NOTA 7,0 Apesar do ritmo frenético, tramas paralelas e personagens cativantes, animação fica a dever a diversão e curiosidade prometidas em seu título |
Quem nunca imaginou o que deve
fazer seu bichinho de estimação quando ele está sozinho em casa? Será que ele
dorme o tempo todo? Fica admirando a paisagem pela janela? Ou na mesma posição
que fica quando seu dono se despede pela manhã permanece até a sua volta?
Explorar tal ideia é o argumento que sustenta Pets - A
Vida Secreta dos Bichos. Ou assim deveria ser. A publicidade do
filme vendia a fantasia de que na ausência de seus tutores por algumas horas os
animais curtiam baladas alucinantes e zoavam a torto e a direito com outros
vizinhos pets. Umas duas ou três cenas de fato traduzem este espírito
anárquico, mas o roteiro em si apresenta uma outra proposta explorando a
jornada de personagens reencontrando o caminho de casa, mas também aprendendo
como é a vida longe do conforto de seus lares. Max é um cãozinho com pedigree
acostumado aos paparicos de sua dona e que aproveita todas as regalias de seu
apartamento durante o dia enquanto ela sai para trabalhar. Quando ela volta ele
a enche de carinhos como retribuição, mas certa noite uma surpresa faz seu
mundo perfeito cair. Ela chega em casa acompanhada de Duke, um vira-lata peludo
e grandalhão com quem agora terá que aprender a dividir as atenções e seu
espaço físico. À primeira vista os cãezinhos já se estranham, não só pelo
ciúme, mas também pelo choque de personalidades, afinal um é extremamente
mimado e organizado enquanto o outro é espaçoso e desordeiro. Em uma das brigas
que travam eles acabam indo parar no meio da rua e passam a ser caçados não só
pelo controle de zoonoses como também por um bando de malvados felinos e por
uma gangue de animais rejeitados. A dupla então se mete em uma série de
aventuras enfrentando o trânsito caótico de Nova York, o submundo das
tubulações de esgoto e os perigos oferecidos pelas construções e monumentos da
cidade. E assim o filme se resume a muita ação e poucos conflitos. Os animais
correm de um lado para o outro, soltam piadinhas visuais ou em diálogos aqui e
ali, mas seus perfis são bastante limitados. Sabemos apenas o estritamente
necessário para diferenciar os mocinhos da turminha do mal, embora é bom
destacar a inversão de personalidade de alguns poucos personagens.
O fofinho e branquinho coelho Snowball,
por exemplo, é o líder dos bichos revoltados, embora a maioria deles não se
apresentem como ferozes predadores, pelo contrário, são até muito afáveis. O
objetivo desse grupo não é fazer mal a outros animais e sim lutar contra a
opressão humana. Na verdade tal revolução não é movida a ideais concretos a favor
da liberdade. Abandonados por seus donos, eles querem incentivar outros pets a
abraçar a vida nas ruas como uma forma de compensar suas frustrações. Contudo,
Max e Duke são relutantes à ideia.
Completando a trama ainda temos Gigi, a cadelinha aparentemente super
delicada e que é apaixonada por seu vizinho de raça e que lidera um grupo de
animais da vizinhança para colocar em prática um plano de resgate dos cachorros
perdidos. Entre a trupe está Tiberius, um falcão que precisa controlar seu
instinto em atacar pequenos animais em prol de uma boa ação, mas seu conflito
interno é rapidamente esquecido pelo roteiro, uma pena. Junto a Snowball, cujas
atitudes e vocabulário podem espantar em se tratando de um filme para crianças,
estes dois são os personagens com maior potencial da fábula, mas os roteiristas
parecem ter ficado receosos quanto a opinião do público e não exploraram seus
perfis diferenciados e torpes a fundo. Logo, ambos estão perfeitamente
inseridos na turminha do bem passando o bastão de vilões aos humanos que
desrespeitam a bicharada ou dirigem de forma imprudente, por exemplo.
Consequentemente o plot da zoo rebeldia acaba também ficando só na intenção.
Escrito a oito mãos por Cinco Paul, Ken Daurio, Brian Lynch e Simon Rich, fica
claro que o principal objetivo da fita é simplesmente cativar o público através
do carisma e fofura dos personagens. Para ajudar na identificação com quem
assiste somos apresentados a uma gama de pets. Além dos tradicionais cachorros
e gatos, temos uma tartaruga, um peixinho dourado, um papagaio, um lagarto e
por aí vai. Tem bicho para todos os gostos e estilos de donos.
Dirigido pela dupla Chris Renaud,
co-diretor de Meu Malvado Favorito e
sua continuação imediata, e pelo estreante em longas-metragens Yarrow Cheney,
esta animação no fundo é um emaranhado de situações que já vimos em outros
desenhos. O plot que intitula a fita já foi explorado em O Segredo dos Animais. A rivalidade entre os cães e depois a união
de seus amigos para resgatá-los de uma situação perigosa remete imediatamente
ao argumento de Toy Story. A
armadilha para se livrar de um rival que dá errado e proporciona ao mentor a
descoberta de um novo mundo repleto de perigos, mas também de coisas boas, é a
base do roteiro de Por Água Abaixo. Se
forçarmos a memória muitos outros exemplos surgirão. Até o clímax, com uma
perseguição envolvendo furgões, pontes e até os animais em meio a uma tromba
d'água possui uma incrível semelhança com o quase contemporâneo Procurando Dory. Os bichinhos acabam por
viver uma aventura padrão, com muito corre-corre, momentos de tensão
rapidamente solucionados, vilões caricatos e nem um gancho romântico é
descartado, mas a zoeira que se esperava pela publicidade do título fica só na
intenção. Toda a previsibilidade da trama, e também suas falhas, são
eficientemente escamoteadas por uma edição frenética, trilha sonora agitada e
muitas, mas muitas cores vivas. Se pararmos para pensar que pouco antes deste
lançamento a Disney trouxe o excelente Zootopia
- Essa Cidade é o Bicho, com animais vivenciando conflitos do universo dos
seres humanos em uma trama de investigação e repleta de críticas, fica difícil
oferecer a Pets - A Vida Secreta dos Bichos elogios
além de seu visual caprichado e cumprir a missão de divertir as crianças. O
estúdio Illumination Entertainment, a casa dos Minions e braço de animação da
gigante Universal Studios, tem se especializado em projetos escapistas com foco
na criançada, mas descarta subtextos mais inteligentes para fisgar os adultos.
Temos aqui uma básica mensagem a favor do amor e respeito aos animais, mas sem
aprofundamentos. Até a carrocinha que geralmente é encarada como um pesadelo aqui
não amedronta os cãezinhos, parecendo que os criadores evitaram ao máximo
qualquer tipo de questionamento que os filhos pudessem fazer aos pais, salvo um
rápido e tocante flashback a respeito do passado de Duke. Mesmo com falhas e
omissões, não se pode negar que a diversão em família está garantida e para
garantir o futuro do estúdio ainda temos uma descarada inserção publicitária da
animação seguinte da casa, Sing - Quem
Canta Seus Males Espanta.
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