quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

A NOIVA (2017)


Nota 5 Embora seja produção russa, longa copia estilo de Hollywood dos chavões aos deslizes


É sabido que Hollywood produz muitos filmes de terror e mesmo requentando ideias ainda mantém aquecida a indústria do cinema americano. Países orientais tiveram sua fase de evidência com o gênero enquanto da Espanha vez ou outra pipocam algumas produções de arrepiar que carimbam o passaporte de diretores e roteiristas para trabalharem nos EUA. Contudo, nos últimos anos, verifica-se que outros países sem tradição com fitas de horror estão buscando explorar tal território, ainda que de forma tímida. Só pelo fato de ser oriundo da Rússia, o longa A Noiva já aguça a curiosidade, porém, justamente por criar expectativas acaba decepcionando. Escrito e dirigido por Svyatoslav Podgaevskiy, o filme usa como argumento uma antiga lenda local a respeito de que os mortos podem sobreviver através das fotografias que tem o poder de aprisionarem suas almas e assim mantê-las no mundo dos vivos. Para explanar rapidamente tal tradição, a introdução se passa em meados do século 19 quando, inconformado com a perda da pretendente às vésperas do casamento, o noivo (Igor Khripunov) decide fotografá-la com uma maquiagem sobre as pálpebras fechadas dando o efeito de olhos esbugalhados. Porém, ele vai além e tenta transferir a alma da falecida para o corpo de uma virgem sacrificada em um ritual, mesmo que o resultado não a traga de volta à vida por completo. Ele poderia ter o espírito da amada novamente, mas jamais o seu corpo. 

Com tal início arrepiante, ficasse a trama ambientada neste período o longa certamente seria bem mais interessante, porém, há um salto no tempo de dois séculos para acompanharmos a história de Nastya (Victoria Agalakoya), uma jovem que está prestes a realizar seu sonho de se casar com Vanya (Vyacheslav Chepurchenko), aquele que acredita ser o homem da sua vida. Contudo, somente após a cerimônia civil é que ela vem a finalmente conhecer a família do rapaz em uma viagem até o vilarejo onde ele cresceu. Ela é recebida de forma muito amistosa por todos da casa (obviamente isolada), principalmente por Liza (Aleksandra Rebenok), sua cunhada, mas aos poucos vai percebendo que a velha residência esconde obscuros segredos. Mesmo incomodada, Nastya aceita participar de um antigo ritual de união afetiva que é uma tradição na família do noivo, mas durante as preparações para a cerimônia estranhos eventos e mudanças de comportamento dos anfitriões passam a atordoar a moça. Aqui e acolá encontramos elementos que nos fazem relembrar de filmes como Os Outros, O Chamado, A Chave Mestra, A Mulher de Preto, entre outros. Entre clichês e estereótipos, a trama perde o fôlego rapidamente não conseguindo conectar coerentemente o presente e o passado que insiste em se manifestar. 


Ninguém irá se surpreender com a revelação que a tal noiva do prólogo fazia parte da família de Vanya e que o seu casamento foi planejado para manter a tradição familiar. Se o início soava promissor, quando a ação passa para os tempos contemporâneos o roteiro se degringola pouco a pouco, embora mantenha certa coerência. Em seus pesadelos, a protagonista consegue voltar ao passado e assim compreender os propósitos e consequências do ritual que está prestes a ser submetida e dessa forma tentar encontrar alguma forma de escapar. No limite entre a paranoia e a realidade, os problemas que a jovem enfrenta em nada surpreendem. A  trama ainda é prejudicada por não ter fôlego suficiente para se sustentar. Precocemente explicada a maldição e a ligação da protagonista com a mesma, não há muito mais o que expor, muito menos reviravoltas para se esperar. Podgaevskiy então investe em diálogos extremamente expositivos e em sustos previsíveis, mas por outro lado com sua câmera explora bem o cenário e os detalhes da caprichada direção de arte que oferecem o tom assustador para a fita que a trama em si fica a dever. Com seu estilo gótico, visualmente o longa remete a grandes produções de horror do passado, ou melhor, lembra aquelas que outrora faziam o sangue gelar, mas com o tempo passaram a ser rotuladas como filmes B. 

Entretanto, falta ao longa russo a essência das fitas de baixo orçamento que é justamente o uso da criatividade para driblar os recursos materiais escassos, algo que fica evidente principalmente pela caracterização da tal noiva-cadáver. Impactante na sequência inicial pela morbidez da pintura de olhos sobre as pálpebras e o pescoço mole que custa a ficar imóvel para que o corpo seja fotografado, depois a defunta ganha uma maquiagem e figurino horrendos que aliados aos exagerados movimentos corporais acabam por causar risos involuntários. Para quem esperava algo mais original pelo fato de ser uma produção russa, a decepção é inevitável visto que, na ânsia de atrair um público mais amplo e não ter seu trabalho rotulado como um produto elitizado, Podgaevskiy copia descaradamente todos os chavões do gênero, não deixando de lado nem mesmo os irritantes sons explosivos e súbitos inseridos para assustar o espectador, mas que acabam por enfraquecer o impacto das imagens que deveriam estar em sintonia. Nada contra a ideia de um país tentar fortalecer sua indústria de cinema desvencilhando sua imagem do cinema de arte, mas se é para ser mais do mesmo não faz muito sentido. Passado em brancas nuvens em praticamente todo o mundo, todavia em seu país-natal a fita fez bonito e rendeu uma polpuda bilheteria, um bom incentivo para cineastas e produtores locais explorarem ainda mais outros gêneros. 


Aliás, as interpretações também deixam a desejar com personagens bastante frios, principalmente a mocinha em perigo que deveria despertar a compaixão do espectador, mas este fica insensível ao seu drama. Rebenok é quem se salva do elenco beneficiada pelo fato de dar vida a uma mulher naturalmente depressiva e amarga, assim a falta de pulso do diretor no comando dos atores não lhe traz prejuízos. Com tantos problemas, contudo, A Noiva atinge seu propósito maior: se aproximar a um produto hollywoodiano, e isso não é necessariamente um elogio. Aos desavisados, tranquilamente pode ser confundida com uma fita norte-americana tamanha sua vocação para o genérico. Não se surpreenda portanto se no futuro uma versão ianque do enredo ganhar aval visto que, apesar da fácil assimilação do conteúdo, o público de lá detesta ler legendas e não suporta dublagens. Caso isso ocorra, será como trocar seis por meia dúzia certamente.

Terror - 93 min - 2017

A NOIVA (2017) - Deixe sua opinião ou expectativa sobre o filme
1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
5 – 6 Bom, cumpre o que promete
7 – 8 Ótimo, tem mais pontos positivos que negativos
9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
Votar
resultado parcial...

2 comentários:

GustavoPeres99 disse...

Esse filme eu gostei, a história é interessante, lembra dos casos dos Warrens

Fred disse...

Cara, a 1ª linha do segundo parágrafo que você escreveu já definiu perfeitamente o que eu senti quando assisti esse filme. Boa crítica.

Gostei do filme e discordo da maioria das críticas que li na internet sobre ele. 'Desceram o pau' sem a menor necessidade. Os primeiros 15 minutos são excelentes e nos dão a impressão de que veremos uma coisa foda focada na questão folclórica das fotos sinistras com defuntos e tal, só que essa boa premissa inicial, infelizmente, foi só utilizada pelo roteiro para justificar a existência de uma maldição nos tempos atuais. Foi aí que o filme pecou. Faltaram mais elementos narrativos para enfatizarem a boa alegoria inicial e isso transformou o filme em mais uma saga genérica de sobrevivência da mocinha em perigo tentando desesperadamente escapar de um ritual qualquer. Tinha tudo pra surpreender, mas preferiram apostar no 'mais do mesmo hollywoodiano' e vacilaram. Agora, é, ainda assim, um bom filme, tem um bom clima de terror, dá sustos e causa desconfortos em algumas cenas. Tecnicamente é competente, tem uma fotografia e direção de arte excelentes e a atuação da Aleksandra Rebenok é muito boa, causando desconforto em vermos a personagem dela em todas as cenas. A direção do filme é que é um tanto arrastada e cansativa, mas não o suficiente para estragá-lo, na minha opinião. No geral, gostei do que assisti e agradará à muitos fãs de filmes clássicos de terror americanos.