quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

SEM RESERVAS

NOTA 7,0

Apesar do jeitão de comédia
romântica, refilmagem de
obra alemã investe mais em
drama, mas não poupa açúcar
Nem só de refilmagens de terror e suspenses orientais vive o cinema americano quando existe escassez de ideias. Muitas obras europeias pouco a pouco vão ganhando suas versões americanizadas e antes que alguém se desespere acreditando que um filme muito bom será reduzido a pó em sua releitura é bom deixar avisado que sempre há uma luz no fim do túnel. A comédia romântica Sem Reservas é um bom exemplo que mostra que o que já era bom pode ficar ainda melhor. Baseada no longa alemão Simplesmente Martha, esta produção é um achado em meio a mesmice que se encontra no gênero das comédias românticas, em geral sempre repetindo velhas e manjadas fórmulas que não acrescentam nada de novo. Neste caso as coisas não são muito diferentes, porém, é perceptível que a atualização do texto original para os padrões hollywoodianos foi bem feitinha, as atuações são vigorosas e sentimos certo ar europeu na idealização das imagens e narrativa. Ok, pode ser um pouco de exagero dizer que este trabalho do diretor Scott Hicks é excepcional, mas ao menos o remake não manchou a reputação da obra original de Sandra Nettlebeck, ainda que muitos o considerem apenas mais uma historinha água com açúcar para agradar a mulherada e facilmente esquecível. O longa conta a história de Kate Armstrong (Catherine Zeta-Jones) uma famosa chef de restaurante reconhecida por seu talento, perfeccionismo e personalidade forte. A moça leva uma vida solitária e encontra na cozinha o seu melhor refúgio, porém, sua rotina irá mudar drasticamente por causa de um fato inesperado. Sua irmã morre em um acidente de carro e ela é obrigada a tomar conta de sua sobrinha de apenas dez anos, Zoe (Abigail Breslin), embora ela não seja muita amigável com crianças. O relacionamento das duas não é dos melhores, mas as coisas pioram quando os ânimos de Kate ficam em ebulição com a chegada de um novo cozinheiro, o espaçoso e animado Nick Palmer (Aaron Eckhart), o que ela encara como uma ameaça a seu emprego. Bem, com uma trinca de atores talentosos e simpáticos em cena dificilmente alguém não se sente instigado a dar uma conferida no filme.

Obviamente a maioria se encanta pelo profissionalismo absurdo da então atriz-mirim Abigail Breslin que despontou em Pequena Miss Sunshine e já era uma substituta natural e imediata a vaga deixada por Dakota Fanning como garota prodígio do cinema, embora a diferença de idade entre elas não deve ser tão grande. A jovem intérprete sem querer rouba as atenções para sua personagem e em certo momento parece que as mudanças comportamentais da tia e até seu entendimento com seu rival no fogão dependem unicamente da pequena. Vale destacar que a protagonista não chega a ser um grande personagem capaz de extrair todo o potencial da galesa Catherine, mas é um tipo interessante com o qual muitas mulheres podem se identificar graças aos desafios e mudanças na vida pessoal e profissional da chefe de cozinha. Transitando na casa dos trinta anos, é como se Kate estivesse vivendo uma crise interna talvez por viver sozinha, não ter tido filhos, porém, não deixa a mágoa transparecer protegendo-se atrás de uma imagem de mulher metódica e firme. Já o galã da história é o típico homem dos sonhos do público-alvo da fita. Bonito, culto, simpático, com sensibilidade apurada e, o melhor de tudo, um ótimo cozinheiro. Todavia ele também usa o trabalho como escudo para não deixar que sua solidão tenha vazão. Juntos Catherine e Eckhart formam um belo e cativante casal que temperam com ingredientes suaves esta receita que ora emociona e ora faz o espectador esboçar sorrisos. É preciso ressaltar que ambos apresentam interpretações acima da média para o tipo de produção, um prato cheio para atores folgados que curtem atuar no melhor estilo piloto automático. Aliás, para quem espera ver uma guerra de alimentos a la “Guerra dos Sexos” procure outra opção. O humor aqui é adicionado em pequenas quantidades e até mesmo o romance não é utilizado com exagero. O tom de drama leve é que prevalece, mas como é preciso atrair público o rótulo de comédia romântica é o mais comercial, embora possa não atender plenamente as expectativas de quem seja atraído por ele.

A obra original é um romance com carga dramática mais acentuada e algumas poucas pitadas de humor, mas Hicks, que ganhou fama com as indicações a prêmios que recebeu por Shine - Brilhante, preferiu trilhar o caminho da comédia romântica seguindo alguns conceitos da cartilha do gênero, motivo que afugenta muitos de conhecerem esta obra que não se envergonha e assume seu caráter previsível afinal de contas um final feliz é o que o público deste tipo de filme deseja, algo que a versão alemã não contemplou totalmente. Ainda assim, até mais ou menos a metade do longa a equipe técnica tentou reproduzir ao máximo a atmosfera do filme alemão repetindo inclusive enquadramentos, situações e até detalhes e acessórios da cenografia, porém, o restante seguiu os padrões hollywoodianos inclusive substituindo o mocinho da fita antes bonachão por um homem desejável de forma a ser mais crível a relação amorosa que irá ser criada entre os protagonistas. Para completar, como já dito, uma dócil criança na mistura fisga a atenção de qualquer um, ainda mais quando ela tem um choro tão sincero como o de Abigail. Com a sensível direção de Hicks, aliada a uma narrativa agradável escrita pela autora Carol Fuchs e ainda carregando um pouco da essência feminista da obra original, é inegável que Sem Reservas é fadado a ser rotulado eternamente como um filme exclusivo para o público feminino, mas os homens que se aventurarem a encarar esta viagem gastronômica e romântica não devem se arrepender. O roteiro enxuto e com diálogos ágeis e eficientes ajudam a envolver o espectador que acredita na relação sentimental que nasce aos poucos entre uma solteirona sisuda, uma criança esperta e cativante e um trintão de bem com a vida. O relacionamento é construído com muito cuidado, apesar de nos minutos finais as coisas acelerarem, mas nada que estrague o conjunto que deve saciar a vontade de se emocionar de muita gente. Para aqueles que não curtirem nem um pouquinho da produção pela pegada romântica, ao menos os deliciosos pratos e garrafas de vinhos que desfilam por pouco mais de uma hora e meia em cena devem servir de consolo.

Romance - 104 min - 2007

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