Nota 5,5 Carisma e talento do protagonista segura as pontas em comédia que carece de clímax
O título certamente cairia como
uma luva para um filme estrelado por Adam Sandler ou alguém do seu estilo
fanfarrão, mas a alcunha O Idiota do Meu
Irmão não deve ser levado ao pé da letra. Trata-se de uma
comédia americana no melhor estilo independente, ou seja, acerca de personagens
cheios de defeitos e problemas e que a certa altura da vida se veem forçados a
reatar laços familiares, o típico tema desse tipo de produção. Ned (Paul Rudd)
é um rapaz que sempre levou a vida na flauta como popularmente se diz. Vivendo
do que ganha em uma barraquinha de orgânicos na feira, ele tira um extra
vendendo maconha por fora, mas se dá mal quando cai na armadilha de um policial
que mesmo fardado se faz passar por viciado. Desligado e ingênuo, o feirante
acaba sendo preso em flagrante, porém, com sua bondade extrema ele acaba
ajudando outros presos e tendo bom comportamento na cadeia, assim é liberado
alguns meses antes do previsto sob regime de liberdade condicional. Todavia, a
vida do lado de fora das grades não parou e sua namorada Janet (Kathryn Hahn)
já está vivendo com outro homem e ele acaba sendo acolhido pela irmã Liz (Emily
Mortimer), uma mãe de família neurótica que está sendo traída por Dylan (Steve
Coogan), seu marido que praticamente não lhe dá atenção. Entretanto, sua
companhia acaba trazendo alguns problemas de relacionamento para essa família e
que o obrigam a passar alguns dias com suas outras irmãs, a frustrada repórter
Miranda (Elizabeth Banks), que justamente agora ganha uma boa chance de
trabalho, e a lésbica não tão convicta Natalie (Zooey Deschanel), que anda
balançando quanto a seus reais sentimentos pela namorada Cindy (Rashida Jones).
Nas temporadas que passa na casa de cada uma delas Ned vai as enlouquecendo com
suas manias e atitudes sem noção ou pudor, principalmente seu costume de falar
absolutamente tudo que lhe passa pela cabeça sem filtrar informações.
Embora contrarie certa regra
básica de convívio social, a de que é preciso omitir algumas coisas para manter
o equilíbrio entre as relações, Ned com sua sinceridade avassaladora acaba
trazendo à tona questões que suas irmãs não conseguiam ou provavelmente faziam
questão de não enxergar. Todavia, ele não é um cara de má índole ou
encrenqueiro, muito pelo contrário. O roteiro dos estreantes Evgenia Peretz e
David Schisgall faz questão de assinalar a ingenuidade do protagonista desde a
introdução. O personagem é extremamente simpático e otimista, o tipo de amigo
que qualquer um gostaria de ter ao seu lado, mas em meio a conflitos familiares
com os quais não tem o menor traquejo não consegue controlar seus impulsos e
acaba metendo os pés pelas mãos e assim desencadeando uma série de conflitos. Quando
o clima fica tenso tenta dar o fora como uma criança assustada. Na realidade, o
rapaz lança um olhar diferenciado sobre assuntos banais e cotidianos, tem uma
visão simplificada sobre coisas que as pessoas costumam complicar com mentiras
e intrigas. Com direção de Jesse Peretz, do controverso O Ex-Namorada da Minha Mulher, infelizmente a fita padece do mesmo
problema que a maioria das produções de sua seara: ausência de clima. O Idiota do Meu Irmão coloca em cena diversos
conflitos, mas os resolve de maneira tão ligeira que jamais atingem algum tipo
de relevância. Graças ao carisma de Rudd, com peruca e figurinos que o tornam um
remanescente dos hippies em pleno século 21, o espectador acaba ficando do lado
de seu personagem que cultiva um lado politicamente correto como, por exemplo,
quando declina educadamente um convite para participar de um sexo a três
alegando não ser adepto desse tipo de experiência. É o ator que carrega o longa
nas costas, sendo que o gancho mais envolvente fica por conta de sua relação de
amor com seu cachorro Willie Nelson, não por acaso escolhido para ocupar os
minutos finais da produção.
Comédia - 90 min - 2011
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