sábado, 1 de janeiro de 2022

A BELA E A FERA (1991)


Nota 10 Obra sobrevive a ação do tempo e mantém seu frescor, a emoção e sua magia intactos


A Disney sempre foi uma fértil fábrica de desenhos animados, sejam eles produções para a TV, curtas ou longas metragens. Todas as animações do estúdio foram feitas com muito capricho, mas após a morte de seu fundador na década de 1960 a empresa entrou em declínio. As produções póstumas hoje são lembradas com orgulho e saudosismo, mas na época de seus lançamentos não trouxeram bons frutos, embora o período tenha sido marcado por produções com roteiros originais ou baseados em contos pouco conhecidos. O prestígio voltou a bater na porta do estúdio em 1989 com A Pequena Sereia e embalados pelo sucesso os criadores e animadores da casa adaptaram e modernizaram outro conto clássico para as telas em seu projeto seguinte. A Bela e a Fera só por seu enredo e visual já merecia lugar de destaque na História do cinema, mas a obra foi além e honrou o privilégio de ocupar a vaga de 30º longa de animação da Disney. Não é a toa que se tornou a primeira animação a ultrapassar a barreira dos cem milhões de dólares nas bilheterias mundiais e foi a única a ser indicada ao Oscar de Melhor Filme até 2010, quando a Academia de Cinema ampliou o número de concorrentes permitindo que um desenho animado bem sucedido ocupasse uma vaga independente de também estar entre os concorrentes em sua categoria específica. Além disso, também foi o primeiro longa animado a receber o Globo de Ouro de Melhor Filme Musical ou Comédia e sagrou-se vencedor de cinco Grammys. 

A razão de tanta repercussão deve-se a forma como esta obra conseguiu aliar o teor forte e adulto do conto original a um clima fantasioso. Baseado no conto homônimo escrito por Jeanne-Marie Le Prince de Beaumont, o roteiro de Linda Woolverton alia perfeitamente romance, drama, suspense, aventura e certa dose de ousadia, além de terem sido utilizadas técnicas de computação gráfica (hoje simplórias) aliadas ao desenho tradicional para criar cada fotograma desta história que conquista a todas as idades. Se pensarmos bem, o conto original engloba tudo o que fez a fama da Disney outrora, mas aqui eles estão dispostos de forma diferenciada. A mocinha é destemida, seu interesse amoroso não é visualmente um príncipe encantado, temos um vilão um tanto caricato e narcisista, a feitiçaria bate ponto e os animais fofinhos foram substituídos por objetos animados e falantes, cada qual com personalidade própria, como a doce Madame Samovare, um bule de chá, e seu filho, a xicarazinha Zip que teria apenas uma pequena ponta, mas agradou tanto aos animadores que acabou se tornando um dos personagens mais cativantes do longa. Tudo isso ajuda a dar dinâmica a uma história que poderia ser apenas mais um amontoado de clichês, mas dos diretores Gary Trousdale e Kirk Wise foram sensíveis e criativos ao toparem o desafio de levar para as telas esse conto de amor .  


A ação se passa em uma pequena aldeia na França do século 18, onde um príncipe muito bonito e rico, mas também um tanto arrogante  e orgulhoso, recusou uma rosa que uma senhora lhe ofereceu em troca de abrigo em uma noite fria. A tal mendiga era na verdade uma feiticeira que o castigou transformando-o em um ser horrendo, assim como também lançou uma maldição no castelo e em todos os que lá viviam, assim cada um deles foi transformado em algum tipo de objeto. Horrorizado por sua aparência, a Fera, como ficou conhecido, se enclausurou em seu palácio tendo um espelho mágico como única janela para o mundo exterior. A rosa que recusara iria se manter viva até o seu 21º aniversário, mas se até essa data não descobrisse o amor e fosse correspondido todos os feitiços não poderiam mais ser desfeitos. O tempo foi passando e as esperanças diminuindo até que surge Maurice, um senhor que se perde na floresta e acaba indo procurar abrigo no castelo. Bem recebido pelos objetos-criados, sua ousadia em invadir a propriedade o levou a se tornar prisioneiro. Quando sabe o que aconteceu, sua filha Bela se oferece para ficar em seu lugar no confinamento e aos poucos seu jeito meigo e cativante acaba amolecendo o coração da Fera e a esperança de que tudo voltará ao normal renasce. Porém, antes que o amor entre duas pessoas tão diferentes se concretize eles terão que enfrentar a interferência de Gaston, um valentão que deseja se casar com Bela a todo custo.

Dentre todas as figuras de príncipes apresentadas anteriormente pelo estúdio, nenhuma recebeu tanto destaque quanto a Fera, um personagem com um envolvente arco dramático que o transforma de uma criatura fria e amedrontadora a um ser sensível e capaz de amar. A Disney então demonstrava um amadurecimento, colocando a mocinha como heroína e o mocinho como o indefeso, embora até a metade do filme ele reaja boa parte do tempo com sisudez a quaisquer estímulos ou situações. Mesmo assim, seus serviçais demonstram total comprometimento em tentar ajudá-lo ao máximo, não só para terem suas feições humanas de volta, mas deixam evidente uma relação amistosa que existia com o patrão antes da maldição. O empenho dos empregados aliados à boa vontade da moça culminam em uma das mais memoráveis cenas de todos os tempos quando Bela e a Fera dançam no salão do palácio como se estivessem em um baile de gala. Aliás, todas as sequências musicais são emblemáticas com canções de fácil assimilação e letras que ajudam a narrativa substancialmente. Não por acaso, a produção foi agraciada com dois Oscars pela sua parte musical, além de tantos outros prêmios na área, e renovou o interesse do público nos espetáculos musicais. A versão teatral oficial da Disney deste conto de fadas preparou o terreno para que as obras seguintes do estúdio ganhassem suas versões com atores de verdade e ao vivo e não só em solo americano.  


O projeto de transformar esta bela história em desenho animado povoou os sonhos de Walt Disney por muitos anos, mas devido a falta de recursos tecnológicos e financeiros para realizá-lo como ele imaginava a ideia foi abandonada. Felizmente, resgataram esse sonho do fundador do estúdio e a surpreendente recepção do público e crítica a esta obra que, além de exuberante em todos os sentidos, abriu caminho para um reaquecimento do mercado de animações. Em 2002, o longa voltou as salas de cinema em comemoração aos seus dez anos (o filme é de 1991, mas em muitos países só estreou no ano seguinte) trazendo alguns poucos minutos de cenas inéditas, mas o bastante para alegrar aos fãs e novas plateias. Em 2012, mais uma vez a obra voltou às telas grandes com a exibição em 3D, apenas uma estratégia de marketing. Todavia, os relançamentos servem não só para honrar a importância dos clássicos como também para aguçar a curiosidade de novos espectadores acerca de outros filmes do período, além de ajudarem a somar mais algumas cifras às suas bilheterias. Infelizmente, a mesma emoção e encantamento não temos em seus derivados, O Natal Encantado da Bela e a Fera e O Mundo Mágico de Bela, lançados para homevideo. Reforçando a mensagem de que os mais puros sentimentos é o que importa e a real beleza do ser humano, A Bela e a Fera é um clássico único e absoluto que é como o vinho: quanto mais envelhece melhor fica.

Vencedor do Oscar de trilha sonora e canção

Animação - 84 min - 1991

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Um comentário:

marcosp disse...

filmes disney sempre são sinônimos de sucessos, e A bela e a fera, é um dos clássicos Disney, que muita gente conhece, mas a nova geração acho que não, tem uma trilha musical bem romantica e sonhadora...para aqueles que curtem boa animação, assista...
nota: Excelente