sábado, 7 de novembro de 2020

SEM CONEXÃO


Nota 5,0 Terror polonês busca se aproximar ao estilo hollywoodiano cercando-se de clichês

Um grupo de adolescentes é enviado pelos pais para participar de um acampamento de desintoxicação... de dispositivos eletrônicos! É isso mesmo. O vício em celulares, redes sociais games e internet parece estar se tornando algo tão preocupante quanto a dependência química, um estado que pode levar as pessoas a terem problemas de relacionamento, no trabalho, estudos e dificuldades para fazerem simples tarefas do cotidiano. Abordar tal temática seria um prato cheio para um drama reflexivo, mas trabalhado no campo do terror não espere aprofundamento de qualquer espécie. Sem Conexão parece um roteiro da década de 1980 que foi atualizado porcamente para, sem trocadilhos, buscar alguma conexão com novas gerações. Em um acampamento isolado vão parar Zosia (Julia Wieniawa-Narkiewicz), Julek (Michel Lupa), Aniela (Wiktoria Gasiewska), Bartek (Stanislaw Cywka) e Daniel (Sebastian Dela). Estranhou os nomes do elenco? Surpreendentemente esta é uma produção da Polônia, mas com toda pinta de filme trash made in Hollywood.

Sob a supervisão da inspetora Iza (Gabriela Muskala), logo na primeira noite o grupo já começa a ser vítima de uma estranha criatura e não por acaso os primeiros corpos dilacerados são de um casal bastante saliente. Um assassino em série atacando em um acampamento no meio do nada lembra o fio condutor da franquia Sexta-Feira 13. De fato, o longa polonês não nega a inspiração, mas também traz certas lembranças de O Massacre da Serra Elétrica e Viagem Maldita, por exemplo, já que a insanidade e as deformidades físicas caracterizam o vilão que a certa altura descobriremos serem na verdade dois. A razão de suas existências e modo de agirem é explicada em um flashback bastante questionável, algo a ver com uma dominação alienígena. Justificativas à parte, o que interessa é ver os monstrengos atacando e quanto mais bizarras forem as mortes dos personagens melhor, afinal, como de costume, não há ninguém com perfil interessante a ponto de torcermos por sua sobrevivência. Todavia, não espere muita violência explícita

Dirigido por Bartosz M. Kowalski, que assina o roteiro em parceria como Jan Kwiecinski e Mirella Zaradkiewicz, o filme custou uma ninharia e flerta com o amadorismo escancaradamente, embora tente copiar os slashers americanos à risca, ainda que cenas de carnificina sejam moderadas. Mesmo assim, a produção serve-se do maior número possível de clichês do gênero, a começar pelo grupo estereotipado. Entre as possíveis vítimas do massacre temos o jovem com pinta de inteligente, a garota traumatizada, o comilão desengonçado, o tagarela que sempre diz algo em momento inapropriado, a bonitona sensual e o fortinho metido a valentão. Acostumados a viverem fechados em seu mundinhos virtuais, tais personagens ironicamente sentem-se sufocados em meio a um ambiente amplo e aberto no qual tornam-se peças de um jogo de caça onde aparentemente não podem ter o controle como de costume. Não demora muito para a ameaça dar as caras, mas o diretor evita que o filme se resuma a uma sucessão de assassinatos. Entre uma morte e outra ele mantém o interesse desenvolvendo uma trama que nos deixa curiosos para entendermos se estamos acompanhando de fato uma obra de apelo nostálgico ou se seremos surpreendidos com um projeto a fim de mostrar que os trashs movies tem espaço no cinema contemporâneo.

Por se tratar de uma produção de um país sem tradição no gênero, a coragem em oferecer algo fora dos padrões da cinematografia local acaba transformando positivamente o excesso de clichês que aparentemente não são usados com displicência. A opção pode ser encarada como demonstração de humildade e reverência ao histórico dos slashers e trashs movies. De fato, o trabalho de Kowalski demonstra o carinho de um admirador, de alguém que cresceu assistindo aos famosos assassinos mascarados americanos e toda a tropa de filmes similares que surgiram, incluindo as variações com vilões que sofreram mutações. O  longa escancara seu teor metalinguístico com os adolescentes não só citando outras produções como também relembram algumas convenções do gênero que se aplicam à situação que vivenciam, como transar é morte na certa e se separarem para buscarem ajuda é dar sopa para o azar. E é claro que não importa o quanto as vítimas corram é certo que os vilões mesmo a passos vagarosos as encontrarão.

Simplório em sua concepção e nada mais que um divertimento ligeiro para jovens e amantes de fitas slashers, Sem Conexão não renega nem o final com uma ponta solta para uma possível continuação. Por sua remota origem, o acesso à produção certamente só se deve a necessidade dos serviços de streaming, no caso a Netflix que importou tal pérola trash, em abastecer seus catálogos tal qual as videolocadoras também faziam preenchendo suas prateleiras como fitas de distribuidoras obscuras que garimpavam mundo afora obras descartadas pelo mercado. Todavia, neste caso quem arriscar pode ter uma agradável surpresa encontrando uma produção divertida e bem realizada dentro de sua proposta nonsense até certo ponto, mas que pode guardar uma mensagem sobre a preservação da natureza. As criaturas estavam quietas escondidas na floresta até então aparentemente intocável. Foram os humanos que invadiram o local e despertaram os instintos primitivos dos habitantes. Ok, é muita informação para um filme que inevitavelmente deve ser lembrado com asco ou deboche por conta de seus vilões deformados à base de maquiagem de látex.

Terror - 102 min - 2020

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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