NOTA 8,0 Comédia romântica musical conquista com enredo simples, músicas contagiantes e a alegria e simpatia do elenco |
O verão é uma das melhores épocas do ano. Dias mais
longos, temperaturas altas, uma incrível sensação de liberdade, muita gente
curtindo férias e nada melhor que um filme alto astral e com o clima ensolarado
da estação para fazer companhia. Mamma Mia! pode ser considerado
a tradução cinematográfica do que um período de descanso significa. Do início
ao fim, o espectador é convidado a participar de uma verdadeira festa que
parece não ter hora para acabar e de quebra se deliciar com um agradável passeio
por belas paisagens gregas, embora a maioria tenha sido inserida através da
computação gráfica, mas isso é só um detalhe. Em meio a tanta diversão e
descontração quem vai ficar procurando defeitos? Bem, infelizmente não é todo
mundo que deixa seu espírito alegre aflorar com esta produção, ou melhor, o
gênero musical por si só sofre preconceito, mas neste caso temos um agravante
para a repulsa: a trilha sonora do grupo ABBA com hits dos tempos da discoteca.
Sucesso no passado, o quarteto sueco hoje é sinônimo de brega e automaticamente
tal rótulo foi aplicado ao longa de estreia da diretora Phyllida Lloyd. Fale
bem ou fale mal, mas falem de mim. O fato é que esta comédia romântica logo que
foi lançada gerou burburinhos e como a maioria dos filmes agradou e desagradou
em proporções similares, mas o passar dos anos mostra que a turma de fãs é bem
grande, ainda mais com o respaldo do espetáculo teatral que rodou o mundo e
ajudou a propagar a fama do longa-metragem. Realmente foi para os palcos que
primeiramente o projeto foi pensado ainda na década de 1980, uma forma de
aproveitar os últimos resquícios da era da disco music, mas a ideia só foi
concretizada em 1999 pelas mãos da própria Phyllida que fez sucesso com o
espetáculo em Londres. Apostando na nostalgia do público, logo a peça-show
estava em cartaz na Broadway e se tornou um dos produtos do tipo que mais tempo
ficou em cartaz. Versões locais também passaram a existir em diversos países,
inclusive no Brasil, porém, o espetáculo só foi parar nos palcos de algumas
poucas cidades brasileiras graças ao enorme sucesso que o filme fez por aqui.
Dirigido pela mesma diretora do espetáculo teatral e mantendo praticamente todo
o roteiro original dificilmente as coisas poderiam desandar, pelo menos para
aqueles que procuram diversão sem ter que gastar o mínimo de cérebro, contudo,
falar que esta produção é acéfala ou destinada a público idem não é correto. A
diretora nunca teve a intenção de fazer algo revolucionário ou que colocasse as
plateias para pensarem, pelo contrário, o objetivo é simplesmente entreter e
ser uma opção escapista. A quem interessar bom proveito.
A trama escrita por Catherine Johnson começa as
vésperas do casamento de Sophie (Amanda Seyfried) com Sky (Dominic Cooper),
dois jovens que vivem em plena harmonia, mas o plano de uma união de papel
passado e com bênçãos religiosas é muito mais um desejo da mocinha ou até mesmo
um capricho seu. Ela sempre viveu com a mãe, Donna (Meryl Streep), que nunca
revelou quem era seu pai, mas quando a garota encontra um antigo diário dela
surgem pistas de três homens e um deles provavelmente é a pessoa que ela tanto
procura. Assim, a noivinha envia convites do casório para Sam (Pierce Brosnan),
Bill (Stellan Skarsgard) e Harry (Colin Firth), mas Donna nem desconfia e leva
um baita susto quando o passado literalmente bate a sua porta. Detalhe, os três
convidados só descobrem na ilha grega que todos se relacionaram com a mãe de
Sophie e que um deles é o pai da jovem. E Donna, por sua vez, tentará
expulsá-los de lá o quanto antes para que seu segredo não seja revelado.
Adornando a confusão de sentimentos dos personagens principais é que entram em
cena as canções do ABBA. São mais de vinte músicas executadas na íntegra que
apesar de antigas possuem letras que em sua maioria complementam o enredo com
perfeição. Sonoramente falando, as canções contagiam com suas melodias e ficam
ainda mais vibrantes para os espectadores porque os próprios atores soltaram a
voz não só no estúdio de gravações de músicas, mas também cantaram durante as
filmagens das cenas, o que deixa tudo muito mais realista e sem aquela sensação
de dublagem forçada. Para dar um charme a mais, Phyllida teve a boa ideia de
introduzir um coro nos números musicais utilizando os figurantes. Trama
romântica, música, dança, belas paisagens... Sem dúvida esta é um obra
carregada de essência feminina, mas isso não quer dizer que os homens não
possam se divertir também, ainda que em contrapartida o elenco masculino esteja
parecendo figuração diante da energia esbanjada pela trupe feminina. Brosnan e
Cooper seguram as pontas como os galãs enquanto Firth e Skarsgard garantem bons
e naturais momentos de humor aproveitando-se da personalidade de seus
personagens. Todavia, por mais que se esforcem quem reluz mesmo é a veterana
Streep. Conhecida por interpretações dramáticas fortes, a atriz surpreende com
uma disposição invejável já próxima da casa dos 60 anos de idade e deixando
transparecer o quanto se divertiu neste trabalho. Dentro dela existe uma
criança louca para ser libertada e esta é a prova de que quando lhe dão tal
chance ela não desperdiça. Mesmo roubando as atenções involuntariamente para si
a estrela ainda ajuda outros a brilharem, como a jovem Seyfried com quem
conseguiu criar uma crível relação de mãe e filha e colaborou para deslanchar a
carreira da então novata atriz.
Merece destaque também as atuações de Julie Walters e
Christine Baranski, respectivamente como Rosie e Tanya, duas personagens
carismáticas e divertidas amigas de longa data de Donna. Elas estão à disposição
para ajudar a atenuar os males do conflito principal com seus pitacos nem
sempre úteis, mas também vivem seus próprios dilemas amorosos em tramas
paralelas. Assim como o restante do elenco já citado, elas também têm ao menos
um número musical para chamar de seu e esbanjam talento. Mesmo tendo uma
duração relativamente curta, o longa parece ser muito mais demorado, mas no bom
sentido. Como todo o elenco tem sua chance de brilhar e conflitos bem
definidos, a monotonia passa longe do filme, chegando ao clímax de tudo ainda
na metade com a longa sequência dedicada ao hit “Dancing Queen” que resgata o
espírito dos musicais de antigamente com os personagens cantarolando e
saltitando pelas ruas sem medo de ser feliz. A canção é repetida mais uma vez
durante os créditos finais trazendo Streep, Baranski e Walters em performances
um tanto nostálgicas e carregadas de purpurinas e brilhos. Já a segunda música
da conclusão com a participação do restante do elenco é de deixar qualquer um
ruborizado e constrangido. A canção é animada, mas ver os homens trajando
roupas brilhantes e sapatos plataformas é motivo para chorar de tanto
gargalhar, destoa demais no conjunto. Contudo, exagero é a palavra chave de Mamma
Mia!. Apesar de economizar em figurinos e adereços cênicos boa parte do
tempo, deixando brilhos e luzes para momentos estratégicos, o exagero nas
atuações mantém o apelo teatral original e traz um saudosismo contagiante.
Obviamente está longe do glamour dos antigos musicais e tampouco se aproxima do
luxo de produções recentes do gênero, mas a bem dosada mescla de exagero e
simplicidade garantem a esta obra uma identidade única. O aparente despojamento
visual só realça o empenho do elenco e deixa claro que para fazer cinema a
criatividade e o amor pelo trabalho ainda são os principais ingredientes. É um
festejo à liberdade, às coisas boas da vida e pensar em tristezas ou coisas
lógicas não faz parte do roteiro. Podem falar o que for, mas dificilmente
alguém consegue assistir ao filme sem ao menos dar umas batidinhas de pé no
chão, estalar os dedos ou perder a vergonha e levantar do sofá para dançar. Os
citados clipes que acompanham os créditos finais são um convite e tanto para
quem estiver contagiado com a vibração deste musical que de certa forma marcou
uma época, tornando-se um dos musicais cinematográficos mais rentáveis de todos
os tempos.
Musical - 108 min - 2008
2 comentários:
Confesso que tive muita repulsa para assistir a esse filme, pois não sou chegada a musicais. MAs até que o achei bonitinho! É uma história leve, para descontrair mesmo, além de levar músicas muito boas.
abraço!
Oi Guilherme tudo bem...
Hoje tive o privilégio de assistir esse filme, e me bateu uma boa lembrança sua. De como contava seu contexto e resolvi passar por aqui. Muito bom adorei o filme, assim como sua crítica, nota 10.
Sorte e Sucesso... Abraços!
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