Nota 4,0 Mais uma vez uma garota latina aspirante a estrela se decepciona com a vida nos EUA
Um dos temas mais corriqueiros nas produções com pegada latina é a
transformação de vida, o sonho que muitas pessoas alimentam de que a vida é bem
diferente em solo americano, mesmo com diversos exemplos que provam que nem
sempre tal realização se concretiza. Se o tema já é um tanto clichê imagine
então quando ele é usado para contar a história de uma jovem a la Cinderela.
Pois é investindo na previsibilidade e na variação do sonho da gata borralheira
em virar princesa que se sustenta a trama de A Cor do Perdão, dirigido
por Alfredo de Villa. O título é uma alusão a cor amarela, o significado do
nome da protagonista, Amaryllis (Roselyn Sánchez), uma jovem que vive em Porto
Rico e trabalha em uma pizzaria, mas seu real desejo é poder viver da arte da
dança tal qual seu pai. Franco (Jaime Tirelli) foi um bailarino de sucesso, mas
devido a um acidente acabou tendo a carreira interrompida e obrigado a viver
preso a uma cadeira de rodas. A situação precária da família acaba o levando a
se suicidar. Além do baque de perder repentinamente o pai, Amaryllis ainda se
decepciona com as condutas da mãe e do namorado posteriormente e assim decide
ir embora de casa e mudar de vida. Com a ajuda financeira de uma vizinha a
garota consegue partir rumo à Nova York a fim de entrar em uma companhia de
dança, mas ela se decepciona com o que encontra. Seu primo que poderia
abrigá-la sumiu no mundo, mas ainda assim ela é recebida pelo vizinho do rapaz,
Miles Emary (Bill Duke), um senhor de idade um tanto ranzinza, mas que levou
uma vida sofrida. Quanto ao emprego, ela procura qualquer trabalho que possa
sustentá-la durante o tempo que se dedicaria ao curso, mas o único lugar que
lhe oferece uma oportunidade é uma casa noturna onde ela poderá exercer seus
talentos para dança, mas terá que se sujeitar a nudez. A protagonista acaba
tendo o destino de muitas jovens que sonham com uma vida melhor na terra do tio
Sam, mas é previsível que coisas boas irão acontecer em seu caminho. O problema
é que elas acontecem simultaneamente e só uma poderá prevalecer.
Amaryllis acaba fazendo sucesso na boate e chama a atenção de um
frequentador assíduo do local, o Dr. Christian Kyle (D. B. Sweeney). Ele não
vai lá para fazer programa com as garotas, apenas costuma ir para se divertir e
esquecer as mágoas da vida. O encontro entre os dois acontece de modo inusitado
e, diga-se de passagem, a melhor cena de todo o longa tanto em termos visuais quanto
emocionais. A dançarina está fazendo uma performance dentro de uma vitrine de
vidro com o corpo todo pintado como se fosse a pele de um animal selvagem. A
água que começa a cair para lavar seu corpo e revelar suas intimidades, a
gritaria, os aplausos e os olhos maledicentes da clientela e o próprio
sentimento de culpa que carrega por estar se sujeitando a esse trabalho
manchando a memória profissional e afetiva que guarda de seu pai acabam se
transformando em uma raiva enlouquecedora que a fazem quebrar as paredes de
vidro e se ferir. Cuidada por Kyle, eles acabam se aproximando pela
identificação que sentem pelo histórico de vida um do outro e é justamente
quando esta paixão já está madura que Amaryllis finalmente recebe o convite
para participar de um musical. O amor ou a profissão? Qual o caminho a jovem
deve seguir para ser feliz? A história previsível roteirizada por Nacoma
Whobrey e pela própria protagonista (não é a toa que o filme parece um veículo
de promoção para a carreira da moça), carrega nos clichês e não é possível se
surpreender com absolutamente nada do que vai acontecer, a não ser pelo final
abrupto e sem graça que deve despertar o espectador para ralhar pelo fato de
ter perdido seu tempo com um trama folhetinesca das mais chinfrins. Miles é
inserido na trama como uma forma de dar um respiro à narrativa impregnada de
essência latina, afinal ele tem um conflito a ser resolvido de seu passado, mas
nem tal gancho colabora para dar uma turbinada no longa, sendo inclusive cenas
descartáveis no contexto geral. Mesmo sendo um trabalho irregular em termos
cinematográficos e sem grandes atrativos, há quem enxergue beleza em A Cor
do Perdão e para quem gosta de dança (e já não é mais criancinha) é
mais um título que pode interessar. Drama - 93 min - 2006

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