NOTA 9,0 Drama poderia ser apenas mais uma história sobre um triângulo amoroso, mas consegue ir além explorando perfis dos personagens |
O que poderia gerar um conflito acaba se tornando a tábua de
salvação para a aristocrata que está prestes a perder sua posição de destaque
na sociedade. Kate descobre que sua mais nova amiga está com uma doença
terminal e decide jogá-la nos braços de seu namorado, pois com eles casados
Densher teria direito a uma polpuda herança quando Milly morresse e enfim os
dois poderiam viver seu amor em paz e ninguém da família Croy poderia reclamar
que o rapaz não tem posses. Enquanto uma delas tinha o dinheiro e desejava
conhecer o amor, a outra já vivia plenamente este sentimento, mas precisava de
riquezas para ser totalmente feliz. Entretanto, tudo que é errado gera
consequências e certamente uma delas sairá perdendo nesta história. Ou quem
sabe as duas. O plano parecia perfeito, mas tudo se complica quando ele é
parcialmente revelado ao ganancioso Lord Mark (Alex Jennings), que na opinião
de Maud seria o marido perfeito para sua sobrinha, mas este homem apesar de ter
posses também está de olho na fortuna da senhorita americana. O
cineasta Iain Softley resolveu adaptar um conto de James até então pouco
conhecido, mas isso não é um fator de depreciação, pelo contrário, até porque
mesmo não aclamado pelo grande público ele é considerado por especialistas em
literatura como uma das três obras-primas do autor inglês. Alguns especialistas
chegaram a afirmar que o romance dificilmente ganharia uma versão
cinematográfica digna devido as dificuldades em traduzir em imagens o estilo
essencialmente literário do autor. Todavia, com um texto menos popular nas mãos
foi possível ter um pouco mais de liberdade na adaptação e fisgar a atenção do
público com a publicidade de ser um enredo baseado em escritos de um autor
famoso. Bem, sucesso nas bilheterias não fez, até porque na época em que Titanic estava
bombando dificilmente algum outro filme escaparia de ser afundado pela história
do famoso acidente marítimo. Pelo menos a crítica ficou muito satisfeita com a
obra e a cobriu de elogios, principalmente por conta de seus detalhes estéticos
e pelo elenco afinado e empenhado, ainda mais depois das quatro indicações ao
Oscar, entre elas a de melhor atriz para miss Carter. O roteiro de Hossein
Amini concentra-se no triângulo amoroso movido primeiramente pela ambição e
investe no viés psicológico dos jovens personagens, procurando caracterizar de
forma convincente os seus sentimentos e motivações, especialmente os de uma
heroína que é, em última análise, má.
Flertando entre a inocência e o maquiavélico, Softley conduz
o entrecho amoroso envolvendo o espectador de tal forma que ele pode até sentir
vontade de torcer para que os planos da protagonista se concretizem. Em contos
românticos clássicos geralmente a mocinha é sempre doce, sofre um bocado, mas
no final ganha seu felizes para sempre junto ao seu amado. Não convém dizer
como esta história acaba, mas só pela audácia de um conto mostrar a hipocrisia
de uma sociedade tão venerada e ser protagonizado por uma mulher de caráter
dúbio, já dá para se ter uma ideia de que o final não deve decepcionar a quem
prefira narrativas mais realistas. Para se concentrar no desenvolvimento dos
perfis dos personagens, inúmeros detalhes do romance de James foram modificados
ou cortados ao mínimo possível para se entender o contexto como as festas e
recepções que escamoteiam a futilidade da aristocracia inglesa, o contraste
entre as culturas europeias e americanas e houve até mesmo a redução de espaço
para trabalhar a relação de Kate com sua família, em particular o conturbado
cotidiano com seu pai que é o ponto de partida para a mudança de vida almejada por
Kate. As mudanças, contudo, em nada desmerecem o filme ou diminuem o valor de
seu conteúdo. Ver e rever trabalhos como este deveria ser uma obrigatoriedade
para aqueles que desejam trabalhar com cinema. Produções de época podem
literalmente marcar época ou serem apenas um passatempo luxuoso, principalmente
quando a produção dedica muito mais atenção ao visual do que ao roteiro e
direção de atores. Não é o caso. Softley, que antes deste trabalho havia feito Os
Cinco Rapazes de Liverpool, se deu bem ao decidir trabalhar com uma história de
amor com pano de fundo histórico e achou o equilíbrio perfeito entre um roteiro
interessante e de certo modo perturbador com as tentações que são oferecidas
por um visual sofisticado e arrebatador. Curiosamente As Asas do Amor é
mais um título que acabou perdido pelo caminho na transição das fitas VHS para
o DVD, um produto que sem dúvida enriqueceria o catálogo de qualquer empresa.
Drama - 102 min - 1997
Nenhum comentário:
Postar um comentário