Nota 3,0 Abordando o mundo dos gângsteres, longa não dialoga com crianças e nem com adultos
Na Irlanda, ou melhor, na New
Orleans da agitada e revolucionária década de 1930, o submundo do crime está
efervescente. Um gângster todo poderoso que chefia uma casa de jogos
clandestina na cidade quer se livrar a todo custo de seu terrível ex-sócio.
Para isso lhe prepara um ajuste final: remete o rival para as portas do céu. O
argumento aponta para um filme sério e violento, digno de uma produção estilo
noir, isso se os personagens não fossem cãezinhos coloridos e falantes. Todos os Cães Merecem o Céu parte de uma
premissa ousada, transpondo um universo adulto e cinzento tentando buscar a
sintonia com o público infantil através de uma paleta de cores fortes e vívidas
e de animaizinhos simpático. O roteiro de Mitchel Savage nos apresenta ao
pastor alemão Charlie Barkin que acaba sendo traído e assassinado pelo
inescrupuloso bulldog Cicatriz, até então seu sócio em negócios ilegais. Quando
chega ao céu seu espírito consegue tomar posse do relógio da vida, um artefato
mágico que lhe dá o direito de voltar ao mundo dos vivos e assim ter a chance
de se vingar. Nesse retorno ele acaba descobrindo a arma secreta para o
enriquecimento ilícito e contínuo de seu algoz. O bandidão mantém em cativeiro
a graciosa orfãzinha Ana Maria que tem a habilidade e a sensibilidade para
conversar com os animais, assim Cicatriz consegue saber antecipadamente os
vencedores dos páreos de corridas de cavalos, ratos e até de tartarugas.
Inicialmente o malandro Charlie também pretendia tirar proveito de alguma forma
do dom especial da garotinha, mas acaba se afeiçoando a ela e decidindo
protegê-la. E assim os dois, com a ajuda
do bassê Sarnento, procuram uma maneira de dar uma merecida lição em cicatriz e
acabar com seu império de crimes.
O diretor Don Bluth então já fora
um garoto prodígio dos estúdios Disney e ex-pupilo de Steven Spielberg, este
que produziu seus dois primeiros longas animados, A Ratinha Valente e Fievel,
Um Conto Americano. É dele também a assinatura de Em Busca do Vale Encantado que assim como seus desenhos anteriores
não fizeram boa carreira nos cinemas, mas se tornaram grandes sucessos nas
videolocadoras, uma opção a escassez dos produtos da casa do Mickey Mouse que
na época chegavam ao mercado em conta-gotas e com prazo para serem recolhidos
das prateleiras para posterior relançamento. Entretanto, para uma produção que
na época pretendia peitar a gigante Disney que ressurgia das cinzas triunfante
com A Pequena Sereia o resultado soa
bastante pobre, até incômodo. Com Todos os Cães
Merecem o Céu não foi diferente, porém, isso não significa que a
fita encontrou seu público. A união entre conto policial de época com o
universo da fantasia infantil não deu certo. Metralhadoras, jogatinas,
traições, assassinatos, diabos e um anti-herói que morre duas vezes causam
impacto negativo e acabam distanciando o espectador da trama. Fica clara a
inspiração, ou melhor dizendo, mais evidente ainda a vontade de surfar na onda
do sucesso de Uma Cilada Para Roger Rabbit.
Contudo, a pretensão de fazer um desenho adulto, mas que também dialogasse
com as crianças, acaba sendo executada sem charme, encantamento e
principalmente clareza de ideias. Acalentado ao longo de dois anos, este foi o
primeiro lançamento do estúdio independente chefiado por Bluth e deixa clara
sua vontade de realizar seus projetos com bem entendesse, sem intervenções de
terceiros. O resultado infelizmente é uma animação intrincada demais e que
entedia o público de todas as idades.
Animação - 85 min - 1989
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