quinta-feira, 26 de março de 2015

ALMAS REENCARNADAS

NOTA 2,0

Repetindo clichês e erros de
outras produções do gênero,
terror oriental faz rir com seus
equívocos visuais e narrativos
Embora não tenha sido muito longa, parece que a fase das refilmagens de fitas de horror orientais somou mais de uma década em evidência. Tal sensação se deve a grande quantidade e rapidez com que esses remakes foram despejados no mercado, com o agravante de que os próprios filmes originais e outros inéditos conseguiram seus espaços nos circuitos de exibição e em locadoras. Isso seria ótimo caso a maior parte destes títulos não possuíssem fórmulas tão idênticas, o que ajudou a esgotar o filão rapidamente. Ainda hoje existem alguns fãs fervorosos do terror oriental, embora em números bem reduzidos, mas tais produções estão mais escassas na praça restando aos curiosos e aficionados rever ou caçar títulos que não tenham tido grande repercussão quando lançados. Almas Reencarnadas pode ser uma opção para estes casos. Escrito e dirigido por Takashi Shimizu, o mesmo responsável pelas versões japonesa e americana de O Grito, é óbvio que ele não vê seus trabalhos e de seus conterrâneos da mesma forma que os ocidentais, ou seja, um subgênero do terror. Provavelmente para ele não há o menor sinal de humor em produtos do tipo que podem ter em terras orientais o mesmo peso que O Exorcista ou O Iluminado tem para nós do lado de cá. Sim, do outro lado do mundo terror é coisa séria e no filme em questão o diretor lançou mão até mesmo da metalinguagem para dar uma sustentação maior à narrativa que novamente aposta na velha ladainha da maldição deixada para os vivos que entrarem em contato com o universo daqueles que morreram em um momento de muita raiva. A trama gira em torno de um terrível massacre praticado em um hotel turístico. Na década de 1970, um professor universitário obcecado pelos estudos acerca dos mistérios da reencarnação é possuído inesperadamente pela loucura e inicia uma sequência de mortes que resulta em onze vítimas. Enquanto esfaqueia cada corpo com requintes de crueldade e o pânico toma conta daqueles que ainda estão vivos no local, o frio assassino filma todos os seus atos fazendo um registro macabro de toda aquela escabrosa situação. Exatos 35 anos se passam e para lembrar a tragédia o cineasta Matsumura (Kippei Shiina) decide transformar os relatos desta espantosa chacina em um filme apostando ao máximo no realismo.

O filme dentro do filme, truque que já pode ser considerado um clichê das produções de horror e suspense, é intitulado de “Memory” e será protagonizado pela desconhecida atriz Nagisa Sugiura (Yukka) que imagina que essa é sua grande oportunidade de se consolidar na carreira. Porém, mesmo antes do convite, ela já vinha sendo atormentada por estranhas visões de uma garotinha e sua medonha boneca. Não é preciso muito esforço para adivinhar que a tal menina é uma das vítimas do massacre, a própria filha do assassino e a última a falecer no hotel, e não coincidentemente a personagem destinada à Nagisa. E é claro que as visões tendem a ficar mais intensas e comuns quando a atriz vai com a equipe conhecer o local onde as trágicas mortes aconteceram e que agora servirão como locações do longa. Lembre-se, realismo é a palavra de ordem para o cineasta fictício, mas parece que o próprio Shimizu não almeja o mesmo em sua obra. A introdução é até interessante, mas quando prováveis almas penadas passa a reencarnar em novos corpos em busca de vingança o caldo entorna, podendo causar muito mais gargalhadas que sustos. Boa parte da ironia involuntária se deve justamente ao fato de o que deveria causar impacto já foi tão usado que neste caso já não surtia mais efeito. Câmera seguindo os personagens como se fosse a visão dos vultos, aparições de crianças clamando frases aparentemente desconexas e de arrepiar, uma gravação misteriosa que revela detalhes dos assassinatos assim como as lembranças de umas das poucas pessoas que sobreviveram ao episódio entre outros clichês acabam deixando a produção tediosa. Nem o arrepio na espinha básico provocado pela trilha sonora ou efeitos de som surte efeito. Embora de bons níveis, os recursos auditivos acabam antecipando o que está por vir, preparando o espírito do espectador, se bem que para quem já assistiu os principais títulos deste estilo de cinema não há muitas expectativas de se surpreender com alguma trucagem a esta altura do campeonato. Pela sinopse já é possível se antever o que está por vir, diga-se de passagem, algo que só deve animar os fanáticos pelo subgênero que gostam de se divertir com a previsibilidade tal qual uma criança curte rever centenas de vezes o mesmo desenho animado. O único ponto de interesse seria realmente o conceito de metalinguagem inserido. Filmes acerca da produção de obras cinematográficas que revisitam alguma história marcante, mal explicada ou inacabada do passado geralmente aguçam a curiosidade do público, mas o roteiro infelizmente, além de previsível, tem muitos furos, peca pela falta de ritmo e por vários momentos tende a confundir devido a uma história paralela que entrecorta incessantemente a principal, sendo aos poucos apenas em parte esclarecida. Cenários do passado e do presente e personagens mortos e vivos acabam sendo misturados graças a uma edição desconexa, principalmente no início. As vezes fica difícil distinguir se o que estamos acompanhando faz parte do longa fictício ou de seus bastidores que fazem jus a crença de que é preciso ter cuidado quando se lida com histórias do além.

Mesmo se não se soubesse que Shimizu é o responsável por esta obra, seria inevitável compará-la com O Grito e tantos outros produtos semelhantes. O trabalho que o projetou mundialmente não é nenhuma obra-prima e é bastante criticado, mas ninguém pode negar que ele provoca bons sustos, ao contrário do longa em questão cujos sobressaltos provocados podem ser contados com os dedos de uma mão e a maioria das situações propostas pode ruborizar certas pessoas devido a algumas derrapadas feias que não se restringem apenas ao roteiro mal formatado, mas também na concepção visual do longa. Além de não conseguir criar um clima adequado à proposta, o cineasta ainda perde muito com as aparições fantasmagóricas que deveriam ser o ponto alto de toda a produção. Maquiagem e efeitos especiais precários, dignos de produções caseiras, só colaboram para somar risos no resultado final, fora o fato de Shimizu simplesmente deixar sua imaginação falar mais alto e provavelmente nem ter tido a curiosidade em ler um artigo que fosse a respeito de espiritismo, assim não é de se espantar que uma mesma alma possa surgir em forma de espectro e logo em seguida já reencarnada em um corpo humano, ignorando assim qualquer “lei do outro mundo” que em geral só permite a reencarnação quando o espírito em questão está pronto e purificado, ainda mais neste caso em que as mortes não ocorreram em circunstâncias naturais. Para não dizer que o cineasta deveria passar uma temporada no inferno junto com seus espíritos engraçados, é digno de uma lembrança suas intenções em fazer uma possível homenagem ao já citado clássico O Iluminado. Sim, por incrível que pareça o diretor tenta reproduzir a claustrofobia e consequentemente o medo que parece estar contido em cada canto do desolador cenário da tragédia tal qual o saudoso Stanley Kubrick explorou o isolado hotel habitado por Jack Nicholson e sua pequena família. É bom deixar claro que tudo isso fica apenas no plano das intenções obviamente diante de todos os defeitos já expostos. Parte integrante do projeto intitulado “J-Horror Theather”, no qual seis longas de horror, cada qual de um cineasta diferente, seria produzido sob a batuta de Takashige Ichise, famoso no Oriente por contabilizar vários sucessos do gênero, Almas Reencarnadas no fundo é apenas mais um projeto descartável da então prolífica safra da turma dos olhinhos puxados que na verdade em cena aparecem muito mais esbugalhados. É inevitável a sensação de que você já viu esse filme em outras oportunidades e, provavelmente, eles deveriam ser bem melhores.

Terror - 95 min - 2005

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Um comentário:

Rafael W. disse...

Eu esperava uma joça, mas acabei vendo um filme mediano. Não é bom, mas me surpreendi com o resultado.

http://cinelupinha.blogspot.com/