Nota 7 Com pinta de filme B, longa surpreende com tensão crescente em meio a situação extrema
O cinema norte-americano já ofereceu no passado grandes produções de horror, mas ultimamente tudo que vem de lá é tão pueril, artificial e clichê que qualquer sinal mínimo de originalidade é capaz de elevar um filme medíocre ao patamar de obra de arte. Monstros lendários, animais mutantes, assassinos mascarados, fantasmas de olhinhos puxados e carnificina sem rodeios. O gênero terror vive de fases, mas algumas delas tem períodos de declínio e muitas produções acabam já sendo lançadas pré-definidas como obras trash. Hoje em dia, por exemplo, poucos se animam a assistir enredos sobre humanos fugindo de animais enfurecidos. Na hora nos vem a cabeça referências a efeitos especiais precários, atuações risíveis e tramas... Bem, história para contar é só um detalhe, o que importa são as mortes e quanto mais detalhadas melhor. Houve uma época em que também tornaram-se comuns as desventuras de exploradores presos em cavernas malditas, assombradas, perigosas e por aí vai. A falta de imaginação para intitular tais produções já funcionam como um aviso das bombas que se tratam. As Ruínas poderia cair facilmente neste grupo seleto e infeliz, mas se salva razoavelmente.
O escritor Scott Smith sabiamente resolveu adaptar seu próprio livro, não jogando o universo que criou nas mãos de um aventureiro. Mesmo com algumas sutis modificações, nada melhor que o próprio criador cuidar de sua criatura. Ele já havia feito isso com sua obra Um Plano Simples cujo roteiro foi indicado ao Oscar. Aventurando-se pelo campo do horror, ele não realiza um trabalho transgressor, marcante ou digno de elogios rasgados, porém, simplesmente entrega um produto razoavelmente diferenciado em meio ao marasmo da época, embora o cenário não tenha se modificado muito nos últimos anos. Dois casais jovens, Jeff (Jonathan Tucker) e Amy (Jena Malone) acompanhados de Eric (Shawn Ashmore), Dimitri (Dimitri Baveas) e Stacy (Laura Ramsey), estão curtindo férias no México, mas pouco antes de voltarem para casa tem o azar de conhecer Mathias (Joe Anderson), um alemão bom de lábia que os convida para ajudá-lo a procurar seu irmão Henrich (Jordan Patrick Smith), que foi participar de uma escavação arqueológica, mas não dá notícias há vários dias.
A curiosidade dos jovens em aproveitar a oportunidade de visitar as ruínas de uma pirâmide erguida pelo lendário povo maia lhes custará um preço caro. Eles são perseguidos por uma violenta tribo que aparentemente só quer defender o território da invasão dos homens brancos, mas suas ações acabam fazendo com que o grupo se refugie dentro da construção que não é lá um ambiente muito amistoso. Pior ainda, explorando o lugar vão descobrir que antes deles outras pessoas estiveram presas lá e ao que tudo indica não conseguiram escapar, muito menos sobreviver. Você já viu essa história antes? Sim, de fato, o argumento base é bastante semelhante a filmes como O Albergue e Turistas que também abordam os percalços de jovens em viagem por um país cuja cultura desconhecem e acabam caindo nas armadilhas de sádicos. Contudo, Smith evita seguir o caminho fácil de simplesmente estripar gratuitamente um a um os personagens e prefere voltar as atenções para o aspecto psicológico da situação, os ânimos alterados pela claustrofobia e o pânico de não saber o que é mais ameaçador, se o que os espera fora da pirâmide ou o que há literalmente enraizado no local os espreitando.
Não convém revelar o mistério, mas ele pode tanto surpreender quanto ser alvo de deboche, fica a dica. Estreia do diretor Carter Smith (sobrenome coincide, mas não é parente do roteirista), ele gasta uma penca de minutos apresentando o grupo de jovens, mesmo com perfis limitados, para criar identificação com o espectador que felizmente é poupado de forçados alívios cômicos. Assim que Mathias entra em cena começa a ser trabalhado o suspense, aliás o rapaz protagoniza uma das cenas mais tensas e nauseantes do longa, tão perturbadora quanto o surto de loucura de Stacy quando se sente possuída por uma força maligna. Dimitri é o personagem com menos tempo de tela. Pensando que o grupo que os ameaça são ignorantes o suficiente para confundirem uma câmera fotográfica com um revólver, ele tenta enfrentar a tribo, mas acaba indo de arrasta de forma violenta e ainda no primeiro ato. Devemos dar crédito ao excelente elenco jovem que foge do habitual conceito de que para atrair o público-alvo é preciso dar mais valor a beleza e a corpos perfeitos do que ao talento. A ausência de algum nome estrelar encabeçando o elenco também ajuda a reforçar a credibilidade da obra.
Curiosamente, o ator Ben Stiller assina a produção como produtor executivo. Para quem não associou o nome a pessoa, ele é mais conhecido por suas comédias rasgadas, como as franquias Entrando Numa Fria e Uma Noite no Museu, o que surpreende seu envolvimento com um projeto de tom soturno, sangrento e por vezes claustrofóbico. Todavia, As Ruínas evita sustos repentinos, concentrando seus esforços em construir um crescente clima de tensão e até inserindo uma contundente crítica social. Os Smith, tanto o diretor quanto o roteirista, foram corajosos por mostrarem para seus conterrâneos como os estadunidenses são babacas e arrogantes em solo estrangeiro, sempre subestimando os habitantes locais. Os jovens tentam comprar suas fugas oferecendo dinheiro e bugigangas aos descendentes de índios que os encurralam e recebem em troca violentas respostas. A situação é parecida com o que ocorreu no Brasil em sua colonização, qual será o povo que não evoluiu ao longo da História? Os indígenas que tem a sabedoria de proteger e manter viva suas tradições e história ou os brancos que acham que o dinheiro compra tudo e que desprezam seu passado visando apenas um futuro de sucesso?
Terror - 93 min - 2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário