Nota 4,5 A possibilidade de mudar os rumos da vida é desperdiçada em comédia sem graça
O diretor Jon Tuteltaub é famoso por transformar argumentos interessantes em produções muitas vezes idiotas e assim o fez mais uma vez com Duas Vidas. Adicionou tanto açúcar que acabou tendo um efeito contrário. Até a estratégica trilha sonora cheia de rompantes de emoção (reiterando o que já vemos em imagens) ajuda a melar tudo ainda mais. A comédia não faz rir, no máximo arranca um sorrisinho amarelo vez ou outra, mas não se pode jogar toda culpa para cima do cineasta, afinal trata-se de um legítimo produto Disney, ou seja, censura livre, com cenas lacrimejantes, humor rasteiro e fantasia sobrepondo-se a realidade. A premissa absurda nunca é justificada, mas nada que prejudique o longa que é levado apoiando-se na química cativante entre Willis e Breslin, cujos personagens carregam especificamente a frustração e o sonho em ser um piloto de avião. O veterano não deixa a peteca cair com seu timing para humor, mas tem que engolir a redenção de seu personagem que ao invés de emocionar chega a constranger de tão piegas. Do argumento também não se podia esperar muito já que foi reciclado trocentas vezes. Culturalmente nos EUA a chegada da temida meia-idade, na faixa dos 40 aos 50 anos, marca uma espécie de rito de passagem para os homens. Teoricamente, seria uma fase de pleno vigor físico e amadurecimento emocional e intelectual, assim para alguns um momento de renascimento, a chance de dar novos rumos a suas vidas, enquanto para outros soa como motivo de amargura por conta de planos não concretizados e ausência de expectativas para o futuro. Em outras palavras, resgata um conflito bastante comum na juventude, a aceitação social em grupos que se dividem entre vencedores e perdedores, populares versus isolados, descolados contra nerds. Vendo por esse prisma, o roteiro poderia render muito mais e ainda assim oferecer um produto que atingisse as crianças e interessasse aos adultos. Tuteltaub acabou fazendo um filme que não diverte e nem comove plenamente nenhuma faixa etária, sempre fica aquela sensação de que faltou algo. Até uma exploração maior da profissão do protagonista seria benéfica ao longa por levantar uma crítica a respeito da importância da imagem física e financeira nos tempos atuais em detrimento ao ser verdadeiro.
Comédia - 104 min - 2000
-->
Nenhum comentário:
Postar um comentário