quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

CLOVERFIELD - MONSTRO

NOTA 7,0

Sem se preocupar em revelar a
ameaça fisicamente, mas deixando
clara sua presença, longa se preocupa
em mostrar as reações das vítimas
Assim como dinossauros, dragões e até um gorila super desenvolvido já invadiram a cidade grande, seja ela qual for, destruindo tudo o que viam pela frente, mais uma criatura gigantesca tentou repetir a façanha no mundo cinematográfico. Cloverfield - Monstro tem como chamariz mais um desses animais gigantescos que aparecem de tempos em tempos para amedrontar as pessoas, mas não trouxe novidades ao subgênero dos filmes catástrofes, a não ser o fato de preferir sugestionar ao invés de apresentar escancaradamente a ameaça, embora tal técnica fosse mérito do clássico Tubarão, mas de pouco uso. Outras referências já testadas e aprovadas em outras produções do tipo foram alinhavadas em uma produção claustrofóbica e com uma inteligente e instigante campanha de marketing. Talvez nisso esteja o segredo do projeto ter bombado nos cinemas americanos, ao contrário do que ocorreu no Brasil onde longa não pegou e a publicidade não foi tão maciça. O grande objetivo do roteiro de Drew Goddard, estreando no cinema, era acompanhar um pequeno grupo de pessoas e ver suas reações diante de uma situação de apuro extremo. O jovem Rob Hawkins (Michael Stahl-David) está de mudança para o Japão e ganha do irmão Jason (Mike Vogel) e da cunhada Lily (Jessica Lucas]) uma festa surpresa de despedida. Para registrar o encontro, seu amigo Hud (T. J. Miller) resolve fazer uma gravação caseira de alguns momentos e depoimentos do grupo embora esteja mais interessado em xavecar Marlena (Lizzy Caplan) que mostra-se indiferente ao cortejo. Beth (Odette Yustman), a ex-namorada do homenageado, também comparece à festa junto com seu novo companheiro, Travis (Ben Feldman), para rolar aquela cena clássica de ciúmes com o rejeitado. Para que perder tempo apresentando essa turma? A ideia é que o espectador se envolva a ponto de sofrer com o que vai acontecer a eles, mas é só uma intenção, ok? Durante a festa uma explosão ocorre e na sequência surgem tremores, barulhos ensurdecedores, queda de energia e mortes começam a acontecer. A cidade de Nova York está sendo destruída por um animal desconhecido e gigantesco e agora todos precisam correr para tentar achar algum lugar seguro, se é que existe algum.

Produzido por J. J. Abrams, criador da série de TV "Lost" que na época era um fenômeno,  a tal criatura é inspirada na figura do Godzilla, o lendário monstro japonês que acabou sendo importado e repaginado por Hollywood. O lance então é esperar o bichão aparecer e descobrir a ordem em que os personagens vão ser vitimados. Aparentemente a ideia básica é essa mesmo, porém, existe um interesse humano no caos que se instaura na narrativa e o longa também pode ser encarado como uma experiência diferenciada na maneira de contar e transformar em imagens uma história. A duração enxuta ajuda a dar ritmo e evitar que o filme se torne enfadonho,  afinal de contas desde o início já sabemos no que tudo isso vai dar. A filmagem amadora e supostamente descoberta em escombros feita com câmera tremida na mão, o chamado found footage, já era um recurso bastante manjado, mas o diretor Matt Reeves, de O Primeiro Amor de Um Homem  retornando ao cinema após anos dedicados à TV, o usa de forma exitosa. É angustiante ver as pessoas correndo e gritando desnorteadas, a cidade em ruínas e o estranho animal gigantesco urrando, se locomovendo rapidamente e destruindo tudo o que vê pela frente. Contudo, a criatura boa parte do tempo não é mostrada por completo e com riqueza de detalhes, sendo vista apenas de relance, até porque a ideia não era centrar a narrativa em suas ações e tampouco acompanhar as decisões de autoridades ou militares para exterminar o bicho, um clichê desse tipo de fita. Além de manter um clima de tensão e curiosidade crescentes, a intenção seria captar o desespero, o exibicionismo, a solidariedade, o egoísmo entre outras reações do ser humano através de um pequeno e diverso grupo de amostragem. Para o espectador o que fica latente é a angustia. É quase impossível assistir e não fazer uma conexão com as tristes imagens dos atentados de 11 de setembro quando vemos uma gigantesca nuvem de cinzas tomar conta da cidade por conta de incêndios e desabamento de arranha-céus.

Apesar das boas intenções o resultado não é marcante. Analisando com profundidade, o longa não tem nada demais e pode perfeitamente ser esquecido, mas é fruto de uma excelente estratégia de marketing que foi iniciada com trailers que apenas divulgavam a data de estreia, nem mesmo o título era mencionado. Aliás, Cloverfield não é o nome do monstro e sequer tem algum contexto no roteiro, sendo na realidade o nome do boulevard onde funcionavam os escritórios da produtora do longa. Com a ajuda da internet, as tais peças publicitárias começaram a pipocar em sites e blogs e então o boca-a-boca foi geral e todos (modo de dizer) ficaram aguçados a descobrir do que se tratava a produção. Bons tempos em que o mundo virtual ainda era capaz de causar certo burburinho em torno de um lançamento e fazer com que o espectador se sentisse fazendo parte de uma experiência maior que a simples apreciação de um filme. A cena mais impactante divulgada era a da Estátua da Liberdade com a cabeça decepada, uma prévia do que estaria por vir, e em meio ao caos muitas pessoas se preocupavam em fotografar e filmar com seus celulares o estrago, como se a forte lembrança de tudo que estavam presenciando já não fosse o bastante. Era preciso ter registro em mídia física, ou melhor, virtual para comprovar a experiência caso sobrevivessem. O clima de tensão só não é absoluto por conta da insossa história de amor que conduz a trama entre Beth e Rob e por conta de algumas falas de Hub que não funciona como alívio cômico. Realizado com um orçamento mínimo e tal qual ocorreu com A Bruxa de Blair, um fenômeno do final da década de 1990, Cloverfield - Monstro é mais um exemplo de que a propaganda é a alma do negócio e, infelizmente, mais uma vez o público foi incitado a cair em uma tremenda armadilha. Ou quase isso. Sem assumir seu aspecto de produção B, a fita tem lá suas qualidades como a ausência de trilha sonora e os próprios atores terem se encarregado das filmagens, tudo para preservar a ideia de que o filme é resultado de uma filmagem amadora, embora com um áudio perfeito demais. A curta duração, pouco mais de uma hora, também remete à capacidade de tempo de gravação de uma câmera digital comum e ajuda a sustentar a fantasia de que mais que preservar a vida o importante era um flash da calamidade para a posteridade.

Suspense - 84 min - 2008 

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