Nota 2 Previsível e com personagens tolos, longa também sofre com efeitos capengas e escuridão
"Abaixo do céu há o inferno. Abaixo do inferno há a caverna." Com esta simples, porém, instigante frase de marketing, A Caverna não cumpre o que promete, nem um pouquinho. O argumento é dos mais batidos possíveis. Como diz o ditado popular, quem procura acha, e nem sempre o que se encontra é algo muito bom. O cinema está cheio de produções que enfocam exploradores que em geral não encontram tesouros escondidos, mas sim verdadeiras ameaças que estavam quietinhas no canto delas, no entanto, prontas para atacarem quando farejassem carne fresca no pedaço ou se sentissem ameaçadas. O roteiro de Michael Steimberg e Tegan West tinha a intenção de investir na exploração dos efeitos perturbadores da escuridão e da claustrofobia em um ambiente que já conta com uma ameaça real, violenta e gigantesca, mas o resultado é enfadonho. Em meados da década de 1970, um grupo de exploradores encontrou em meio a uma região montanhosa da Romênia uma igreja em ruínas, uma construção datada do século 13 cujo subsolo abrigava um sistema de cavernas, mas um desmoronamento inesperado acaba soterrando a todos.
Muitos anos se passam até que uma outra equipe de cientistas, liderada pelos irmãos McAllister, Jack (Cole Hauser) e Tyler (Eddie Cibrian), vá até o local para fazer uma inspeção mais cuidadosa e descobrir um possível novo ecossistema, mas também acaba ficando presa após uma explosão que bloqueia a saída. Como ninguém do lado de fora esperava encontrá-los com vida pelo tempo que ocorreu o acidente, mesmo com os exploradores contando com os mais modernos equipamentos de comunicação, rastreamento e mergulho, os próprios aventureiros precisarão se virar para escapar, mas enquanto tentam achar uma saída descobrem o que há de tão misterioso na tal caverna: uma espécie animal totalmente nova e ameaçadora que aprendeu a sobreviver em condições precárias. Em meio a escuridão quase total e em um ambiente fechado e íngreme, qualquer um pode perder a vida inesperadamente e é claro que não faltam opções para a fera devorar. O grupo inclui os cientistas Top Buchanan (Morris Chesnut), Nicolai (Marcel Iures) e Kathryn (Lena Headey), o especialista em informática Strode (Kieran Darcy-Smith), o cinegrafista Kim (Daniel Dae Kim) e, por fim, Briggs (Rick Ravanello) e Charlie (Piper Perabo), respectivamente ocupando as vagas do arrogante e da garota bonitinha da trupe.
Com tantos predicados reunidos nesta produção você já deve imaginar o nível das interpretações. Geral no piloto automático e só no carão de espanto. A trama também não ajuda o elenco, oferecendo ganchos rasos sobre superação e companheirismo para preencher o tempo entre uma morte e outra. A premissa é bem previsível e o longa em si não agrega novidade alguma ao filão das fitas trashs envolvendo animais ferozes e estranhos. Décadas atrás até poderia causar algum tipo de impacto ou tensão a batida trama do grupo de exploradores que tem o azar de despertar uma espécie animal desconhecida e indomável, mas tal tema já foi tão explorado que em pleno século 21 qualquer enredo do tipo automaticamente é taxado de lixo, embora esta produção dirigida pelo então estreante Bruce Hunt não decepcione tecnicamente. A concepção do interior da caverna é o ponto alto, com galerias imensas e profundas, rios subterrâneos e paredes e solos que transmitem com perfeição a sensação de aspereza e rochas salientes. O cineasta consegue criar um bom clima de suspense e claustrofobia, mas ao mesmo tempo o excesso de escuridão das cenas imprime à narrativa uma sensação de tédio indescritível, assim a atenção acaba sendo dispersada facilmente, até porque os diálogos com muitas expressões e explicações pertinentes ao mundo científico deixam tudo com ares muito didáticos.
Cientistas e pesquisadores estão sempre encontrando espécies que sofreram metamorfoses, sejam elas naturais para se adaptarem ao ambiente em que vivem, ou devido a mutações químicas ou genéticas travestidas de ações contra a extinção de espécies. Nesses casos com a ação do homem ligada diretamente, muitas vezes são originadas criaturas que os próprios pesquisadores não conseguem domar. Vendo por esse ângulo, até que a narrativa pode parecer um pouco mais interessante, até porque de fato existem registros de espécies diferenciadas encontradas em remotas regiões do planeta, o que enxerta um pouco de credibilidade ao longa, mas não o suficiente para salvá-lo. Outro ponto negativo é a sensação de que você já viu esta história antes e certamente virão a tona lembranças de outras fitas com temática semelhantes, como Alien vs. Predador e Abismo do Medo, por exemplo. Como já dito, filmecos com fiapos de história cujo único objetivo é criar pânico com mortes pré-anunciadas há tempos já não assustam mais, pelo contrário, provocam um número bem maior de gargalhadas. Ao menos Hunt não exagera e nem imprime humor desnecessário, tentando levar seu filme com seriedade.
A quem tiver ânimo para acompanhar A Caverna até o fim, só resta ficar na expectativa de quem vai sobreviver ao massacre, mas infelizmente não resta ao espectador nem mesmo o prazer de torcer por alguém. Além dos personagens insignificantes, as sequências de ataque não criam clima de tensão algum, mesmo com o diretor usando sua câmera de forma a escamotear o quanto pode o visual da temível espécie subterrânea. Contudo, nem mesmo quando a criatura é revelada as coisas melhoram, afinal sua aparência bizarra é digna de trash movies. E olha que Hunt participou da equipe de direção de Matrix comandando algumas das cenas mais eletrizantes e que necessitaram de um grande número de trucagens gráficas. O final deixa um gancho para uma possível continuação, o que felizmente não veio acontecer, mas na época muitas outras produções baratas e de gosto duvidoso tentaram pegar carona no tema das cavernas misteriosas. Se uma produção do tipo com um mínimo de cuidado já foi um fracasso, imagine o nível das outras.
Terror - 97 min - 2005
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