou carisma passavam pelo crivo de Rubell, que escolhia a dedo os felizardos, ganhavam o direito a se acabar de dançar e beber por uma noite, geralmente rapazes que julgava interessantes e com quem poderia ter um algo a mais sem compromisso. O frentista Shane O’Shea (Ryan Philippe) é um dos desconhecidos que conseguem encantar o empresário graças aos seus atributos físicos e adentrar naquele mundo à parte onde drogas e bebidas eram consumidas livremente, assim como o sexo explícito e grupal também era permitido nas áreas comuns.


O filme é narrado pela ótica de O’Shea que relembra alguns fatos envolvendo a ascensão e a decadência da casa noturna. Ele faz amizade com o assistente de barman Greg (Breckin Meyer) e sua esposa, a aspirante a cantora Anita (Salma Hayek), e se apaixona pela atriz Julie Black (Neve Campbell), frequentadora assídua da boate na ânsia de encontrar contatos que a ajudem na carreira, nem que seja preciso ir para a cama com eles. Contudo, o sonho do frentista não era curtir a agitada balada por apenas uma noite, muito menos voltar esporadicamente. Insistente, o rapaz consegue emprego como bartender aliando o útil ao agradável. Infelizmente tais personagens são bastante restritos e não chegam a envolver o espectador, até mesmo porque seus intérpretes trabalham no piloto automático. Das atuações, salva-se apenas a de Myers, um tanto escrachado, displicente e depravado como o impetuoso rei da noite novaiorquina. Seu trabalho é relevante não só por retratar alguém verídico, mas também por provar que poderia ir além da caricatura de 007 batizada de Austin Powers, sua criação mais conhecida e em alta na época deste lançamento.

Studio 54 é uma produção com um rico material histórico para se basear, mas que infelizmente entrega uma trama rasa e que não faz jus ao marco que a boate representou. A trama é rasteira e se atém a acompanhar a rotina do ex-frentista que se resume a diversão e paqueras em pleno auge de sua vida social até perceber a desilusão e o vazio da vida noturna quando uma frequentadora idosa falece em plena farra. É quando o rapaz cai em si quanto a sua degradação moral e psicológica, mas para Rubell a vida dentro do clube é uma festa e não pode parar, não dando a menor atenção ao fatídico episódio. Todavia, o empresário não escapa do crivo da polícia. Quando volta à liberdade, ele tenta reativar a boate, mas os tempos já eram outros e sem resquícios do glamour que reinava em seu universo particular. O desenvolvimento do roteiro se acovarda e não vai a fundo na investigação do que levava as pessoas a cometerem loucuras naquele lugar, assim como não é abordada a contento a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, uma inclusive que levou a morte Rubell, dado não revelado quando sua morte é mencionada. 


Faltou mostrar que a participação naquele universo onde tudo era permitido também cobrava um preço alto mais adiante e com direito a juros. Christopher procura mostrar, sem moralismos, que aquele tipo de vida baseado apenas no princípio do prazer tem data de expiração. A juventude e a beleza não são eternos, assim como dinheiro esbanjado sem limites uma hora cessa. No final, a grande lembrança que fica do filme é o clima nostálgico das festas, ainda que a trilha sonora não seja excepcional. Faltaram hits clássicos para ao menos agitar a insossa produção que conquista um mínimo de simpatia mais pelo que pretendia ser do que pelo que realmente apresenta. Em tempo: insatisfeito com a versão lançada em 1998, a qual acusou o estúdio de fazer cortes e censuras que reduziram seu filme a uma bobagem sem eixo de roteiro e interpretações superficiais, o diretor discretamente lançou quase duas décadas mais tarde o mesmo filme acrescido de consideráveis cenas inéditas que esmiúçam  assuntos que foram deixados no ar ou não aprofundados.

Drama - 101 min - 1998

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