sexta-feira, 19 de maio de 2017

OS CROODS

NOTA 8,0

Abordando assuntos atuais tendo
como pano de fundo a idade da pedra,
animação tem ritmo frenético e boas
piadas, mas no fim se rende às tradições
Desde que Toy Story foi lançado tornou-se uma obsessão dos estúdios realizar animações com tecnologia de ponta e narrativas que agradassem não só as crianças, mas também aos adultos, estes que as vezes parecem ser o verdadeiro público-alvo de algumas fitas. Não basta mais apenas fazer a alegria dos filhos. Virou regra que os pais fiquem tão ou mais satisfeitos que os pequenos com o programa-família. Os Croods cumpre bem a tarefa de agradar a todas as idades contando uma história divertida e cujo subtexto debocha de assuntos sempre atuais, como a alienação e o medo. A grande sacada é tratar de assuntos contemporâneos e de fácil identificação tendo a idade da pedra como ambientação. Gru é o patriarca da família do titulo, um dos poucos grupos que sobreviveram as mudanças físicas e climáticas do planeta escondendo-se literalmente do mundo. Rude e avesso a novidades, ele acredita que a única maneira de manter seus parentes em segurança é alimentando seus medos, assim praticamente tudo é motivo para se meterem em qualquer buraco para se esconderem, principalmente a noite que com os possíveis perigos que carrega soa como um presságio de morte para o brucutu. Contudo, por mais que fosse cauteloso, ele não tinha o poder de parar o tempo, as coisas mudam constantemente e sua filha mais velha Eep já começava a apresentar sinais de rebeldia típicos de adolescentes afoitos para explorar novos horizontes. Com essa relação conflituosa estabelecida, a animação é calcada no processo de descobertas e adaptação dos Croods há uma nova realidade, tudo mediado por um jovem chamado Guy que se junto ao grupo trazendo conhecimentos do outro lado do mundo, como o conhecimento de lidar com o fogo. Física e emocionalmente mais evoluído que o tal clã, além de ser bem mais racional, o rapaz logo chama a atenção de Eep, mas seu estilo moderninho de ser e de viver bate imediatamente de frente com o jeitão super protetor e antiquado de Gru, este que mesmo sendo um boçal sempre fora respeitado como alguém sábio e com espírito de liderança. Perder tal papel para ele era inadmissível, tampouco dividir as atenções, ainda mais para o paquera da filhota.

Escrito e dirigido pela dupla Chris Sanders e Kirk DeMicco, respectivamente de Como Treinar o Seu Dragão e Space Chimps - Micos no Espaço, o desenho tem a intenção de apresentar de forma bem humorada a decadência do homem primitivo e o nascimento do homem moderno não economizando no ritmo frenético ou nas gags visuais, muitas delas explorando o jeito arisco da pequenina Sandy, a caçula dos Croods, ou o perfil lesado de Thunk, o filho do meio. Há ainda as piadas envolvendo a vovó da família fazendo graça com as pirações típicas da idade. A ansiedade por fazer o espectador rir a todo o momento e também para manter a adrenalina sempre em alta acaba por fazer com que o roteiro sofra alguns tropeços. Os perfis dos personagens não são desenvolvidos além das características estritamente necessárias e as aventuras que vivenciam são praticamente ininterruptas e tendem a embolar. Contudo, o foco no trio principal e o discurso a favor do que é novo não se perdem, o que sempre reforça a maneira truculenta de agir e pensar de Gru, algo também explicitado em seu físico grandalhão atrelado a hábitos grosseiros, caminhar pesado e postura arqueada. O chefão desta família lembra muito a imagem do ogro Shrek, não por acaso também uma criação do estúdio Dreamworks que ao longo dos anos ironicamente não tem privilegiado as novidades e sim reciclado uma mesma fórmula. Basicamente suas produções são calcadas em protagonistas desajustados obrigados a enfrentar desafios e conhecer pessoas que os forçam a aceitar uma nova realidade. A temática facilita na inserção de momentos cômicos visto que são inevitáveis as tentativas mal sucedidas e as caras e bocas de personagens interagindo com novas realidades e descobrindo artefatos. E é claro que não falta um bichinho carismático e fofinho para fazer graça, no caso um bicho preguiça ligeiramente astuto e que não raramente parece mais inteligente que Gru. Ainda assim, um dos momentos mais divertidos é quando o paizão quer mostrar sua criatividade e decide criar utensílios para impressionar a família e causar inveja em Guy. Só para completar sobre os perfis, vale destacar que Eep foge totalmente do estereótipo estético e comportamental de uma mocinha, uma imagem forte e condizente com alguém com espírito libertador e contestador, ainda que não seja uma novidade. Com seus cabelos vermelhos e desgrenhados e rosto arredondado, sua imagem remete de imediato a protagonista de Valente, da Disney, lançado pouco tempo antes.

Visualmente o filme não foge à regra das animações de sua época. Multicolorido e com cenários elaborados, tudo é meticulosamente pensado para destacar efeitos tridimensionais, mas felizmente os desenhistas não deixaram a criatividade de lado e criaram uma visão própria do que seria um planeta selvagem e passando por mudanças bruscas. Entre densas florestas com flora exuberante e outras áreas praticamente desérticas, cenários ricos em detalhes e nos quais é possível até sentir a textura dos elementos, surgem aves com características de piranhas, um tigre com enormes dentes que lembram as presas de elefantes e até uma baleia pode viver tranquilamente fora da água camuflada como uma enorme pedra. Pela lógica científica, tais criaturas sofreram mutações para se adaptarem a um novo ambiente, mas não tardariam a sofrer extinção. Os Croods querem fugir justamente deste triste destino e Guy surge como o grande herói, aliando coragem e racionalidade, mas isso não seria o bastante se mesmo à força não unisse forças à Gru que contribui com o peso emocional e sua intuição para equilibrar as coisas durante a viagem rumo a uma terra desconhecida, mas com a esperança de lá poderem criar raízes. Contudo, a turminha das cavernas jamais seria a mesma. Se adaptar às novidades é inevitável, mas o grande desafio é não abrir mão dos valores e conceitos que construíram suas personalidades, justamente o que Guy e Gru aprendem trocando experiências, mesmo que aos trancos e barrancos. E com um final feliz devidamente engatilhado, é uma pena que Os Croods não vá ao fundo com a mensagem de seu argumento e opte por entregar uma conclusão extremamente tradicionalista. Próximo do fim é descartada a oportunidade de ousar adicionando um momento mais pesado abordando a temática da morte, gancho que se trabalhado com sensibilidade não causaria traumas, como Bambi e O Rei Leão já comprovaram. No entanto, os criadores preferiram optar pela batida mensagem que apesar das diferenças o amor de uma família é incondicional e sempre há espaço para amigos no grupo, tudo coroado com festa e distribuição de abraços. Para uma produção cujos primeiros minutos apresenta uma inteligente sequência utilizando pinturas rupestres nas paredes para apresentar os personagens e o conflito principal, o final é simplório demais.

Animação - 98 min - 2013

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