NOTA 9,0 Longa homenageia os 40 anos da franquia atualizando a temática e colocando vítima e algoz em posições bem diferentes ao embate original |
Com cabelos grisalhos e mal
ajambrados, roupas folgadas e aparência cansada, esqueça a imagem enxuta e com
certo sex appeal que Laurie apresentou no longa do vigésimo aniversário da
franquia. Ela vive isolada, mas relativamente próxima à filha Karen (Judy
Greer) e da jovem neta Allyson (Andy Marichak), mas não afetivamente. A
presença constante e sufocante e o aparente desequilíbrio da ex-babá fazem com
que mãe e filha entrem em atrito toda vez que se encontram. A adolescente
mostra-se mais paciente com a avó enquanto seu pai Ray (Toby Huss) procura
manter distância das situações. A rixa se deve ao fato de Laurie ter perdido a
guarda da filha por ordem da assistência social que temia os efeitos que os
traumas da mãe podiam ocasionar à menina que estava crescendo participando de
rígidos treinos com pegada militar e sendo ensinada a manusear múltiplos tipos
de armas. Como esperado, no dia 31 de outubro de 2018, Myers aproveita a
distração dos responsáveis por sua transferência de clausura e escapa,
imediatamente deixando um rastro de sangue e pavor por onde passa. Logo na
introdução é lançada uma importante questão: qual a significância nos dias
atuais de um psicopata preso por matar apenas cinco pessoas (no primeiro filme)?
Os tempos mudaram para pior e essa soma de corpos é irrisória. Assim, Myers
volta mais violento e até o fim do filme contabiliza 19 vítimas fatais. Se
antes tinha certo critério seletivo, com os promíscuos no topo da lista, agora
ele mata qualquer um que intercepte seu caminho, uma atualização do texto
evocando a violência e crueldade da época contemporânea. Entretanto, não é uma
produção slasher qualquer. O foco é no drama de Laurie que acabou se
acostumando a viver à margem da sociedade e na dependência de um acerto de
contas para finalmente viver em paz. O roteiro de Danny McBride, Jeff Fradley e
David Gordon Green, este que também assina a direção, propõe uma inversão do
jogo de gato e rato que permeou o primeiro filme. Myers volta à cidade de
Haddonfield tomado pela obsessão em concretizar seu fracassado plano de décadas
atrás, mas agora seu alvo não é vulnerável como antes. Aliás, nem de longe lembra
a jovem franzina que tentava se defender na base do grito. Não à toa, se não
fosse pela personagem, o longa seria apenas mais um capítulo esquecível desta
franquia, algo que fica perceptível quando as atenções recaem sobre Karen e
Allyson. Quando estão em cena sem Laurie, fica a expectativa de quando a
verdadeira protagonista vai surgir. Ela é ingrediente essencial desta saga,
afinal Myers existe e insiste em viver por causa dela que, por sua vez, também
vive em razão de seu algoz.
Em diversos momentos o longa
deixa transparecer que foi feito por pessoas apaixonadas pelo clássico terror
assinado por John Carpenter. A começar pelo próprio! Desde 1982, quando
produziu o terceiro longa da série, o lendário diretor se afastou do universo
de Myers, o que justifica em parte o fracasso das demais sequências. Aqui ele
retorna não só como produtor, mas também atualizou a inesquecível trilha sonora
que compôs com o auxílio de sintetizadores, mas sem descaracterizá-la. Seu
envolvimento certamente inspirou ainda mais Green que do início ao fim
transmite todo seu apreço pela franquia. Digna de nota a sequência em que Myers
passeia pela vizinhança em polvorosa por conta do dia das bruxas. Em meio a
tantos fantasiados, ele pode perambular a vontade, ainda cultiva o hábito de
observar suas vítimas através de janelas e se diverte colecionando mortes,
talvez as mais gráficas de todos os seus filmes. O roteiro, apesar do apego ao
original, caminha de forma autônoma, resumindo em poucos diálogos e em pequenos
detalhes visuais os acontecimentos do passado para situar novos espectadores . Na
introdução, em cortes rápidos, vemos Myers calvo, envelhecido e trajando vestes
de hospitais, mas seu rosto continua sendo um mistério. A imagem fragilizada é
balela. Logo ele encontra um jeito de vestir roupas pretas e sua máscara sem
semblante e a câmera acompanha esta reconstrução do mito exalando prazer e
respeito a um enigma jamais solucionado. Se misteriosamente os adolescentes
nestas produções costumam estar longe dos pais, aqui a personagem Karen, que
poderia ser apenas uma potencial vítima, surge disposta a defender a filha, mas
sem deixar de demonstrar sua agonia frente aos comportamentos da mãe, para ela
talvez uma ameaça muito maior que o próprio assassino. Curtis consegue transmitir
todo senso de preocupação de Laurie mesclando com certo quê de insanidade sem
sequer resvalar no caricatural. O drama familiar adicionado aos clichês dos
slashers movies, lembrando que o fato da personagem já ter surgido em um dos
filmes com um filho adolescente é totalmente descartado, faz de Halloween uma opção muito mais empática junto
ao público que torce para que mãe, filha e neta voltem a viver em harmonia,
mesmo que unidas forçosamente para combater o Mal que as atinge. O ato final é
intenso, carregado de tensão e não é exagero dizer que é bastante superior ao
clímax do primeiro filme que soa bastante morno na comparação. Seria um
excelente desfecho para a franquia, mas alguém dúvida que Myers ainda voltará?
Terror - 109 min - 2018
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Um comentário:
Assisti esse filme ainda essa semana, e me conquistou, o clima de terror, perseguição e suspense prende atenção fora que por ser um filme antigo deixa um ar mais Halloween, assisti por indicação de alguém que adoro muito mesmo ❤
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