sexta-feira, 17 de julho de 2015

MILAGRE NA CABANA

NOTA 7,0

Embora rotulada como produção
religiosa por suas origens, drama
cativa com uma história universal
de amor, esperança e solidariedade
Para muita gente quando se fala em cinema cristão, evangélico ou qualquer um ligado a um culto religioso, logo vem à cabeça a ideia de figuras bíblicas, como os famosos filmes sobre os apóstolos de Jesus Cristo. Também facilmente nos lembramos de produções que tem o intuito de convencer quem assiste a cultuar algum tipo de religião com o intuito de conseguir a salvação ou melhorias de vida. O preconceito de boa parte do público tem fundamento, afinal hoje em dia a religião ganhou contornos de empresa, necessitando das colaborações financeiras dos fieis, das vendas de músicas gospel e dos aluguéis de espaços na televisão e rádio. Deixando esses bastidores polêmicos de lado, o fato é que nos últimos anos tem chegado com mais facilidade ao mercado produções com belas lições de vida e moral que escamoteiam o teor religioso de seus enredos e são vendidas em embalagens de luxo e com títulos carismáticos sendo praticamente impossível rotulá-las como produtos de cunho religioso. O mercado está tão animado com os resultados desse nicho que muitas distribuidoras multinacionais estão investindo pesado na importação de obras do gênero e até empresas especializadas exclusivamente no ramo já foram criadas. Desafiando os Gigantes, A Virada e À Prova de Fogo são alguns exemplos de fitas que se tornaram uma febre entre cristãos e evangélicos que trataram de fazer a propaganda popular e logo esses filmes passaram a ser alguns dos mais procurados para venda, locação e download (não chegam a ser exibidos em cinemas). O filão é bem rentável é até mesmo  quem não se interessa por religião acaba se sentindo instigado a conferir tais recomendações. O segredo para tanto sucesso é trazer a tona mensagens reconfortantes e bonitas, passando levemente pelo intenção de impor a dedicação à religiosidade como algo necessário para vivermos em paz e com felicidade. Milagre na Cabana é mais um prova que o cinema de cunho religioso está cada vez mais maduro e se tornando universal.

A trama escrita por Joe Slowensky gira em torno de duas irmãs, Wanda (Patricia Heaton) e Sarah (Meredith Baxter), que nunca se entenderam muito bem e há vários anos estavam afastadas. O reencontro acontece forçosamente por causa do falecimento da mãe e agora elas estão se desentendendo por causa da repartição da herança. Sarah teria direito a apenas uma pequena lembrança afetiva, mas quer a todo custo ser responsável por um terreno que não consta no testamento. As irmãs visitam a propriedade e descobrem que existe uma idosa vivendo em uma cabana nas terras que de fato pertenciam à falecida. Lilly (DellaReese) é uma senhora que oscila entre momentos de lucidez e outros de insensatez, mas nem suas condições de vida precárias são o bastante para amolecer o coração da ambiciosa Sarah que quer vender a propriedade mesmo sem a concordância da irmã. O apreço de Wanda pela velhinha aumenta quando sua sobrinha Gina (Anna Chlumsky) faz amizade com a idosa e consegue informações preciosas sobre o passado de sua família. Com o convívio como uma pessoa vivida e cheias de experiências, essas mulheres têm a chance de transformar suas vidas com os conselhos e lembranças da velha senhora que, mesmo passando por muitas dificuldades e estando à beira da morte, não perde as esperanças de rever seu filho que lhe tiraram quando ele ainda era apenas um bebê. Por esta sinopse nem dá para perceber as origens religiosas da produção. Simplesmente é uma bela história que traz uma mensagem edificante e necessária ligada aos conceitos de compreensão, solidariedade e amor ao próximo, lições que nunca são demais e em tempos de tanto egoísmo caem como uma luva. O longa deveria ser obrigatório para muita gente, mesmo sendo um drama rasgado e narrado em tom novelesco.

O enredo mostra-se eficiente, emocionante e consegue envolver o escpetador facilmente, independente de suas crenças. Mesclando a época atual (lembrando que é uma produção datada de 1997) com alguns flashbacks de décadas passadas para explicar o drama da senhora Lilly e sua relação com a proprietária do terreno recém-falecida, o filme passa despercebido pelo rótulo de religioso e os desavisados nem devem notar tal fato. Aos já cientes, claro que é preciso de livrar de certos preconceitos para apreciar esse tipo de produção, caso contrário, fatalmente ficará procurando defeitos e deixará de apreciar a simplicidade e beleza da obra. Esqueça a ideia de que irá assistir a uma fita que quer convencê-lo a procurar a igreja ou tempo mais próximo para conseguir a salvação de seus problemas. As mensagens passadas são de amor, união, solidariedade e esperança, ensinamentos que todos podemos adquirir e colocar em prática sem a necessidade frequentar um lugar específico para rezar ou se dedicar à caridade. Claro que aos mais críticos esta obra é totalmente dispensável e piegas. O diretor Arthur Allan Seidelman assume tal risco, pois não fez um filme para ganhar prêmios e sim um trabalho de olho na satisfação popular. Clichê e lacrimoso ao extremo, Milagre na Cabana mira em um público que procura emoções fáceis e conquista uma grande quantidade de espectadores que não eram exatamente o alvo. Tanto na estética quanto na condução da trama, passando pela edição e interpretações, tudo aqui é muito próximo ao que se espera, por exemplo, de um feito para a TV ou os chamados de suporte, aqueles que antes eram lançados exclusivamente para abastecer as videolocadoras e hoje compõem os catálogos dos sistemas de streaming. Aliás, muita produção de gabarito não chega a apresentar o mesmo nível de qualidade de produção. Seidelman trabalhou bem o material que tinha em mãos e construiu um drama que cumpre bem seus objetivos, uma excelente pedida ao menos para extinguir a ideia de "religião à delivery" e dar um voto de confiança a esse tipo de cinema que tem muito futuro. Ao menos plateia cativa já existe e promete só aumentar.

Drama - 90 min - 1997

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Um comentário:

Cristiano Contreiras disse...

Nunca tinha ouvido falar, a premissa, pelo que me parece, é interessante. Ótimo blog, sempre! abs