domingo, 26 de julho de 2015

INVERNO DESPEDAÇADO

Nota 8,0 Drama mostra as dificuldades de um casal para superar a perda repentina da única filha

A cena inicial em que um homem assiste a queda de uma árvore e a fuga assustada de um corvo, símbolo da morte, já anuncia o que vem por aí. A gélida e triste paisagem das terras europeias sem glamour algum no caso de Inverno Despedaçado não serve apenas como cenário, mas também é um ingrediente importantíssimo para a narrativa, pois realça o espírito dos protagonistas, um casal que em pouco tempo acabou congelando suas vidas, porém, um simples tremor pode tratar de quebrar esse gelo e trazer consequências tanto positivas quanto negativas, mas o certo é que no final das contas dificilmente ela ou ele poderá dizer que é plenamente feliz. O roteiro de Pierre-Pascal Rossi narra o drama vivido pelos fazendeiros Jean (Aurélien Recoing) e Laure (Marie Matheron) que há poucos meses perderam a filha de apenas cinco anos em um incêndio. O casal ainda não se adaptou ao vazio que ficou em casa e precisam urgentemente descobrir um novo sentido na vida. A paisagem fria e triste do rigoroso inverno europeu só aumenta a sensação de impotência de Laure, que está abatida, fechada em suas lembranças e apresentando comportamento com rompantes de loucura. O marido também está com dificuldades para seguir sua vida normalmente, até porque ele se sente culpado pelo acidente com a filha devido as más instalações elétricas de sua casa que provocaram o infortúnio, mas chega a um ponto de estresse no qual não poderia também arcar com a loucura da esposa em silêncio. Laure é internada em uma clínica psiquiátrica a contragosto da irmã Valérie (Nathalie Boulin) que não gosta de seu cunhado e aos poucos passa a fazer intrigas a respeito dos sentimentos de Jean em relação a esposa. Enquanto isso, esse homem amargurado decide vender a propriedade da família, muda-se para o antigo restaurante que tinham e larga o trabalho no campo para se dedicar a uma atividade com salário fixo em uma usina. É justamente nesse novo ambiente que Jean encontra esperanças para dar novos rumos a sua trajetória quando conhece Labinota (Gabriela Muskala), uma imigrante polonesa que trabalha no refeitório da empresa. A relação entre eles, apesar de benéfica, pode significar o fim da união de Jean e Laure.

Co-produzido entre a Bélgica, Polônia e a Suíça, este é um drama sério, emocionante e de temática universal afinal a perda de um ente querido é sempre uma dor que só o tempo pode curar, mas não basta a velocidade do relógio, é preciso que as pessoas que estão lidando com tal conflito também se ajudem e busquem forças para superar as tristezas. Laure entregou os pontos, a ajuda da irmã revelou-se egoísta e quando percebeu que estava prestes a perder o marido poderia ser tarde demais para salvar o casamento. Já Jean mostrou-se razoavelmente mais forte para superar a perda, mas também contou com o auxílio de Labinota e seu irmão Kastriot (Blerim Gjoci) que também guardam em seu passado memórias tristes. Porém, ao mesmo tempo em que encontra razões para recomeçar, ele também não se sente completamente a vontade em iniciar um novo relacionamento tendo que abandonar a esposa em um momento em que ela não está em seu juízo perfeito, seria uma traição muito mais grave. É bem interessante o viés trabalhado pelo cineasta polaco Greg Zglinsky utilizando o contraponto da vida de um casal para mostrar paralelamente a entrega ao abandono total e a busca por novas perspectivas. Como já é tradição em dramas intimistas europeus, os atores estão excelentes e expressam com olhares todo sentimento de dor e vazio que carregam. Além disso, a grande proeza deste trabalho é investir nas relações humanas e em pequenos detalhes que fazem a diferença, como o fato de não se acender o fogo durante a temporada de inverno como se esse fosse mais um elemento a explicitar a tristeza dos personagens e a completa imersão deles neste estado inerte de espírito. A valorização dos olhares e silêncios também são tradições do cinema europeu, com a diferença que neste caso os planos mais curtos, mas ainda assim contemplativos, tem preferência assim como o cineasta privilegia a imagem do protagonista masculino diante das dificuldades e da chance de redenção. Inverno Despedaçado é uma obra emotiva e reflexiva, relativamente curta, mas na medida certa para expor ao expectador a imagem do homem sensível, mas ainda assim viril e tentando se manter em pé.

Drama - 88 min - 2004

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