segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SEGUNDA CHANCE PARA O AMOR

NOTA 7,0

Edward Burns realiza um
bom trabalho atrás e
 na frente das câmeras em
romance sobre reencontros
Edward Burns é um profissional ainda subestimado. É um bom intérprete, mas não tem um nome forte no cinema capaz de chamar a atenção de milhares de espectadores, porém, também não colhe críticas negativas. Por outro lado, não raramente seus trabalhos acabam passando em brancas nuvens. É uma pena que sua trajetória como diretor de filmes, iniciada em 1995 com o agradável Os Irmãos McMullen, também tenha uma visibilidade tão pequena, embora a resposta provavelmente esteja nas escolhas dos seus projetos, geralmente produções simplórias e de tom mais intimista, mas que valorizam elenco, personagens e, principalmente, uma boa história, ou seja, tudo aquilo que é desperdiçado por muitos cineastas renomados hoje em dia. É até possível dizer que a filmografia de Burns como diretor tem certas semelhanças à do cultuado Woody Allen. Ambos gostam de filmar em cenários nova-iorquinos, costumam atuar nos longas que dirigem e preferem escrever seus próprios roteiros que flertam com o drama, o romance e a comédia leve. Todavia, Burns ainda está longe de ser considerado um cineasta completamente virtuoso ou de talento indiscutível. Mesmo assim ele não faz feio em Segunda Chance Sobre o Amor, produção na qual, para variar ele atua, dirige e escreve. Ele deu sequência a seu estilo próprio de fazer cinema que consiste em reciclar clichês e não surpreender o espectador, porém, características que em nada desmerecem seu trabalho, pelo contrário, só contribuem para acrescentar credibilidade e naturalidade. Mesmo sendo uma produção independente e de baixo orçamento, Burns conseguiu reunir um elenco talentoso de sua geração e ousou levemente ao escrever uma história sobre modernos intelectuais, pessoas que desejam viver da sua arte, no caso a escrita, mas que esbarram em dificuldades comuns do campo de trabalho como a escassez de oportunidades e as dificuldades em lidar com o baixo nível intelectual dos leitores contemporâneos (algo que pode ser positivo ou negativo dependendo do estilo literário do escritor). Em rápidos e inteligentes diálogos são feitas citações aos comportamentos de quem costuma ler, desde os aficionados por literatura fantasiosa, passando por aqueles que não admitem variações de estilo até chegar à indagação se no final de um dia de trabalho uma pessoa não tem o direito de ler algo leve apenas por distração. Embora trate tal assunto com seriedade, o roteiro não o explora a fundo, afinal a intenção era realizar uma comédia romântica, mas com certo apelo intelectual e mais calcada no drama. A discussão sobre o amor é constante nos filmes dirigidos por Burns e aqui ele lança a questão se seria possível dar uma segunda chance para um relacionamento terminado há muitos anos.

A narrativa mantém seu foco em cima de quatro personagens principais, mais precisamente dois casais que o tempo afastou. Brian Callahan (Patrick Wilson) é um escritor de grande sucesso. Escreveu seis livros policiais protagonizados pelo detetive fictício Frank Knight que rapidamente se tornaram best-sellers, foram adaptados para o cinema e assim ele ganhou muito dinheiro, mas não satisfação pessoal. Agora ele quer investir em outro tipo de literatura, obras mais sérias, porém, ele terá de enfrentar a rejeição do público e as críticas duras da crítica especializada. Em meio a esta decepção, Callahan ainda enfrentará problemas e surpresas de ordem pessoal. Ele está namorando há alguns meses uma garota mais jovem, Bernie (Elizabeth Reaser), mas não tem os mesmo gostos e sonhos dela, está com ela apenas para não ficar sozinho. Coincidentemente, a esta altura da vida, ele reencontra uma ex-namorada, Patti Petalson (Selma Blair), também escritora, mas que está há anos sem publicar nada. Ela no momento está casada com Chazz (Donal Logue), mas embora goste do marido as pequenas discussões e deslizes do dia-a-dia atrapalham o relacionamento. Patti e Callahan se reencontram por acaso em um restaurante quando ela estava acompanhada da amiga Kate Scott (Debra Messing) e ele do amigo inseparável, o advogado Michael Murphy (Edward Burns), mas tal situação acabou sendo constrangedora. Kate na época da faculdade foi muito apaixonada por Murphy, mas por ele ser muito namorador e ter tido problemas com bebidas acabou brigando feio e ela não faz questão alguma de esconder a raiva que sente dele. Dessa noite em diante, os quatro protagonistas passarão a se esbarrar por aí com muita freqüência. Patti, por falta de opção, está trabalhando como corretora de imóveis e em uma de suas visitas a apartamentos encontra Murphy que está a procura de um. Ele dispensa seu corretor, requisita os serviços de Patti, mas com segundas intenções. Restabelecer a amizade dos tempos da faculdade era a oportunidade perfeita para aproximar a moça de Callahan e ela, por sua vez, fazer a ponte para que o advogado conseguisse pedir desculpas para o grande amor da sua vida, Kate, e assim eles pudessem voltar a namorar.

Esta ciranda amorosa tem um de seus melhores momentos ainda na primeira parte do longa quando os personagens se encontram no restaurante. Mulheres em uma mesa, homens em outra, comentários positivos e negativos dos dois lados. É nesta sequência que de forma natural ficamos sabendo mais sobre o histórico destas pessoas e nos tornamos íntimas delas e de seus universos. Sempre reclamamos dos títulos nacionais, mas neste caso é preciso concordar que a escolha caiu como uma luva. E mais, para quem tiver a capacidade de decodificar mensagens, o conteúdo de Segunda Chance Para o Amor serve também para nos lembrar que sempre é possível tentar ser feliz, conquistar um sonho entre outras coisas em diversas áreas , mesmo após um primeiro fracasso. Este é o típico filme que só sobrevive por intermédio dos comentários boca-a-boca. Chegou com dois anos de atraso ao Brasil, não teve campanha de marketing, sua narrativa leve não reserva momentos arrebatadores, mas mesmo assim é uma produção muito melhor que tantas outras badaladas e com elenco estrelar. Se Burns e Debra aparecem apagadinhos é pelo fato que esperávamos mais de seus personagens ou porque Wilson e Selma agarraram esta oportunidade com unhas e dentes. Não é sempre que o roteiro de uma comédia romântica mais séria está disponível, mas talvez seja justamente a falta de açúcar da narrativa que impeça até hoje de muitas pessoas curtirem esta agradável produção que acerta também em seus aspectos técnicos com uma edição tranquila, mas sem fazer a narrativa cair na enrolação, bela fotografia, iluminação perfeitamente natural e trilha sonora suave. Definitivamente, Burns mais uma vez prova que tem muito talento na frente e atrás das câmeras. Como uma constante em seus filmes, aqui ele também deixa no ar a mensagem de que a simplicidade é que trás felicidade, como fica registrado no bucolismo da cena final, um lema que ele próprio segue. Provavelmente ele não sonha em receber prêmios ou fazer fortunas com suas atuações e projetos como diretor. Basta conseguir realizar seu trabalho da melhor maneira possível que sua satisfação é plenamente garantida. Vale lembrar que aqui ele faz praticamente um “subprotagonista”, sendo que o conflito de seu personagem é quase jogado para segundo plano, porém, é de aplaudir sua humildade em deixar outro colega brilhar no papel principal enquanto ele tenta mostrar um lado cômico que raramente expressa em um papel menor, mas nem por isso menos chamativo.  

Romance - 109 min - 2007 

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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