NOTA 9,0 Em comemoração aos 20 anos da franquia, longa faz sequência direta ao primeiro longa apoiando-se no aguardado embate entre vítima e assassino |
Em 1978 o mestre John Carpenter
deu o pontapé inicial para a onda dos slashers movies com o lançamento de Halloween - A Noite do Terror que
contava a história de um garoto que certa noite do Dia das Bruxas assassina
violentamente a própria irmã mais velha usando uma simples faca de cozinha.
Após ficar internado toda sua infância e adolescência em um hospício, ele
consegue fugir e obstinado a encontrar e matar sua outra irmã. Só este filme já
seria o bastante para enraizar o nome e a imagem sinistra de Michael Myers no
consciente coletivo e na cultura popular, mas uma série de continuações viria
para reforçar seu poder de fascínio, embora com tramas que gradativamente foram
piorando em termos de qualidade e aumentando o número de mortos. Halloween H20 foi lançado vinte anos depois do
primeiro com um objetivo claro: fechar a franquia em grande estilo e tentar
apagar a má impressão que os capítulos intermediários deixaram. Missão
cumprida! Dinâmico, sem rodeios e coeso, a sétima produção do mascarado faz um
link apenas com os dois primeiro títulos resgatando Laurie Strode (Jamie Lee
Curtis), a obsessão do psicopata, desta vez interpretado por Chris Durand. A personagem não apareceu nos demais filmes,
mas permaneceu no imaginários do fãs e o roteiro assinado por Robert Zappia e
Matt Greenberg não parou no tempo. A sobrevivente de dois massacres nunca
esqueceu os pesadelos que viveu e sempre ficou na expectativa que seu irmão um
dia voltaria para terminar sua vingança, embora para todos os efeitos ele teria
falecido em um incêndio no hospital onde se enfrentaram pela última vez. Como
cuidado nunca é demais, ela forjou a própria morte e adotou uma nova identidade
respondendo pelo nome de Keri Tate, a diretora de um colégio de elite onde
também reside com seu filho John (Josh Hartnett). O adolescente cresceu
compartilhando do medo e vigília da mãe, mas agora que está prestes a completar
a maioridade pretende se desvencilhar destas paranoias de uma vez por todas.
Contudo, o destino não vai deixar.
A escola promove uma excursão
para um acampamento em plena época do Halloween, mas Laurie decide ficar de
guarda em sua casa que além dos tradicionais métodos de segurança também conta
com a portaria do local com vigilância dia e noite. O que ela não esperava é
que seu filho, a namorada Molly (Michelle Williams) e mais dois amigos
fingiriam ir ao passeio, mas na verdade planejavam uma festinha particular para
comemorar a data, porém, não contavam com um convidado indesejado. Os delírios
frequentes de Laurie tornam-se realidade e Myers consegue fugir da instituição
psiquiátrica e em sua melhor forma. Tão inteligente, astuto e violento quanto
há vinte anos, no entanto, o psicopata não chega a somar uma dezena de corpos,
o que mostra respeito do diretor Steve Miner à obra de Carpenter. No longa
original, apenas cinco mortes são contabilizadas. Ao invés de chocar com
violência gráfica gratuita, a ideia era prender a atenção com um clima de
suspense apurado dando a impressão de que o vilão poderia estar à espreita em
qualquer lugar, algo intensificado pelo recurso de usar a câmera em vários
momentos como se fosse o seu próprio olhar. Curioso que Miner dirigiu a segunda
e a terceira parte de Sexta-Feira 13,
um dos vários derivados inspirados pela saga de Myers, mas que não poupa sangue
e mortes mirabolantes. Felizmente o cineasta foi fiel ao material que lhe
confiram homenagear e não é exagero dizer que seu longa é um expoente dentro do
universo de horror. As cenas de perseguição e ataque são ótimas, bem dirigidas
e coreografadas, a tensão já é impressa logo na introdução e o suspense vai
aumentando gradativamente até o clímax. A curta duração (menos de uma hora e
meia), trabalha a favor e contra. Se por um lado não deixa brechas para a
atenção dispersar, por outro fica a sensação de que muitas outras situações
poderiam ser desenvolvidas no cenário de um colégio isolado e praticamente
deserto à noite. O roteiro parece ter pressa em eliminar os personagens
secundários para logo colocar em cena o embate entre Laurie e Myers, afinal o
aguardado acerto de contas é a razão do filme existir.
Apesar do tom naturalista almejado
ao fazer do sétimo capítulo uma sequência direta do segundo longa da franquia,
os demais filmes estão aí para provar que a fantasia é o fio condutor de tudo e
não há limites para trazer o mascarado de volta, afinal sua imagem tem uma
importância maior que qualquer história. Assim, mais uma vez sua morte torna-se
apenas uma suposição e isso não é spoiler algum, afinal alguém esperava que
colocariam um ponto final de verdade na trajetória de um personagem tão
icônico? Myers retornou como se nada tivesse acontecido em Halloween- Ressurreição, lançado em 2002, apenas mais um longa
esquecível dentro de uma franquia cuja temática parece oferecer infinitas
possibilidades. Já Halloween H20 foi talhado para
ser assistido obrigatoriamente em seguida ao original anualmente ao menos no
Dia das Bruxas. Embora fique em desvantagem no comparativo, o filme que
comemora as duas décadas da obra de Carpenter não decepciona e surpreende com
um estilo de terror à moda antiga, o que fisga plateias adultas. Desta vez não
temos Donald Pleasence como o médico que se torna um perseguidor implacável do
vilão tentando provar que ele é a personificação do Mal puro. O ator faleceu
alguns anos antes do projeto sair do papel, mas a atriz Nancy Stephens faz uma
pontinha revivendo a enfermeira que auxiliava o doutor no segundo filme. Ainda
temos a grata surpresa de ver a saudosa Janet Leigh em uma cena rápida, porém,
bastante significativa por motivos de bastidores. Mãe na vida real de Curtis e
para sempre lembrada pelo assassinato de sua personagem em Psicose na famosa cena do chuveiro, ela surge aqui em seu último
trabalho para o cinema como uma assistente da diretora do colégio que
despretensiosamente lhe dá conselhos maternos como se estivesse prevendo que o
perigo rondava o local. Apesar das homenagens e nostalgia, os espectadores mais
jovens não ficam entregues ao tédio em momento algum. Não é a toa que o roteiro
teve alguns pitacos, embora não creditados, de Kevin Williamson. É dele o
roteiro de Pânico que revigorou os
slashers movies e impulsionou uma nova safra de produções similares. É dele
também as histórias de Eu Sei o Que Vocês
Fizeram no Verão Passado e Lenda
Urbana. Todas essas produções, apesar dos clichês e previsibilidade, alcançaram
seu principal objetivo que é simplesmente divertir, principalmente o público
jovem, e suas boas aceitações abriram caminho para o retorno de Myers... Em
grande estilo!
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