quarta-feira, 18 de novembro de 2015

À PROCURA DA FELICIDADE

NOTA 7,5

Assumidamente piegas e
feito para levar o público às
lágrimas, drama surpreende,
muito por conta de Will Smith
No Natal, na Páscoa, no Dia das Crianças ou no inverno. Em datas festivas ou em períodos críticos do ano é muito comum que pessoas sozinhas ou em grupos se dediquem à caridade, seja colaborando com dinheiro, produtos alimentícios, roupas ou simplesmente doando seu tempo fazendo companhia a algum idoso necessitado ou brincando com uma criança que vive em um orfanato.  Tudo isso é maravilhoso e nos faz acreditar que o mundo ainda tem conserto graças a pessoas como essas de bom coração. Porém, não é apenas em datas estratégicas que nosso espírito solidário deve ser aflorado. Sempre é tempo de estender a mão ao próximo e ajudá-lo no que for preciso e o cinema está repleto de belas histórias de solidariedade e perseverança. À Procura da Felicidade é um filme que nos faz sentir vontade de fazer o bem e acreditar que o futuro pode ser melhor, mesmo diante das dificuldades do presente. Repleto de clichês, o longa é praticamente um conto de fadas moderno, mas sem princesas ou bruxas. Aqui vemos um homem comum tentando sobreviver em uma sociedade canibalista em que cada dia é preciso vencer uma batalha para garantir o próprio sustento. E olha que a história se passa na década de 1980, detalhe que acaba passando despercebido já que o mundo em que o protagonista vive basicamente continua o mesmo até hoje ou está até pior. A única diferença é que atualmente temos muito mais bugigangas tecnológicas para ampliarem o abismo da desigualdade social. Enquanto alguns se preocupam em dormir em uma fila para garantir uma das primeiras unidades do celular mais bombado do momento, outras tantas pessoas ficam dias e dias de plantão em portas de hospitais ou de instituições de caridade em busca de necessidades básicas para qualquer ser humano. Essa realidade não é só de nós brasileiros, mas se estende pelos quatro cantos do mundo, inclusive atingindo os americanos. Mas voltando a falar do filme, por ser baseado em uma história real vitoriosa, embora com alguns fatos tristes ampliados, a dramaticidade extrema do texto acaba se revelando como um atrativo para os espectadores, mas nada que se compare ao chamariz da produção ser protagonizada por um dos atores mais populares de Hollywood, Will Smith, merecidamente indicado a vários prêmios, incluindo o Oscar, pelo papel de um homem que ultrapassa os limites do fundo do poço para conseguir sobreviver ao lado da filho à selva de pedra que é a cidade grande.

O enredo nos apresenta a sofredora batalha de Chris Gardner (Smith) para enfrentar sérios problemas financeiros. Tudo começa quando ele adquire alguns aparelhos de scanners de medição de densidade óssea que revolucionariam a medicina visando revendê-los, mas os altos preços deles inviabilizavam a comercialização. Apesar de tentar todas as maneiras possíveis para manter sua família unida, sua esposa Linda (Thandie Newton, em participação relâmpago) se irrita com a falta de perspectivas para seu futuro e decide partir, mas sem levar junto o único filho do casal, o pequeno Christopher (Jaden Smith). Gardner então decide usar suas habilidades como vendedor para conseguir refazer sua vida ao lado do garoto e consegue um emprego em uma empresa corretora de ações que não oferece salário, porém, ao fim do estágio há chances de ser contratado. O problema é que ele não tem renda suficiente para se manter durante este período de escassez financeira, assim não demora muito e pai e filho acabam sendo despejados. A partir de então o longa apresenta uma sucessão de dificuldades que a dupla irá enfrentar, como dormir em um banheiro público, mas sem nunca deixar a tristeza tomar conta de suas vidas. Assim, é reforçada a ideia de que se você deseja muito a realização de um sonho, o potencial para tanto está dentro de si mesmo, depende de sua determinação realizá-lo. Smith, muito a vontade em filmes de ação e comédias, mostra que está ganhando intimidade com as produções dramáticas e se entrega totalmente a seu papel. Abandonado pela esposa, sem dinheiro, sujo e sofrendo os mais diversos constrangimentos, desde um acidente na rua no qual perde um pé de seu único par de sapatos até enfrentar uma longa fila para conseguir uma vaga em um abrigo para ter onde passar a noite, o ator atingiu uma interpretação digna e soube alternar os momentos de tristeza extrema com os que precisa provar sua coragem e determinação para não desencorajar o filho. Como é dito na autobiografia em que o longa se baseia, existem dois tipos de homens: aqueles que olham para um monte de estrume e só enxergam ali merda e aqueles que sabem que ali existe uma boa quantia de fertilizantes. O protagonista faz parte do segundo time e identificou nas dificuldades a chance de poder subir na vida, ao mesmo tempo em que pode servir de exemplo ao filho, uma interpretação muito sincera e surpreendente da revelação Jaden Smith. Aliás, a empatia imediata e longínqua entre o público e esta obra deve-se muito ao fato curioso de pai e filho na vida real repetirem o parentesco na ficção. A inocência e o otimismo do garoto caminham lado a lado ao espírito empreendedor e confiante do adulto.

O diretor italiano Gabriele Muccino, de O Último Beijo, fez sua estréia em Hollywood com um projeto seguro e sem inovações. Sabemos pelo título que as coisas vão acabar bem, mas o cineasta capricha nas situações que castigam seu protagonista. Tanta falta de sorte pode até conferir um ar de improvável em certas sequências. Vale ressaltar como algo positivo o fato do tema racismo ter sido limado da história roteirizada por Steven Conrad. Em momento algum a cor da pele do pai de família é usada para mostrar preconceito ou como um motivo a mais para se sentir penalizado. Foi bom não ter inserido tal discussão no roteiro. Poderia ser um argumento mal desenvolvido e obviamente muito desprezo para uma pessoa só além de tudo de ruim que já passava, ainda que muitos digam que as situações de pobreza que o protagonista enfrenta não são nada perto do que milhares de pessoas passam no mundo todo. Mas não se pode encarar este trabalho a ferro e fogo. Temos que respeitar a liberdade poética e criadora dos responsáveis e focar a atenção nas dificuldades daquele perfil de personagem, afinal de contas a infelicidade não se manifesta somente onde a miséria está. Até o mais rico dos homens tem seus momentos penosos.  Não atrapalha em nada o fato deste trabalho ser totalmente esquemático para levar facilmente o espectador às lágrimas, incluindo a parte técnica como closes fechados em expressões entristecidas e uso da trilha sonora imponente em momentos importantes ou de ternura. Ao que tudo indica são essas melosas cenas justamente o que o público-alvo da fita deseja. À Procura da Felicidade não tem vergonha de assumir seu rótulo de piegas, afinal de contas foi produzido para ser como tal e reafirmar que filme bom deve mesmo mexer intensamente com o emocional de quem vê. A emoção também deve transbordar dos protagonistas. Eles conseguem deixar qualquer um com nó na garganta aparentemente sem fazer muitos esforços. O amor entre eles é totalmente perceptível e passa da ficção para a realidade com a ajuda de um ótimo texto, sentimentos que nem o 3D ou a mais revolucionária tecnologia do mundo poderiam transmitir. Em resumo, aqui está uma bela lição de vida que todos deveriam acompanhar principalmente aqueles que, grosseiramente falando, reclamam de barriga cheia.

Drama - 117 min - 2006 

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Um comentário:

Anônimo disse...

Já assisti esse filme, é lindo, e traz uma mensagem encantadora para o nosso cotidiano. Acho que todos deveriam assisti-lo e pegar a sua essência e levá-lo para o seu cotidiano.